Economia

Cálculo da inflação incluirá apps de transporte e streaming em 2020

Mudança no cálculo do IPCA faz grupo dos Transportes superar, pela primeira vez, o peso do grupo Alimentação

Uber: IPCA passa a captar o transporte por aplicativo, que não constava na lista e estreia com peso de 0,21% na nova ponderação (Germano Lüders/Exame)

Uber: IPCA passa a captar o transporte por aplicativo, que não constava na lista e estreia com peso de 0,21% na nova ponderação (Germano Lüders/Exame)

R

Reuters

Publicado em 11 de outubro de 2019 às 14h30.

Última atualização em 11 de outubro de 2019 às 14h46.

São Paulo — Avanços tecnológicos, envelhecimento populacional e até a opção por alimentos prontos influenciaram as mudanças na destinação do orçamento das famílias brasileiras nos últimos anos, alterando assim a cesta de produtos pesquisados na inflação oficial do País.

A partir de janeiro de 2020, saem do cálculo o aparelho de DVD, assinatura de jornal e máquina fotográfica. Ao mesmo tempo, entram bacalhau, vinho e picanha, além de aplicativos de transporte, como Uber, e serviços de streaming.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira, 11, a nova ponderação que servirá como base para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no ano que vem. A primeira divulgação sob a nova ponderação será em fevereiro de 2020, referente a janeiro.

As mudanças levam em consideração os pesos referentes à Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008/2009, mais especificamente do mês de janeiro de 2009, com as contribuições atualizadas para a ponderação referente a janeiro de 2018, tendo como base as despesas monetárias das famílias captadas pela POF de 2017/2018.

A inflação passa a investigar 377 subitens, ante uma lista atual de 383. No total, o IPCA terá 56 novos subitens. Ou seja, 62 itens foram substituídos ou retirados da lista.

"Assinatura de jornal perdeu relevância no orçamento, mas não é que tenha diminuído o número de assinaturas, elas podem ter sido substituídas por pacotes de assinaturas digitais, que são mais baratas", exemplificou Pedro Kislanov, analista do Sistema de Índices de Preços do IBGE.

O IPCA também passa a trazer macarrão instantâneo (com peso de 0,03%), polpa de fruta congelada (0,01%), papinha infantil em conserva, além de conserto de bicicleta e medicamentos neurológicos e antidiabético. No caso de transporte por aplicativo, que passa a integrar a lista, conta tanto o serviço de veículos particulares, como Uber, quanto o de táxis, como o 99 Táxi.

O cálculo desses serviços não existia e estreia com peso de 0,21% na nova ponderação. A integração transporte público estreia com 0,07%.

"O conserto de bicicleta é uma coisa que a gente não tinha antes indica que as pessoas estão usando cada vez mais a bicicleta, talvez como lazer", notou Kislanov. "Com o envelhecimento populacional e a tendência de aumento de doenças crônicas, (o IPCA) manteve todos os farmacêuticos anteriores e ainda entraram esses aí", completou.

O pesquisador lembra que, entre os novos subitens pesquisados, alguns já integravam subgrupos, mas ganharam importância, motivando a desagregação. É o caso do vinho consumido dentro de casa e fora de casa, que passam a ser medidos de forma separada de outras bebidas alcoólicas. Ou então passaram a integrar a lista, como a picanha, que não figurava entre as carnes investigadas.

Transportes torna-se maior grupo

O grupo Transportes superou a Alimentação e vai se tornar o principal componente da inflação oficial brasileira a partir de janeiro de 2020, de acordo com o IBGE.

Os Transportes vão passar a responder por 20,8% do índice, deixando Alimentação e bebidas com um peso de aproximadamente 19%.

Apesar disso, houve redução na representação de ambos os grupos, que era de 22,08% no caso de Alimentação e de 21,95% para Transportes.

"Produtos e serviços de alta tecnologia, consumo prático, vida saudável e estética, além dos gastos com 'pets' são algumas das tendências de consumo que contribuíram para alterar a cesta de produtos das famílias", explicou o IBGE em nota.

Top 10

A tarifa de ônibus urbano e a conta de telefone fixo deixaram o top 10 de itens com mais peso na inflação oficial do país, enquanto o gasto com emplacamento e licença e com condomínio passaram a figurar entre as despesas mais pesadas.

O peso do ônibus urbano no IPCA passou de 2,5773% para 1,3020% na nova ponderação. A tarifa de telefone fixo, que pesava 1,7423% e era o décimo gasto mais importante no IPCA, agora virou plano de telefonia fixa, com contribuição de apenas 0,2852%.

O custo do emplacamento e licença estreia no ranking de dez maiores contribuição para a inflação com participação de 2,3287%, enquanto o condomínio aumenta sua importância para 2,2747%.

A gasolina assumiu a liderança como maior despesa, saindo de 4,2988% para 5,0794%. Em segundo lugar ficou a energia elétrica, que subiu de 3,5580% para 3,9594%. O terceiro subitem de maior peso é o aluguel residencial, que aumentou sua contribuição de 3,3734% para 3,8532% na nova ponderação.

O peso da refeição fora de casa passa de 4,1638% para 3,7647%, enquanto o plano de saúde sai de 2,8978% para 3,6279%. O empregado doméstico aumenta de 3,0331% para 3,1019%. O automóvel novo sai de 4,4020% para 3,1019%, e automóvel usado passa de 2,2965% para 2,1124%.

O peso do subgrupo veículo próprio no IPCA passa de 12,0323% para 11,6634% na nova ponderação. Ao mesmo tempo, o subgrupo transporte público no IPCA reduz de 4,50% para 3,16%.

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraIBGEInflaçãoIPCA

Mais de Economia

Lula se reúne com ministros nesta quinta e deve fechar pacote de corte de gastos

Equipe econômica acompanha formação de governo Trump para medir impactos concretos no Brasil

Pacote de corte de gastos ainda está em negociação, afirma Lula

Copom eleva Selic em 0,5 pp, para 11,25% ao ano, e sinaliza novas altas de juros