Economia

Calma do governador de Buenos Aires com credores destoa da fase ministro

Axel Kicillof, aliado de Cristina Kirchner e seu ex-ministro, virou governador e não mostrou, em negociações com investidores, sua notória impetuosidade

Axel Kicillof, hoje governador de Buenos Aires, durante a campanha (Sarah Pabst/Bloomberg)

Axel Kicillof, hoje governador de Buenos Aires, durante a campanha (Sarah Pabst/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 17 de janeiro de 2020 às 07h00.

Quando Axel Kicillof, o recém-empossado governador de Buenos Aires, entrou em cena na terça-feira para se dirigir aos ansiosos credores estrangeiros da província, não demonstrou nenhum traço do impetuoso e volátil antagonismo que o transformou em ídolo em alguns círculos na Argentina.

Claro, ele ainda exibia sua marca registrada, as costeletas ao estilo Elvis Presley e colarinho da camisa aberto, mas desapareceram os insultos e os murros na mesa que acompanharam muitas de suas interações públicas com investidores estrangeiros durante sua passagem como ministro da Economia do governo federal anos atrás.

E, embora tenha transmitido uma mensagem difícil aos detentores de títulos - aceitar nossa oferta de adiar um pagamento do principal de US$ 250 milhões com vencimento em 26 de janeiro ou arriscar uma situação “desordenada” -, Kicillof mostrou contenção, mantendo a calma e a diplomacia.

Agora, quando decidem se aceitam a proposta, os investidores ficam imaginando se este é um novo Kicillof, um político mais maduro que deixou para trás alguns de seus traços mais combativos para trabalhar por um plano justo e sustentável para a reestruturação que, todos concordam, é inevitável neste momento.

O impasse entre Kicillof e investidores tornou-se a salva inicial do que quase certamente será a renegociação da dívida argentina mais ampla este ano, com um governo nacional sem dinheiro em lenta preparação para iniciar suas próprias conversas com credores.

“Ele é o governador agora e tem muito mais a perder”, disse Alberto Bernal, estrategista-chefe da XP Investments em Miami, que acompanha a carreira de Kicillof desde que ganhou destaque como vice-ministro da Economia em 2012. “O caminho lógico nessas conversas é o do diálogo.”

Kicillof apareceu pela primeira vez no radar dos investidores há sete anos, quando liderou o plano do governo federal para desapropriar a empresa de petróleo YPF SA.

Mais notavelmente para credores de títulos, em 2014 ele era o ministro da Economia da então presidente Cristina Kirchner quando o governo desafiou uma decisão do tribunal dos EUA que determinou o pagamento de bilhões de dólares devidos a hedge funds liderados pelo bilionário Paul Singer, mergulhando o país em seu segundo default em 13 anos.

Desde então, Kicillof mantém um relacionamento próximo com Kirchner, tornando-se um dos aliados mais importantes da vice-presidente, alvo de crítica dos investidores.

Agora, recém-eleito líder da província mais populosa da Argentina, Kicillof pede que os credores de títulos estrangeiros de Buenos Aires, no valor US$ 500 milhões e com vencimento em 2021, concordem em mudar os prazos dos papéis para que o atraso no pagamento não constitua um default. Ele não está oferecendo nenhuma compensação, mas insiste que uma pausa permitirá tempo para uma reestruturação mais abrangente.

Para Joaquín Almeyra, um operador de renda fixa da Bulltick, em Miami, é arriscado demais apostar em uma abordagem amigável de Kicillof.

“Esta proposta da província de Buenos Aires cheira a engano”, disse Almeyra, que faz negociações com as províncias argentinas, mas não toca na dívida de Buenos Aires, dado o risco de Kicillof cumprir sua ameaça e não realizar o pagamento. “Não faz sentido um default de uma quantia tão pequena. A situação é grave, mas um default seria muito mais caro.”

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