Sede do Banco Central, em Brasília: autonomia do BC é antídoto contra o populismo (.)
Da Redação
Publicado em 19 de maio de 2010 às 15h46.
São Paulo -A moeda de um país é um bem importante demais para ser deixada na mão de políticos. Talvez seja essa a mais importante lição aprendida pelos economistas ao longo das duas últimas décadas. Nesse período, os trabalhos acadêmicos de economia monetária chegaram a dois consensos importantes.
Primeiro: não há como produzir crescimento de verdade manipulando os juros. Ao reduzir artificialmente a taxa, o máximo que se consegue é inflar o crescimento no curto prazo, mas o recrudescimento da inflação no momento seguinte rapidamente põe tudo a perder.
Segundo: numa democracia, o governo de plantão tem incentivos para aceitar um pouquinho mais de inflação num ano eleitoral. A bolha de crescimento pode ser determinante para a carreira dos políticos, mas a conta para a sociedade é amarga. É fácil produzir inflação. É extremamente difícil trazê-la de volta a patamares razoáveis. A independência do banco central surge como um antídoto contra o populismo dos governantes.
Nos últimos anos, o Brasil vem resistindo à concessão de independência ao Banco Central com o argumento de que, na prática, há liberdade total na definição dos juros. O stress gerado pela última reunião do Conselho de Política Monetária, o Copom, mostra que a realidade é mais complexa.
As acaloradas discussões no mercado financeiro nos últimos dias não foram sobre a necessidade de uma alta nos juros. Sobre isso há consenso. O consumo está em franca aceleração. O desemprego, em queda. Voltaram os conhecidos gargalos econômicos, em especial de infraestrutura e mão de obra. A inflação ameaça retornar com força. A economia brasileira hoje já corre a um ritmo chinês o PIB do primeiro trimestre cresceu numa velocidade correspondente a 13% anual.
O que realmente dividiu o mercado foi a real disposição do BC de fazer o que todos julgam inadiável. Para o país, é muito ruim a velha dúvida sobre a autonomia da autoridade monetária.
Ao optar pelo aumento de 0,75% na taxa Selic, agora em 9,5%, a equipe do BC busca restaurar a reputação solidamente construída nos últimos anos e recentemente arranhada. Menos mal.
Mas fica uma conclusão inescapável não, o lugar do presidente do Banco Central não é numa chapa eleitoral. Quando o assunto é moeda, os mundos da política e da economia não devem se misturar.