Economia

Brasil quer "corrigir" relação comercial com a China

Durante sabatina na OMC, Itamaraty apresentou queixas ao governo da China e disse que quer novas diretrizes comerciais


	China: sabatina na OMC abre janela para que parceiros comerciais possam questionar práticas adotadas
 (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

China: sabatina na OMC abre janela para que parceiros comerciais possam questionar práticas adotadas (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2016 às 10h53.

Genebra - O governo do presidente em exercício Michel Temer quer rever as relações com a China - maior parceiro comercial do País.

Nesta quarta-feira, 20, durante sabatina sobre a política comercial chinesa na Organização Mundial do Comércio (OMC), o Itamaraty apresentou suas queixas ao governo de Pequim e apontou que quer uma nova direção no fluxo de comércio.

A sabatina de governos como o da China ocorrem a cada dois anos, quando as leis do país são examinadas e autoridades têm a oportunidade de questionar as práticas adotadas.

Na intervenção do Brasil, o governo reconheceu que tem uma "parceria estratégica" com Pequim. Hoje, a China é o principal destino das exportações nacionais e o maior fornecedor de bens estrangeiros. Em 2015, ela representava 18,3% do comércio nacional.

"O desenvolvimento dessa relação continua sendo uma prioridade-chave em nossa agenda", disse a encarregada de Negócios do Brasil na OMC, Marcia Donner.

Mas a diplomata deixou claro que o momento é de reavaliar o "padrão" dessa relação diante da disparidade entre o que a China exporta e o que compra das empresas nacionais.

"Da perspectiva do Brasil, a assimetria precisa ser corrigida e ações para incentivar a maior diversificação de nossas exportações continuam sendo prioridade-chave para nosso governo", disse.

"Nossas complexas economias podem ganhar com o crescimento de cada um de uma forma mais equilibrada."

Na avaliação apresentada pelo Itamaraty, a diversificação das exportações brasileiras para a China "continuam sem uma mudança significativa desde a última revisão na OMC em 2014".

"Nossa exportação para a China continua limitada a um número pequeno de commodities, como soja, aço, petróleo", disse a diplomata. Juntos, esses itens representam 75% das vendas nacionais para a China.

Já as importações são "amplamente mais diversificadas, incluindo vários produtos industriais, máquinas elétricas e mecânicas, produtos químicos, aço, plástico e siderurgia".

O governo brasileiro também fez questão de apontar para a onda de investimentos chineses no País nos setores de finanças, infraestrutura, telecomunicações, eletricidade e ferrovias.

Mesmo na agricultura, o Brasil se queixa de barreiras. Segundo o governo, existem várias licenças ainda não aprovadas para a exportação de carne de frango e suína que merecem ser "avaliadas com urgência".

Aço

Outro setor delicado é o do aço. Nas últimas semanas, produtores de todo o mundo têm atacado a produção em excesso da China, levando à queda dos preços internacionais.

"Isso está criando tensões que precisamos lidar com um diálogo global para que haja um ajuste estrutural pelos maiores produtores do mundo", defendeu o Brasil.

A China indicou que está comprometida em reduzir sua capacidade de produção até 2020 e, no que se refere às demandas brasileiras, prometeu dar uma resposta.

Mas o vice-ministro do Comércio do país, Wang Shouwen, alertou a comunidade internacional que sua economia vive um "novo normal", com uma taxa de crescimento que não atinge mais os 9,0%, mas sim uma média de 6,5% e 7,0%.

"Passamos para uma taxa alta para moderadamente alta", disse. Segundo ele, isso exige do país um "novo modelo de desenvolvimento".

Mas quem também se queixou foi o governo dos EUA, que afirmou estar "preocupado" com uma possível mudança na postura comercial chinesa diante da queda de crescimento. Para o diplomata Chris Wilson, "à medida que a economia chinesa desacelera, os EUA sentem uma relutância maior de o país manter suas reformas".

"Além disso, cada vez mais empresas americanas expressam preocupação com o ambiente regulatório e de negócios para as empresas estrangeiras", disse.

Assim como o Brasil, os americanos também criticaram o apoio estatal chinês ao setor siderúrgico, além de barreiras para as vendas de diversos produtos e até filmes.

Americanos, europeus e outros governos ainda fizeram um alerta sobre o plano de Pequim conhecido como "Made in China 2025". Pela iniciativa, 70% dos componentes de produtos feitos na China até 2025 terão de ser fabricados localmente.

No total, Pequim recebeu dos governos na OMC mais de 1,8 mil perguntas e queixas. O país é hoje o maior parceiro comercial de 120 economias.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:ChinaComércioComércio exteriorItamaratyMinistério das Relações ExterioresOMC – Organização Mundial do Comércio

Mais de Economia

Governo sobe previsão de déficit de 2024 para R$ 28,8 bi, com gastos de INSS e BPC acima do previsto

Lula afirma ter interesse em conversar com China sobre projeto Novas Rotas da Seda

Lula diz que ainda vai decidir nome de sucessor de Campos Neto para o BC

Mais na Exame