Donald Trump: políticos, diplomáticos e grupos de pressão têm feito esforços (Carlos Barria/Reuters)
AFP
Publicado em 28 de abril de 2017 às 13h51.
Canadá e México tiveram algum alívio em sua difícil relação comercial com os Estados Unidos depois que o presidente Donald Trump moderou sua ameaça de romper com o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).
Conversas telefônicas entre os líderes dos três países abriram na noite de quarta-feira o caminho para uma renegociação do tratado quando horas antes acreditava-se que os Estados Unidos se desvincularia.
O chanceler do México, Luis Videgaray, disse nesta quinta-feira que a ruptura "foi uma possibilidade real".
"Temos confirmado que é algo que se estava considerando", mas a decisão não estava tomada, afirmou a mexicana Radio Fórmula.
Trump disse que o presidente do México, Enrique Peña Nieto, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, o chamaram para renegociar e não derrogar o Nafta.
"Me chamaram e me disseram: em vez de acabar com o Nafta, você poderia por favor renegociá-lo?", disse Trump nesta quinta-feira após uma cerimônia na Casa Branca.
O presidente lembrou que na campanha prometeu renegociar ou romper o tratado e acrescentou: "Em vez de terminar com o Nafta, o que causaria um grande choque ao sistema, o renegociaremos".
Políticos, diplomáticos e grupos de pressão têm feito esforços.
Após uma primeira ligação a Trump na terça-feira para defender a madeira canadiense taxada por Washington, Trudeau voltou a telefonar para a Casa Branca.
"Tivemos uma nova boa conversa e, consequentemente, (Trump) disse que pensava em anular" esse acordo", disse Trudeau nesta quinta-feira.
Peña Nieto e Trudeau conversaram por telefone na tarde desta quinta-feira, e "concordaram que existe uma oportunidade de se obter uma atualização positiva para os três países signatários" do Nafta.
Os dois líderes acertaram "manter um estreito contato" durante o processo de renegociação, revelou um comunicado da presidência mexicana.
O Nafta está vigente desde 1994, mas foi em 2008 que todas as tarifas chegaram ao fim entre os sócios, com exceção de quase todos os lácteos e da madeira canadense para construção.
Após os primeiros embates de Trump contra o acordo, Trudeau se disse aberto a renegociá-lo.
Durante uma visita a Washington, Trudeau defendeu o livre comércio com seus dois parceiros e lembrou que para os exportadores americanos, o Canadá é seu principal mercado.
Para Trump, que quer priorizar o emprego dos americanos, acabar com o acordo com uma canetada não agradaria vários sectores exportadores como el de automóveis e alimentos agrícolas.
Trudeau disse ter dito a Trump que o Nafta permitiu gerar muitos empregos e empresas.
Trump afirma que deixaria o Nafta a contra-gosto, porque diz ter "respeito" pelos dois países e que "aprecia muito" Trudeau e Peña Nieto.
A cada minuto, mais de um milhão de dólares em mercadorias são comercializadas entre Canadá e Estados Unidos.
"México e Canadá estão entre nossos mais importantes mercados de exportação", disseram produtores de cereais dos Estados Unidos que se declararam "em comoção e inquietos" por colocarem o Nafta em risco.
Contra os Estados Unidos, o "Canadá tem prejuízos próprios e é hora que Trudeau defenda nossos interesses", estimou Maude Barlow, presidente do Conselho dos Canadenses, um centro de reflexão de esquerda.
Os sucessivos ataques contra o Canadá perturbam os empresários desse país. As tarifas alfandegárias impostas na terça-feira à madeira canadense assim como o alívio fiscal apresentado na quarta-feira às empresas dos Estados Unidos, preocuparam o Canadá.
"A administração de Trump não só limita o acesso canadense ao mercado americano, como também lhe dá mais meio a suas empresas" para ser competitivas nos mercados internacionais, disse Perrin Beatty, presidente da Câmara de Comércio do Canadá.
Renegociar o Nafta é um mal menor para Trump e os Estados Unidos.
Sua denúncia desataria "uma reviravolta no Congresso, teria parado a atividade de empresas devido à relação entre as redes de abastecimento, teria castigado a economia e, finalmente, teria desatado uma onda de processos" judiciais, estimou Angelo Katsoras, economista do banco Nationale do Canadá.