BCE precisa agir para combater deflação, diz Banco da Espanha
Inflação da zona do euro está abaixo de zero desde agosto; BCE projeta alta no início do próximo ano, mas pediu que governos intensifiquem os gastos fiscais
Fabiane Stefano
Publicado em 11 de novembro de 2020 às 10h41.
Última atualização em 11 de novembro de 2020 às 11h16.
Na opinião do economista-chefe do Banco da Espanha, o Banco Central Europeu precisa injetar mais estímulo à política monetária em dezembro para evitar o risco de deflação na zona do euro.
“Sabemos que, para garantir que tal risco não se concretize, devemos agir com rapidez e vigor”, disse na terça-feira Oscar Arce, diretor-geral de economia do banco central espanhol, em entrevista em Madri. A perspectiva de uma forte queda dos preços abrange todo o bloco monetário, e não apenas a Espanha, afirma.
A deflação, uma espiral descendente de preços que se espalha para os salários, pode abalar economias. O exemplo mais marcante do século 20 foi a Grande Depressão.
A inflação da zona do euro está abaixo de zero desde agosto. A pandemia de coronavírus esmagou a demanda, e a alta dos preços subjacentes, excluindo itens voláteis, está em mínima histórica. Embora o BCE projete que os preços ao consumidor voltarão a subir no início do próximo ano, também planeja “recalibrar” seu estímulo em dezembro e pediu que governos intensifiquem os gastos fiscais.
“Observamos um aumento na parcela de bens cujos preços estão subindo muito pouco ou caindo, o que é uma indicação do risco”, disse Arce. O presidente do Banco da Espanha, Pablo Hernández de Cos,demonstroupreocupação semelhante.
Arce reconheceu que as perspectivas para o BCE e autoridades monetárias no mundo todo melhoraram um pouco na segunda-feira, quando a americana Pfizer e a alemã BioNTechdisseramque sua vacina mostra avanço “extraordinário”. Ainda assim, o BCE já apostava em uma solução médica disponível no ano que vem.
A notícia da vacina “reduz um pouco os riscos negativos” para a economia, disse Arce. “Mas sabemos que não é uma solução a curtíssimo prazo. Sabemos que ainda vai demorar um pouco antes que a vacina possa ser amplamente distribuída.”
Mudança da meta
No longo prazo, as autoridades deveriam considerar uma estratégia ao estilo do Federal Reserve, que permita à inflação subir temporariamente acima da meta, disse Arce. Esse é um tópico que o banco central analisa atualmente e foi sinalizado como opção pela presidente do BCE, Christine Lagarde,assim como porHernández de Cos.
A meta atual é “abaixo, mas perto de 2%”, e Arce disse que uma meta específica, como 2%, reduziria parte da ambiguidade e o risco de má interpretação. Alguns economistas têm dúvidas de que o BCE seja capaz de superar a meta, já que nem chegou perto de atingi-la nos últimos anos.
“Será factível desde que o Conselho seja capaz de convencer todos os agentes da sua determinação em implementar esta estratégia”, disse Arce. “Não tenho dúvidas de que é capaz.”