Economia

Bolsonaro vê China como ameaça à ideia de economia alavancada por nióbio

O Brasil responde por cerca de 85% da produção mundial do mineral, e o candidato do PSL pretende manter as coisas dessa forma se for eleito

Nióbio: especialistas em mineração dizem que os temores de Bolsonaro sobre a ameça chinesa em relação ao mineral são exagerados (Reprodução/Wikimedia Commons)

Nióbio: especialistas em mineração dizem que os temores de Bolsonaro sobre a ameça chinesa em relação ao mineral são exagerados (Reprodução/Wikimedia Commons)

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Reuters

Publicado em 25 de outubro de 2018 às 16h07.

Última atualização em 1 de agosto de 2019 às 17h00.

Goiás - O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), candidato da direita favorito para vencer as eleições de domingo no Brasil, tem uma visão para a economia de seu país: o nióbio. O mineral é usado como um aditivo ao aço para tornar o metal mais forte e mais leve. A demanda pelo nióbio está em alta por montadoras, empresas aeroespaciais e uma série de outras indústrias.

O Brasil responde por cerca de 85 por cento da produção mundial. E Bolsonaro quer que continue assim.

A compra realizada pela China há dois anos de uma pequena mina brasileira de nióbio tem levado o candidato a se mexer para bloquear a aquisição de ativos considerados estratégicos por outras empresas estrangeiras.

Bolsonaro tem tanto apreço pelo nióbio - e pelo potencial do Brasil em capitalizar sua produção - que produziu um vídeo no YouTube de 20 minutos divulgando suas virtudes. Filmado em uma mina brasileira de nióbio em 2016, quando o deputado pelo PSL já planejava concorrer à Presidência da República, o vídeo apresenta a visão econômica utópica de Bolsonaro para sua nação, alimentada pelo obscuro mineral.

"Fala-se muito em Vale do Silício no mundo, né? No caso, fica nos Estados Unidos. E eu sonho, quem sabe um dia, termos também o Vale do Nióbio."

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Mark Zuckerberg provavelmente não está perdendo o sono ainda. Mas o vídeo oferece uma valiosa ideia sobre a perspectiva de Bolsonaro para o enriquecimento das nações.

A ditadura militar de 1964 a 1985 no Brasil procurou proteger os recursos naturais estratégicos, como petróleo e minerais, de interesses estrangeiros, favorecendo as empresas estatais a explorá-los. Bolsonaro, capitão da reserva do Exército e fervoroso admirador do regime militar, há muito segue essa visão. Ele abraçou recentemente a economia de livre mercado em sua gestão caso se torne presidente. Mas o vídeo ressalta o quão difícil será para ele mudar de ideia em pontos como o nacionalismo relacionado a recursos naturais.

Filmado no Sudeste do Brasil em uma mina de propriedade da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, uma empresa brasileira de capital fechado conhecida como CBMM, Bolsonaro se maravilhou com as riquezas derivadas dos depósitos minerais. Da mesma forma, elogiou os empregos bem remunerados, a pré-escola particular e outras comodidades que a CBMM fornece aos seus trabalhadores.

Se o país adotasse o estilo de desenvolvimento da CBMM e se concentrasse em criar "aplicações futuras" para o mineral, em vez de apenas exportá-lo, Bolsonaro raciocinou em seu discurso no YouTube, então o Brasil estaria no banco do motorista. Assim, ele ficou indignado quando, naquele mesmo ano, a China Molybdenum (CMOC) comprou uma mina de nióbio a apenas 200 quilômetros da fábrica da CBMM.

Além disso, a própria CBMM é detida em 15 por cento por um consórcio de cinco empresas chinesas: a Baoshan Iron & Steel (Baosteel), o Grupo CITIC, o Anshan Iron & Steel Group, a Shougang Corp e o Taiyuan Iron & Steel Group.

Acredita-se que Bolsonaro seja o primeiro candidato à Presidência a fazer do nióbio uma questão de campanha. Em uma entrevista televisionada nacionalmente em agosto, ele criticou a compra feita pela CMOC.

"Uma coisa só nós temos, nós devemos investir em tecnologia e pesquisa... (mas) vendemos e entregamos a mina a eles."

A UTOPIA ENCONTRA A REALIDADE

Especialistas em mineração dizem que os temores de Bolsonaro sobre nióbio são exagerados. Para começar, os depósitos do Brasil não estão sob ameaça. A mina da CMOC no país responde por apenas 10 por cento do mercado global, segundo Hugo Nadler, executivo que deixou a empresa no início deste ano.

Isso deixa a maior parte - cerca de 75 por cento - firmemente nas mãos da CBMM. A companhia é a única que vende em todos os segmentos de mercado de nióbio, disse a empresa em comunicado à Reuters, incluindo produtos de alto valor agregado usados ​​em aviões e supercondutores. E enquanto as chinesas possuem cerca de um sexto da empresa, sua tecnologia não é compartilhada com os acionistas minoritários, disse a CBMM, controlada pelo Grupo Moreira Salles.

A CBMM afirmou que há muito potencial para expandir o uso de nióbio em aplicações como baterias automotivas e eletrocerâmica.

Mas mesmo que o mercado de nióbio cresça, é improvável que tenha muito impacto em uma economia do tamanho do Brasil, disse Nadler, o ex-executivo do CMOC. "A mineração representa 5 por cento do PIB, se você pegar a porção que é o nióbio, não é nada", disse ele.

Segurando um pedaço de nióbio na mão direita e apontando para a câmera em seu vídeo, ele declarou: "Isso pode nos dar uma independência econômica".

 

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