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Brexit tornou pensável o impensável, diz fundador da Eurasia

Ian Bremmer diz que Brexit é sinal de desglobalização, mas que situação nos EUA é diferente: "Trump precisaria de algum tipo de choque externo para ganhar"

Ian Bremmer, fundador da Eurasia: "Dilma provavelmente vai sofrer o impeachment logo após Olimpíadas" (Dirk Eusterbrock)

João Pedro Caleiro

Publicado em 5 de julho de 2016 às 13h07.

São Paulo - "O impensável se tornou pensável" com a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia , diz Ian Bremmer, fundador e presidente da Eurasia, a principal consultoria de risco político do mundo.

Em entrevista por e-mail para EXAME.com, ele reafirma que a decisão vai mexer com a política interna de todos os membros do bloco e pode gerar uma reação em cadeia.

Ele já chamou o Brexit do "maior risco político enfrentado pelo mundo desde a crise dos mísseis em Cuba".

Como o voto foi consultivo e ainda precisa ser efetivado, analistas e bolsas de apostas sugerem que ele possa simplesmente não ser levado adiante por esse ou por um novo governo - possibilidade que Bremmer descarta.

Ele também não vê chance de Dilma voltar ao poder. O Brasil estava entre os principais riscos mundiais na lista divulgada pela Eurasia no começo do ano, quando a consultoria ainda não previa um governo Temer.

Veja a entrevista:

EXAME.com - Qual é a chance de que o Brexit não se torne uma realidade? O Parlamento ainda tem a prerrogativa de não aceitar o voto popular e vários líderes da campanha pela saída tem se afastado do resultado.

Ian Bremmer - Esse cenário é extremamente improvável. Seria praticamente impossível politicamente para o Parlamento apenas ignorar o resultado.

Nenhum governo britânico em um futuro próximo - nem mesmo um liderado por Theresa May, a candidata com mais chances de substituir David Cameron e que se opôs ao Brexit - pressionaria para reverter um veredicto determinado democraticamente.

No médio prazo, o artigo 50 do Tratado de Lisboa já terá sido evocado, colocando em curso um processo irreversível. O Reino Unido vai sair da União Europeia.

EXAME.com - E quando isso se tornar realidade, quais serão as consequências econômicas?

Bremmer - Serão significativas ao longo do tempo. Um novo Orçamento será necessário com aumento de impostos e contenção fiscal.

Podemos esperar um baque grande no setor financeiro e perdas mais amplas para a economia como um todo - além de uma recessão nos próximos meses.

EXAME.com - Há possibilidade de contágio e de que processos similares aconteçam em outros países do bloco?

Bremmer - Sim, algum contágio é provável. Um referendo tem mais chance de ocorrer na Holanda e na Áustria, mas o Brexit vai movimentar a política em praticamente todos os países membros porque o impensável se tornou inteiramente pensável.

Podemos esperar que uma parcela maior do voto vá para partidos eurocéticos através do continente.

EXAME.com - E nos Estados Unidos, Donald Trump tem uma chance real de se tornar presidente e como seria isso?

Bremmer - É certamente possível, mas improvável. O referendo do Brexit teve apoio de todos os eleitores anti-establishment, tanto da esquerda quanto da direita, enquanto Trump só pode confiar nos votos da direita. A esquerda vai continuar mais alinhada em torno de Hillary Clinton.

Trump precisaria de algum tipo de choque externo para ganhar: um incidente na escala de um 11 de setembro, alguma questão de saúde de Hillary Clinton ou algo igualmente sério.

Ou mesmo nem isso seja suficiente. A questão demográfica e o mapa eleitoral favorecem muito Hillary.

EXAME.com - Isso tudo é um sinal de desglobalização e por que está acontecendo?

Bremmer - Sim, é um sinal de desglobalização e de uma resistência pública crescente à ideia de que estamos todos conectados através de um fluxo de pessoas, dinheiro, bens e serviços.

Estamos vendo um esvaziamento das classes médias do mundo desenvolvido e existe uma reação forte contra o establishment político e econômico em lugares onde os eleitores não acreditam mais que as instituições existentes servem e protegem o interesse público. O contrato social é visto como quebrado.

EXAME.com - Como o mundo vê o Brasil e o que mudou desde o impeachment?

Bremmer - O mundo está ciente da crise política atual, mas não vai focar nesse grande história até as Olimpíadas. O Brexit roubou o foco e vai mantê-lo até que o processo de escolha do próximo primeiro-ministro ganhe as manchetes.

Na semana que vem teremos a decisão de uma corte internacional em relação às disputas territoriais do Mar da China Meridional, o que vai colocar foco na Ásia por um tempo.

Os incidentes terroristas também estão recebendo muita atenção e mais tarde nesse mês, Trump e Clinton terão as convenções de nomeação dos partidos. O foco do mundo vai voltar para o Brasil quando começarem os Jogos.

