Economia

Briga comercial com México enfraquece EUA como fornecedor global de trigo

México, maior importador de trigo norte-americano, está buscando cada vez mais a oferta mais barata da Rússia, que superou EUA como maior fornecedor global

Trigo: exportações do grão dos EUA para o México caíram 38 por cento em valor, para 285 milhões de dólares, nos cinco primeiros meses de 2018 (Vincent Mundy/Bloomberg)

Trigo: exportações do grão dos EUA para o México caíram 38 por cento em valor, para 285 milhões de dólares, nos cinco primeiros meses de 2018 (Vincent Mundy/Bloomberg)

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Reuters

Publicado em 26 de julho de 2018 às 16h12.

Chicago/Cidade do México - Fabricantes mexicanos de pão, macarrão e tortilhas estão procurando fornecedores alternativos de trigo para reduzir sua dependência dos Estados Unidos, conforme as relações comerciais entre os países se deteriora.

O México, maior importador de trigo norte-americano, está buscando cada vez mais a oferta mais barata da Rússia, que superou os EUA como o maior fornecedor global de trigo em 2016.

Agora, o declínio da participação norte-americana no mercado está acelerando, na medida em que o México procura mais fontes alternativas na América Latina e outros lugares para se proteger do risco dos grãos norte-americanos ficarem mais caros se o governo mexicano impor tarifas, de acordo com entrevistas com três grandes processadores mexicanos, tradings internacionais de grãos, a autoridade do governo mexicano em comércio agrícola e dados industriais e governamentais analisados pela Reuters.

"É importante mandar sinais para o Sr. Trump", disse Jose Luis Fuente, chefe da Canimol, um grupo comercial mexicano que representa 80 por cento dos processadores mexicanos. O México continuará a comprar trigo norte-americano devido à proximidade, ele disse, mas "nós não podemos continuar a ser absolutamente dependentes."

Os acordos de mudança de oferta são alarmantes para a indústria norte-americana, que tem fornecido a grande maioria do trigo comprado pelo México desde a efetivação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês) em 1994.

As exportações de trigo dos EUA para o México caíram 38 por cento em valor, para 285 milhões de dólares, nos cinco primeiros meses de 2018. As exportações globais norte-americanas do cereal, avaliadas em 2,2 bilhões de dólares, tiveram uma queda de 21 por cento.

"O mercado do México deveria ser uma extensão do nosso mercado doméstico', disse Justin Gilpin, presidente-executivo da Wheat Comission no Kansas, maior Estado produtor do grão nos EUA.

Os compradores mexicanos planejam importar até 100 mil toneladas de trigo da Argentina --valendo cerca de 20 milhões de dólares, com base nos preços atuais-- quando o país realizar a colheita no fim deste ano, disse Fuente à Reuters. O México importou uma carga teste de 33 mil toneladas no fim de 2017, depois de o governo financiar uma expedição comercial de compradores de grãos para encontrar alternativas para o cereal norte-americano na América Latina.

A mesma expedição também resultou no aumento das importações mexicanas de milho do Brasil, em detrimento dos EUA. O México importou 10 vezes mais milho do Brasil em 2017 do que no ano anterior, e está no caminho para comprar mais este ano.

A Casa Branca e o Departamento de Agricultura dos EUA não responderam a repetidos pedidos de comentários sobre como a política comercial do país pode estar acelerando o declínio da sua indústria de trigo. O gabinete do representante comercial dos EUA recusou-se a comentar.

(Por Karl Plume e David Alire Garcia; reportagem adicional por Sharay Angulo, Suman Naishadham, Hugh Bronstein, Michael Hirtzer, Polina Devit e Rod Nickel)

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