Economia

Brasil reage com cautela a acordo nos EUA

Fontes da equipe econômica afirmaram que o plano em construção em Washington não afasta preocupações de mais longo prazo com a questão do endividamento dos EUA

Brasil tem a oitava maior relação dívida/PIB no ranking da CNI (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Brasil tem a oitava maior relação dívida/PIB no ranking da CNI (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 1 de agosto de 2011 às 23h54.

Brasília - O governo brasileiro reagiu com cautela ao anúncio de que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chegou a um acordo com o Congresso para a renovação do teto da dívida norte-americana.

Fontes da equipe econômica afirmaram que o plano em construção em Washington não afasta preocupações de mais longo prazo com a questão do endividamento dos EUA e que seu efeito sobre a economia real, e sobre o Brasil, ainda é incerto.

"O tipo de acordo que temos ainda deixa muita margem (de dúvida) do que vai acontecer", disse Cozendey a jornalistas ao chegar ao Ministério da Fazenda. "Ele afasta incertezas de curto prazo, mas não resolve definitivamente o problema de sustentabilidade de longo prazo da dívida. Portanto, o debate político vai continuar." Uma outra fonte do governo destacou que o cenário de crescimento dos Estados Unidos segue envolto em dúvida.

"O mundo não acabou, mas os desafios são grandes. O mundo já estava pisando em ovos mesmo não acreditando em default (dos Estados Unidos), mas ainda há incertezas sobre a recuperação (norte-americana), além da economia na Europa", afirmou a fonte à Reuters, sob a condição de anonimato.

Obama anunciou no domingo à noite ter chegado a um entendimento com lideranças republicanas e democratas no Congresso para a elevação do teto da dívida, o que evitaria que a maior economia do mundo decretasse calote de suas obrigações.

O acordo, que precisa ser aprovado pelos parlamentares até terça-feira, permitiria a Obama elevar o teto da dívida em pelo menos 2,1 bilhões de dólares em três passos. Ele prevê, ainda, cortes de cerca de 2,4 trilhões de dólares em 10 anos, que seriam aprovados pelo Congresso em duas etapas -um corte inicial de 917 bilhões de dólares na aprovação do acordo e mais 1,4 trilhão de dólares até o final do ano.


Em rápida entrevista à Reuters, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que seria "catastrófico" para o Brasil e para o mundo se os Estados Unidos eventualmente entrassem em default.

"Mas acredito que eles (norte-americanos) terão juízo e vão votar esse acordo porque os reflexos de um calote serão catastróficos não só para o Brasil e para o mundo, mas principalmente para eles próprios", afirmou.

Questionado sobre o efeito do acordo sobre o real, Tombini afirmou que "são muitas as pressões que se exercem sobre a moeda brasileira".

Rebaixamento - Cozendey afirmou que a economia brasileira pode ser afetada em duas frentes pela questão norte-americana --de um lado, por um eventual rebaixamento inédito da nota de risco concedida por agências de classificação à dívida dos Estados Unidos e, de outro, pelos impactos sobre a economia real.

O Brasil tem 211,4 bilhões de dólares aplicados em Treasuries, segundo dados de maio do governo norte-americano.

Um técnico da equipe econômica pondera que um rebaixamento da meta não tende a tirar o brilho dos títulos norte-americanos para os investidores, já que, mesmo com uma nota menor, eles tendem a permanecer como os papéis mais bem avaliados do mercado global.

O fato de o prazo das aplicações brasileiras ser relativamente baixo também protege as reservas, já que os papéis de mais curto prazo são menos suscetíveis a volatilidades do mercado, afirmou a fonte.

O BC não divulga dados detalhados sobre o prazo aplicações das reservas. Relatório relativo a 2009, último dados disponível, mostra que, no final daquele ano, o prazo médio dos investimentos totais das reservas era de 1,63 ano.

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