EXAME.com - Há chance de Dilma voltar ao poder?

Bremmer - Não muita. A chance bem maior é que ela sofra o impeachment, provavelmente logo após as Olimpíadas.

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São Paulo - "O impensável se tornou pensável" com a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia , diz Ian Bremmer, fundador e presidente da Eurasia, a principal consultoria de risco político do mundo.

Em entrevista por e-mail para EXAME.com, ele reafirma que a decisão vai mexer com a política interna de todos os membros do bloco e pode gerar uma reação em cadeia.

Ele já chamou o Brexit do "maior risco político enfrentado pelo mundo desde a crise dos mísseis em Cuba".

Como o voto foi consultivo e ainda precisa ser efetivado, analistas e bolsas de apostas sugerem que ele possa simplesmente não ser levado adiante por esse ou por um novo governo - possibilidade que Bremmer descarta.

Ele também não vê chance de Dilma voltar ao poder. O Brasil estava entre os principais riscos mundiais na lista divulgada pela Eurasia no começo do ano, quando a consultoria ainda não previa um governo Temer.

Veja a entrevista:

EXAME.com - Qual é a chance de que o Brexit não se torne uma realidade? O Parlamento ainda tem a prerrogativa de não aceitar o voto popular e vários líderes da campanha pela saída tem se afastado do resultado.

Ian Bremmer - Esse cenário é extremamente improvável. Seria praticamente impossível politicamente para o Parlamento apenas ignorar o resultado.

Nenhum governo britânico em um futuro próximo - nem mesmo um liderado por Theresa May, a candidata com mais chances de substituir David Cameron e que se opôs ao Brexit - pressionaria para reverter um veredicto determinado democraticamente.

No médio prazo, o artigo 50 do Tratado de Lisboa já terá sido evocado, colocando em curso um processo irreversível. O Reino Unido vai sair da União Europeia.

EXAME.com - E quando isso se tornar realidade, quais serão as consequências econômicas?

Bremmer - Serão significativas ao longo do tempo. Um novo Orçamento será necessário com aumento de impostos e contenção fiscal.

Podemos esperar um baque grande no setor financeiro e perdas mais amplas para a economia como um todo - além de uma recessão nos próximos meses.

EXAME.com - Há possibilidade de contágio e de que processos similares aconteçam em outros países do bloco?

Bremmer - Sim, algum contágio é provável. Um referendo tem mais chance de ocorrer na Holanda e na Áustria, mas o Brexit vai movimentar a política em praticamente todos os países membros porque o impensável se tornou inteiramente pensável.

Podemos esperar que uma parcela maior do voto vá para partidos eurocéticos através do continente.

EXAME.com - E nos Estados Unidos, Donald Trump tem uma chance real de se tornar presidente e como seria isso?

Bremmer - É certamente possível, mas improvável. O referendo do Brexit teve apoio de todos os eleitores anti-establishment, tanto da esquerda quanto da direita, enquanto Trump só pode confiar nos votos da direita. A esquerda vai continuar mais alinhada em torno de Hillary Clinton.

Trump precisaria de algum tipo de choque externo para ganhar: um incidente na escala de um 11 de setembro, alguma questão de saúde de Hillary Clinton ou algo igualmente sério.

Ou mesmo nem isso seja suficiente. A questão demográfica e o mapa eleitoral favorecem muito Hillary.

EXAME.com - Isso tudo é um sinal de desglobalização e por que está acontecendo?

Bremmer - Sim, é um sinal de desglobalização e de uma resistência pública crescente à ideia de que estamos todos conectados através de um fluxo de pessoas, dinheiro, bens e serviços.

Estamos vendo um esvaziamento das classes médias do mundo desenvolvido e existe uma reação forte contra o establishment político e econômico em lugares onde os eleitores não acreditam mais que as instituições existentes servem e protegem o interesse público. O contrato social é visto como quebrado.

EXAME.com - Como o mundo vê o Brasil e o que mudou desde o impeachment?

Bremmer - O mundo está ciente da crise política atual, mas não vai focar nesse grande história até as Olimpíadas. O Brexit roubou o foco e vai mantê-lo até que o processo de escolha do próximo primeiro-ministro ganhe as manchetes.

Na semana que vem teremos a decisão de uma corte internacional em relação às disputas territoriais do Mar da China Meridional, o que vai colocar foco na Ásia por um tempo.

Os incidentes terroristas também estão recebendo muita atenção e mais tarde nesse mês, Trump e Clinton terão as convenções de nomeação dos partidos. O foco do mundo vai voltar para o Brasil quando começarem os Jogos.

EXAME.com - Há chance de Dilma voltar ao poder?

Bremmer - Não muita. A chance bem maior é que ela sofra o impeachment, provavelmente logo após as Olimpíadas.

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