Economia

Bancos enxugam R$ 13,4 bi com medo de calote

Instituições financeiras têm preferido a remuneração do depósito compulsório ao risco de inadimplência de consumidores


	Cliente utilizando um caixa eletrônico
 (Divulgação/Bradesco)

Cliente utilizando um caixa eletrônico (Divulgação/Bradesco)

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Da Redação

Publicado em 11 de julho de 2014 às 20h12.

Brasília - Com a alta da taxa básica de juros, instituições financeiras têm preferido a remuneração do depósito compulsório ao risco de inadimplência de consumidores.

Desde o ano passado, as instituições ficaram mais restritivas na concessão de crédito, mesmo estando mais capitalizadas.

Segundo dados do Banco Central, os compulsórios totais cresceram 14,7% entre março de 2013 e maio deste ano, um avanço de R$ 49,24 bilhões.

Desse total, R$ 13,4 bilhões são recursos que os bancos deliberadamente não tiveram interesse em transformar em crédito e, na prática, enxugaram do mercado.

Antes de o BC começar a subir os juros, ainda em março do ano passado, os compulsórios, juntos, somavam R$ 346,4 bilhões. Em maio de 2014, quando a autoridade monetária parou o movimento, esses depósitos haviam aumentado para R$ 395,7 bilhões.

Os compulsórios são uma ferramenta importante por controlar a quantidade de dinheiro disponível em circulação no País. Para o BC, é uma arma a mais no controle da inflação.

Uma parte dessa elevação desses depósitos obrigatórios, segundo o economista e especialista em bancos Roberto Luís Troster, se explica pelo aumento da base de depósitos dos bancos, seja poupança ou outras modalidades.

No entanto, do aumento total no período, R$ 13,4 bilhões são recursos que poderiam ter se tornado crédito e por opção das instituições foram parar no Banco Central, que paga a Selic como remuneração (atualmente algo ao redor de 11% ao ano) e oferece um "risco zero" de calote.

Salto

Esse montante, classificado como "Insuficiência de direcionamento de crédito", deu um salto em meados do ano passado.

Até julho, esses depósitos ficavam entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,4 bilhão, em agosto, após a Selic chegar a 9% ao ano, no entanto, houve uma virada, saltaram para R$ 13,7 bilhões e de lá para cá vêm se mantendo estáveis em níveis próximos desse valor.

"Se os compulsórios crescem, as taxas de juros também sobem para o tomador final", observa João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho.

"Os bancos estão com receio de inadimplência e a inflação também tem pesado na decisão de onde alocar os recursos porque pressiona o orçamento das famílias e eleva o grau de incerteza na economia."

Custo

Diante desse quadro, o saldo das operações de crédito com recursos livres, ou seja, sem juros subsidiados, cresceu apenas 0,3% no acumulado do ano até maio. Os juros médios, em igual período, aumentaram 3 pontos porcentuais, para 32% ao ano.

Em meio a esse cenário, a inadimplência deu os primeiros sinais de alta, chegou a 6,7% para as pessoas físicas depois de três meses estável em 6,5%.

Na visão de Salles, o nível de emprego, atualmente, pode ser classificado como bom, mas no curto prazo "as coisas podem desandar" e os bancos têm colocado essa possibilidade no cenário quando planejam o que fazer com o caixa disponível.

"Olhando para as eleições, é praticamente certo que 2015 vai ser um ano de ajuste", argumenta.

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