A safra brasileira de grãos 2019/20 deve registrar recorde de 257,8 milhões de toneladas, representando aumento de 4,5%, ou 11 milhões de toneladas, em comparação com o período anterior 2018/19 (246 8 milhões de toneladas). Os números fazem parte do 12º e último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), sobre a safra 2019/20, divulgado nesta quinta-feira.
Conforme comunicado da estatal, o recorde deve-se ao aumento de 4,2% na área plantada, aliado ao ganho de 0,3% na produtividade. Ainda faltam os resultados das culturas de inverno, principalmente o trigo, que passam por etapas que vão da fase vegetativa à finalização de colheita. Também devem ser incluídas nesta consolidação as culturas da região de Sealba (Sergipe, Alagoas e nordeste da Bahia), destaca a Conab.
A soja, principal cultura agrícola do País, deve alcançar recorde de 124,8 milhões de toneladas, posicionando o Brasil como maior produtor mundial, à frente dos Estados Unidos. A oleaginosa apresenta ganho de 4,3% ante a safra anterior.
Também o milho total caminha para situação semelhante, atingindo cerca de 102 milhões de toneladas, dependendo ainda das lavouras cultivadas na região de Sealba, além de Pernambuco e Roraima. "A participação desses Estados é de algo próximo a 1,7% no consolidado nacional. A primeira safra já foi colhida e a segunda está em finalização", explica a Conab.
Outra cultura que encerra a safra 2019/20 com destaque é o algodão em pluma, que está para alcançar a marca recorde de 2,93 milhões de toneladas, com crescimento de 4,2% acima do período anterior. "O dado positivo se deve aos investimentos feitos nessas lavouras e ao clima", além de cotações favoráveis.
Para o arroz fica o registro produtivo de 11,2 milhões de toneladas e crescimento de 6,7% em relação à última safra. Com colheita praticamente finalizada, 10,3 milhões de toneladas estão em áreas de cultivo irrigado e cerca de 900 mil toneladas em plantio de sequeiro.
Com referência à oferta e demanda de arroz, salienta a estatal, mesmo com a provável intensificação das importações nos próximos meses, a balança comercial deve ser superavitária, em torno de 400 mil toneladas, diz a Conab. Para o consumo, a Conab projeta crescimento de 5,1%, puxado pelas refeições mais frequentes dentro de casa neste período de pandemia. Ainda para a safra 2019/20, de março de 2020 até fevereiro de 2021, projeta-se exportação de 1,5 milhão de toneladas e importação de 1,1 milhão de toneladas, com a perspectiva forte de demanda internacional e preços nacionais competitivos no mercado externo.
No caso do feijão, a estimativa de produção total é de 3,23 milhões de toneladas, principalmente do feijão comum cores, com aumento de 6,4% ao obtido em 2018/19. A primeira e a segunda safras já estão encerradas. O Brasil produz três safras por ano da leguminosa.
As culturas de inverno (aveia, canola, centeio, cevada trigo e triticale) devem alcançar crescimento de 11,6% na área de cultivo, com destaque para o trigo, que apresenta expansão de 14 1%, situando-se em 2,33 milhões de hectares e, produção, dependendo do comportamento climático, de 6,8 milhões de toneladas, aumento de 32%.
