Economia

Cabeça, cabeça dinossauro

Como Matar a Borboleta-Azul — Uma Crônica da Era Dilma Autora: Monica de Bolle. Editora: Intrínseca. Páginas: 273 ——- Livros escritos por economistas costumam ser áridos para o público leigo. Como Matar a Borboleta-Azul, de Monica de Bolle, que começa a chegar às livrarias em outubro, foi escrito com a intenção de ser uma exceção a […]

A EX-PRESIDENTE DILMA COM O ENTÃO MINISTRO GUIDO MANTEGA: os defensores da mão forte do Estado na economia / Pedro Ladeira/Folhapress

A EX-PRESIDENTE DILMA COM O ENTÃO MINISTRO GUIDO MANTEGA: os defensores da mão forte do Estado na economia / Pedro Ladeira/Folhapress

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Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2016 às 09h29.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h17.

Como Matar a Borboleta-Azul — Uma Crônica da Era Dilma
Autora: Monica de Bolle.
Editora: Intrínseca. Páginas: 273

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Livros escritos por economistas costumam ser áridos para o público leigo. Como Matar a Borboleta-Azul, de Monica de Bolle, que começa a chegar às livrarias em outubro, foi escrito com a intenção de ser uma exceção a essa regra. O esforço já fica claro no título. A referência à borboleta-azul é uma tentativa de explicar como supostas boas intenções podem ter consequências indesejáveis. Nos anos 70, o governo britânico combateu a proliferação de coelhos no sul da Inglaterra inoculando um vírus nos animais. Com a morte dos coelhos, a grama cresceu, e as formigas tiveram mais dificuldade para se alimentar. Ocorre que essa formiga carregava os ovos das borboletas-azuis que dá título ao livro e cuidava das larvas até que se tornassem lagartas adultas. Resultado: o governo acabou provocando o desaparecimento da borboleta. Como o livro explica, os anos Dilma foram pródigos em casos de supostas boas intenções que tiveram resultados desastrosos. Monica não esquece de perguntar se os brasileiros aprenderam com os erros. Leia um trecho a seguir:    

Não há meio-termo, tampouco conciliação. No Brasil pós-Lula, no Brasil quase pós-PT, no Brasil de hoje, ou se é uma coisa ou outra. Desenvolvimentista ou neoliberal? O sujeito liberal não pode gostar de desenvolvimento. Ele é o rico, o representante da elite, o rentista. Já o desenvolvimentista é aquele que sabe do que não gosta, mas não entende muito bem aquilo que defende de modo apaixonado. O cérebro do desenvolvimentista é peculiar, inflacionista. Exemplos neurolinguísticos reveladores das características do cérebro desenvolvimentista abundam na imprensa brasileira. O córtex, área responsável pelo pensamento e pela ação, é comandado por reflexões que remetem obsessivamente às profundezas insondáveis da Nova Matriz Econômica, aquela que nos trouxe à situação calamitosa que atualmente atravessamos.

O corpo caloso do cérebro desenvolvimentista é composto de um tipo de complexidade peculiar. As estruturas que conectam os dois hemisférios — a lógica, de um lado, e a criatividade, de outro — são incapazes de conectar salários que crescem acima da produtividade com a inflação galopante que assola o país. Termos como ‘inflação de custos’ proliferam entre aqueles que se denominam defensores do crescimento, inimigos dos neoliberais, que querem… Bem, eles não sabem articular o que os ignóbeis neoliberais querem. Sabem apenas acusá-los de serem contra o povo, a favor dos bancos. Inflação de custos é uma expressão para lá de enganosa. Vamos aos fatos. Se os custos sobem pressionando os preços, é porque em algum lugar a demanda cresce acima da capacidade de oferta. Às vezes, a demanda cresce acima da oferta, mas o governo não deixa o mercado se ajustar, represando os preços. Tal atitude desarranja o balanço das empresas e o papel dos preços como sinalizadores de abundância e escassez. No final, sempre leva a uma situa-ção insustentável. Mais dia, menos dia, os tais custos têm de ser corrigidos, levando à escalada inflacionária. O cérebro desenvolvimentista, entretanto, não faz essa conexão.

O sistema límbico, a parte mais primitiva do cérebro, responsável pelas emoções, reage de modo visceral no cérebro desenvolvimentista. Incandesce quando processa palavras como ‘capitalismo’, ‘mercado’, ‘expectativas’. Acalma-se apenas quando o tronco encefálico pulsa com os axônios do ‘endividar-se para crescer’ e do ‘expandir o crédito público para impulsionar o investimento’. Não conecta essas ideias com a alta de preços a elas associada. Vá lá que muitos cérebros desenvolvimentistas tenham se formado depois da longa travessia, a verdadeira travessia: a do combate inflacionário. Mas fica a pergunta: é razoável que economistas de boa formação abandonem os preceitos básicos de sua profissão para apregoar o indefensável? O cérebro humano exibe plasticidade única na natureza. Talvez seja possível crer que o cérebro desenvolvimentista passe por transformações súbitas após testemunhar o desastre da economia brasileira.”

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