Os bancos parecem decididos a aplacar a febre de fundos indexados à inflação, que em poucos meses de existência atraíram investimento de mais de 6 bilhões de reais. Na semana passada, ABN Amro, Caixa e Citi fecharam para novas aplicações os fundos que buscam seguir a variação do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M). "A procura era muito alta", diz Marcelo Bonini, diretor de ativos de terceiros da Caixa. "Tomamos uma providência para proteger nossos investidores."

A decisão atingiu os fundos ABN Amro Índices, Caixa Capital e Citi Price Mix. O fundo da Caixa é o maior do Brasil na modalidade, com patrimônio de 2,7 bilhões de reais. Criado em agosto passado, é também o mais velho entre os que tiveram a comercialização suspensa. O do ABN Amro, com patrimônio de 46 milhões de reais, foi iniciado em outubro, e o do Citi, com menos de 100 milhões de reais, tem um mês de vida.

Os atuais cotistas não devem ser afetados. Eles terão seus rendimentos calculados da mesma forma que antes e poderão sacar seu dinheiro quando quiserem. A única diferença é que, por enquanto, não será permitido o ingresso de dinheiro novo.

Os três fundos não foram os primeiros a serem fechados nos últimos dias. Desde outubro, pelo menos quatro outros tiveram o mesmo destino: Safra Index (patrimônio de 175 milhões de reais), Sudameris IGP-M (137 milhões de reais), Citi Price IGP-M (100 milhões de reais) e BBA Patrimônio (53 milhões de reais). Como mais um sinal da febre, todos eles foram criados nos últimos três meses.

O motivo alegado pelos administradores de recursos é o mesmo: o excesso de procura por esse tipo de investimento amplia os riscos da aplicação. O objetivo dos fundos é perseguir a variação do IGP-M em prazos mais longos. Em curto prazo, porém, suas cotas podem ficar acima ou abaixo do índice, pelo mesmo fator que causou a turbulência nos fundos DI no início do ano: o ajuste diário dos preços dos papéis em carteira ao valor de negociação do momento, a famigerada marcação a mercado. O comportamento é semelhante ao dos fundos cambiais.

O lastro dos fundos IGP-M compõe-se basicamente de títulos do governo federal, que garantem, além da correção monetária, uma taxa de juros. Hoje em dia eles estão em alta, devido à grande procura. Mas se por algum motivo os investidores que entraram no fundo resolverem sair, os administradores terão de vender papéis, o que faria seu preço cair. Com a desvalorização do papel, a cota também cairia. Por esse motivo, a aplicação só é recomendada para quem tem tempo de esperar, não para os investidores que buscam ganhos imediatos. "O fundo IGP-M é importante na diversificação do investimento de médio e longo prazo", diz Roberto Apelfeld, diretor da Citigroup Asset Management. "Em curto prazo, o retorno pode ficar abaixo do índice e até negativo."

Veja a lista dos fundos fechados para novas aplicações:

Fundos IGP-M fechados para aplicação
	BANCO	FUNDO	APLICAÇÃO MÍNIMA (R$)	PATRIMÔNIO (R$)	DATA DE INÍCIO	QUANDO FECHOU
1	ABN Amro	ABN Amro Índices	100 000	46 milhões	out/02	Dezembro
2	BBA	BBA Patrimônio	10 000	53 milhões	set/02	Outubro
3	Caixa	Caixa Capital	1 000	2,7 bilhões	ago/02	Dezembro
4	Citi	Citi Price IGP-M	10 000	100 milhões	out/02	Novembro
5	Citi	Citi Price Mix	10 000	100 milhões	nov/02	Dezembro
6	Sudameris	Sudameris IGP-M	10 000	137 milhões	out/02	Outubro
7	Safra	Safra Index	10 000	175 milhões	set/02	Outubro
Fonte: Empresas

O fechamento de alguns fundos não quer dizer que o investidor que procura proteger-se da inflação tenha ficado sem alternativas. Outros bancos continuam oferecendo o investimento, embora às vezes com regras mais restritas de aplicação (teto mais abaixo) e de saque (prazo maior de resgate). O banco Safra, por exemplo, fechou o Index e abriu o Index 30. As diferenças: a taxa de administração subiu de 0,5% ao ano para 1,5% ao ano, e o prazo de resgate passou a ser de 30 dias. Ou seja, o investidor pede para sacar hoje e só vê o dinheiro daqui a um mês, pela cota da data de recebimento. E isso não é tudo. "A qualquer momento, podemos fechar o fundo para movimentação", diz Luciane Ribeiro Perez, diretora da empresa de administração de recursos do banco. "O objetivo é proteger os investidores que já estão lá."

O BankBoston, que tem o segundo maior fundo IGP-M do mercado, com 1,5 bilhão de reais de patrimônio, foi outro banco que não fechou as portas para novos investidores. Em vez disso, buscou a proteção contra solavancos pulverizando a base de clientes. Vem restringindo gradualmente o teto de aplicação em seu fundo de varejo. Em agosto, o limite máximo era de 5 milhões de reais. Em outubro, 3 milhões. Em novembro, 1,5 milhão. Duas semanas atrás, baixou para 350 000 reais. "Vamos monitorando o mercado", diz Mauricio DAmico, diretor de produtos de investimento do BankBoston. "A perspectiva é baixar o teto ainda mais."

No WestLB e no HSBC, a restrição é a suspensão de negócios três dias úteis antes da divulgação do IGP-M pela Fundação Getulio Vargas. "O índice de dezembro sai dia 26", diz Mário Carvalho, diretor de investimento do WestLB. "Ficaremos fechados para aplicação e resgate dias 20, 23 e 24." O HSBC vai tomar uma providência adicional. Vai fechar seus dois fundos para captação e abrir outro, com prazo de resgate de cinco dias úteis em vez de um dia. "Teremos prazo maior para vender papéis sem provocar impacto sobre os investidores que ficam", diz Marcos de Callis, diretor de investimentos do banco.

Veja a seguir a lista dos fundos IGP-M abertos para aplicação de pessoa física:

Fundos IGP-M abertos para aplicação
	BANCO	FUNDO	APLICAÇÃO MÍNIMA (R$)	TAXA DE ADMINISTRAÇÃO	PATRIMÔNIO (R$)	DATA DE INÍCIO
1	BankBoston	Inflation Index	1 000	2%	1,5 bilhão	fev/00
2	Fator	Plural Index	2 500	1%	3,5 milhões	out/02
3	HSBC	HSBC Aquisição	100 000	1%	570 milhões	out/02
4	HSBC	HSBC IGP	10 000	1,50%		out/02
5	JP Morgan	JP Morgan Price	10 000	0,80%	213 milhões	out/02
6	WestLB	WestLB Fix Inflation IGP-M	5 000	0,50%	120 milhões	abr/00
7	Credit Lyonnais FAC	Lyonnais Indexation IGPM	50 000	1%	21 milhões	out/02
8	Safra	Safra Index 30	10 000	1,50%	118 milhões	nov/02
9	BNP	BNP Paribas Inflação M	100 000	0,80%	132 milhões	out/02
Fonte: Empresas