Economia

Brasil precisa entender a lógica de comércio da Ásia, afirma Apex

Thais Moretz, especialista em China, afirmou que expandir mercados na atual conjuntura mundial é um grande desafio

Brasil: "A imagem do Brasil [no exterior] se deteriorou muito", diz Marcos Jank (Getty Images/Getty Images)

Brasil: "A imagem do Brasil [no exterior] se deteriorou muito", diz Marcos Jank (Getty Images/Getty Images)

AB

Agência Brasil

Publicado em 2 de agosto de 2017 às 17h51.

O Brasil precisa entender a lógica de pensamento e de comércio dos países asiáticos se quiser expandir sua participação nesse mercado.

Quem afirma é a especialista em China da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Thais Moretz, que participou hoje (2), em Brasília, do primeiro Diálogo Agrícola Brasil-Argentina.

Segundo ela, expandir mercados na atual conjuntura mundial em que os países, em geral, buscam ampliar suas exportações e atrair investimentos para os próprios territórios é um grande desafio e exige mais do que uma produção de destaque mundial, como a do Brasil no setor agrícola.

Com cerca da metade da população mundial, uma classe média emergente e uma economia em expansão, a Ásia - e mais especificamente a China, Índia e os dez países que compõem a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) - reúne mercados em potencial crescimento e com um grande atrativo.

Em julho, a Ásia concentrou 38% das exportações brasileiras. Só a China foi o destino de 25,5% das mercadorias do Brasil. A Europa aparece em segundo lugar, comprando 18,6% dos produtos.

As exportações do Brasil para a China, no entanto, são bastante restritas em termos de diversidade, uma vez que os chineses compram basicamente soja.

Demais produtos tem mais dificuldade ou mesmo são impedidos de entrar. Na análise de Thais, o Brasil é fraco em algo fundamental na China: relacionamento.

"Na China, é fundamental ter networking e relacionamento local. Poucos [brasileiros] mantêm reuniões constantes com os chineses", ilustrou.

O histórico do relacionamento também conta muito. Os chineses valorizam muito o passado, que está documentado, está registrado.

Já o futuro, é obscuro, não se pode garantir o que vai acontecer. "Ele vai confiar no passado, nas provas que você deu de confiança. Não confiam tanto no futuro ou nas promessas, mas na tradição e no que se está fazendo para chegar lá", disse Thais.

Má imagem e agrotóxicos

"A imagem do Brasil [no exterior] se deteriorou muito, crescemos nas exportações, mas o volume de ataques que recebemos lá fora é absurdo. Temos que trabalhar isso", defendeu o consultor da Asia-Brazil Agro Alliance, Marcos Jank, que também participou do evento hoje em Brasília.

Ele ressaltou que a China tem se preocupado cada vez mais com a qualidade dos alimentos e que o Brasil tem ficado de fora de alguns setores.

Um dos pontos polêmicos no setor agrícola é o uso dos agrotóxicos. Produtores defendem os produtos como necessários, uma vez que o Brasil, como um país tropical, concentra também várias pragas que prejudicam a produção e dizem que quando há um controle de qualidade, não é prejudicial à saúde. Alguns produtos usados no Brasil são banidos em determinados países, o que restringe as exportações.

Segundo um estudo sobre o mercado de agrotóxicos no Brasil divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o comércio desses produtos no Brasil cresceu 190% entre 2000 e 2010, mais que o dobro da média mundial, de 93%.

Em março deste ano, relatores do Conselho de Direitos Humanos da ONU defenderam a criação de um tratado global para regulamentar e acabar com o uso de pesticidas na agricultura.

Os especialistas citam pesquisas que mostram que os agrotóxicos causam cerca de 200 mil mortes por envenenamento por ano em todo o mundo.

Para Jank é preciso mudar essa má imagem do Brasil e investir também na qualidade e na boa divulgação dos produtos. Ele diz que também é necessário o país importar mais.

"Para exportar mais, temos que importar mais, o Brasil resiste a importar. Tem que resolver esses problemas e brigar pelo livre comércio. A gente não consegue abrir mercados lá fora por causa de problemas domésticos", disse.

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