3 desafios para levar o agronegócio brasileiro ao futuro
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1. Campo de batalha
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1/5 (Thinkstock/ fotokostic)
São Paulo - Em 2015, o PIB da
indústria caiu 6,2% e o dos serviços caiu 2,7%, mas o
agronegócio continuou brilhando. A alta foi de 1,8%, abaixo da média de 3,9% dos últimos 19 anos mas suficiente para provar a resiliência do setor diante da crise na
economia brasileira. Os desafios para manter e ampliar essa performance estão sendo discutidos hoje no I Fórum do Agronegócio, Infraestrutura, Integração e Mercado de Capitais realizado em São Paulo pelo Instituto IBMEC com apoio da Demarest, KMPG e EXAME. Mesmo diante da alta recente na inflação, foram 30 anos consecutivos de queda real dos preços por aqui e hoje o brasileiro gasta hoje uma parcela muito menor da sua renda em alimentos do que no passado. E isso não é algo do passado ou de país atrasado. Renato Buranello, sócio da Demarest Advogados, notou que 65% do PIB agroindustrial aparece já do lado de fora da fazenda. Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, destacou o interesse da nova geração pelo negócio: a idade média do nosso agricultor é de 40 a 42 anos enquanto nos nossos concorrentes é de 60 anos. Mas há muito o que melhorar. Veja a seguir 3 nós que precisam ser desatados para colocar o agronegócio brasileiro de vez no século XXI:
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2. Tecnologia
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2/5 (Ronaldo Ronan/Divulgação)
Desde sua fundação nos anos 70, a
Embrapa se tornou um caso raro de órgão público de pesquisa que acumula sucessos na parceria com o setor privado. Entre seus trunfos está o desenvolvimento de técnicas e sementes que permitiram a "tropicalização da soja", mais acostumada com outros climas. A inovação agora segue em novas direções, como sensores inteligentes que sabem quando fazer a irrigação, drones para monitoramento de grandes áreas e equipamentos desenvolvidos especificamente para acompanhar a condição de bovinos. O órgão tem hoje 1.700 processos de patentes abertas e elas são cada vez mais em parceria com o setor privado. É algo que Vitor Hugo Oliveira, chefe da Secretaria de Negócios do órgão, chama de "inovação aberta" e que gostaria de poder fazer ainda mais. "A Emprapa hoje se ressente de um braço operacional que a ligue ao setor de inovação. Temos vários amarras que nos impedem de agir como gostaríamos", disse no evento.
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3. Infraestrutura
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3/5 (REUTERS/Enrique Marcarian)
"Eu não vou só dar má notícia para vocês não, eu vou implantar o pânico", brincou Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB). O investimento em infraestrutura no Brasil caiu dos 5,4% do PIB nos anos 70 para taxas próximas de 2,3% desde os anos 90. E não é porque o básico já foi feito: a estimativa é que seriam necessários 3% só para conter a depreciação. O Brasil precisa investir R$ 1 trilhão em infraestrutura de transportes até 2030 para se equiparar ao padrão de países como Rússia e Austrália, de acordo com estudo do núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP. Venilton diz que como não há dinheiro para tudo, a estratégia deve ser priorizar projetos coerentes com um planejamento de inserção geopolítica no longo prazo. "A gente tem uma mania de separar as coisas ou de começar a casa pelo telhado", completou.
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4. Financiamento
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4/5 (.)
Passado o diagnóstico, resta a questão do financiamento da produção e da logística, assim como os papeis do setor público e privado. Renato Buranello, sócio da Demarest Advogados, nota que o sistema de crédito público para agricultura vem dos anos 60 e que os ciclos costumam ser anuais, o que é um contrassenso "já que tem safra todo ano". No caso do governo, ficou claro o fracasso de um modelo que não deu resultados nem segurança jurídica. Além disso, não dá para esperar que o estado tenha um papel tão grande nesse momento de crise fiscal. “Acabou o modelo anterior e é muito difícil saber qual vai ser o modelo novo”, diz Andre Clark Juliano, diretor da Acciona Infraestructuras. Falou-se muito em trazer o investidor privado, aumentar concorrência e melhorar o desenho institucional. O problema é que as próprias condições macroeconômicas bloqueiam esse desevolvimento diante do retorno dos títulos públicos: "Todo mundo quer o papel, mas não tem projeto que vá dar retorno com juros a 14,25%. Não há investimento possível com a volatilidade cambial que temos e enquanto não baixar a taxa básica não vamos a lugar nenhum", diz Venilton.
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5/5 (Thierry Zoccolan/AFP)