Dani Rodrik, é turco, tem 57 anos e dá aula de economia política na Universidade de Harvard (Andrzej Barabasz/Wikimedia Commons)
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de outubro de 2015 às 12h46.
São Paulo - Dani Rodrik, professor de economia política na Universidade de Harvard e um dos economistas mais influentes do mundo, acredita que o Brasil está sendo subestimado pelos investidores.
A opinião apareceu em conversa no Mercatus Center com Tyler Cowen, professor da Universidade George Mason e autor do popular blog Marginal Revolution, publicada no site Medium.
Ambos estão entre as contas mais influentes de economia no Twitter. Em pergunta de Cowen sobre qual país estava sendo subestimado pelos investidores, Rodrik citou o Brasil:
"Quando você olha para o que está acontecendo, por um lado é chocante que haja uma corrupção tão generalizada na Petrobras e que parece ter chegado até lá em cima. Por outro lado, quando você olha como eles lidaram com a situação, é incrivelmente impressionante. É algo que mesmo em um país avançado você não imaginaria acontecer: todos esses promotores e juízes de fato seguindo o Estado de Direito".
Estudioso do fenômeno da desindustrialização, Rodrik diz que a política industrial brasileira "não é ótima mas pelo menos eles estão tentando fazer algo em relação a isso", e que de qualquer forma isso deve ser visto separadamente.
O que importa é o senso real de responsabilização que está sendo formado: "Eles estão demonstrando uma maturidade política de operação do sistema décadas à frente mesmo de países industriais mais avançados (...) Eu apostaria no longo prazo no Brasil".
Um membro da audiência se apresentou como brasileiro e agradeceu pelas "palavras de esperança", mas perguntou qual era a perspectiva para um país onde o "capitalismo de compadrio e as regulações draconianas são mais regra do que exceção".
Rodrik diz que sua visão do Brasil se formou em comparação a outros emergentes como a Turquia, seu país, onde o presidente Tayyip Erdogan e sua família estão diretamente implicados em corrupção e tentam controlar politicamente a Justiça de forma explícita.
"O tipo de coisa da qual Dilma pode ser culpada empalidece na comparação (...) Pelo menos no Brasil vocês estão lidando com essas coisas. Estão tentando superá-las. Talvez não seja 5 anos... talvez vocês descubrem outras coisas acontecendo. Mas minha recomendação é que vocês se orgulhem de ter um sistema que está de fato tentando limpar as coisas. Isso é realmente raro. Não está acontecendo na Turquia. Não está acontecendo na Tailândia. Não está acontecendo na maior parte dos países em desenvolvimento que eu conheço. Neste sentido, o Brasil é exemplar".
Globalização
Para Rodrik, o país mais superestimado atualmente é a Índia, que está apostando em uma industrialização de grande escala difícil de sustentar no contexto atual.Nada de "nova China", portanto.
O economista, aliás, recomenda humildade na hora de julgar a atuação do governo chinês diante das últimas dificuldades: "estamos falando do país que engendrou o programa de redução da pobreza mais milagroso da história".
Rodrik é famoso pelo livro "A Globalização foi Longe Demais?" e pela formulação do dilema pelo qual democracia, soberania nacional e integração econômica global são mutualmente incompatíveis e um país precisa escolher ter no máximo dois destes três.
Em entrevista para a revista EXAME em 2013, Rodrik disse que "a má sorte do Brasil é que começou a desindustrialização mais cedo do que a Coreia do Sul. E isso explica boa parte da diferença entre os níveis de renda dos dois países. Infelizmente, é muito difícil reverter a perda agora."
Veja o vídeo da entrevista completa. O primeiro trecho sobre o Brasil aparece no ponto de 1 hora, 02 minutos e 43 segundos e a pergunta da plateia é no ponto de 1 hora e 15 minutos:
https://youtube.com/watch?v=M17H2dZixEI%3Flist%3DPLS8aEHTqDvpInY9kslUOOK8Qj_-B91o_W