Economia

Auxílio e reabertura rápida explicam força de retomada nos EUA

Há três meses, economistas previam crescimento anualizado de 18% no terceiro trimestre. A pesquisa mais recente mostra aumento de 31,8%

Dívida nos EUA: empresas exportadoras são as principais candidatas (Antara Foto/Hafidz Mubarak/Reuters)

Dívida nos EUA: empresas exportadoras são as principais candidatas (Antara Foto/Hafidz Mubarak/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 26 de outubro de 2020 às 15h52.

Última atualização em 26 de outubro de 2020 às 16h41.

A força da recuperação econômica dos Estados Unidos surpreendeu consistentemente nos últimos meses, em parte graças às finanças estáveis dos consumidores, sustentadas por ajuda governamental generosa e taxas de juro extremamente baixas.

Há três meses, economistas previam crescimento anualizado de 18% no terceiro trimestre. A pesquisa mais recente da Bloomberg agora mostra projeção mediana que é quase o dobro da anterior — um ritmo recorde de 31,8% — para o relatório que será divulgado na quinta-feira.

Mesmo com melhora trimestral tão significativa, a economia ainda tem um longo caminho de recuperação, já que o valor do PIB permanecerá abaixo do pico anterior de 21,7 trilhões de dólares no final de 2019. O desemprego é mais do que o dobro dos níveis pré-crise, e a covid-19 deve limitar o crescimento por meses e, possivelmente, anos.

Uma confluência de fatores, entretanto, ajuda a explicar por que economistas subestimaram a recuperação até agora. Para começar, em alguns estados a paralisação das empresas causada pela covid foi suspensa em semanas, em vez de meses, permitindo uma rápida retomada das vendas no varejo.

A resposta do governo — particularmente ao enviar a muitos americanos cheques de estímulo de 1.200 dólares em abril e adicionar 600 dólares por semana ao seguro-desemprego por vários meses — também foi fundamental e pode ter sido mais eficaz do que inicialmente estimado. Além disso, as famílias americanas pouparam mais, já que o crescimento da renda ultrapassou os gastos, mesmo descontando a ajuda do governo.

Além disso, as rápidas mudanças na economia estimularam analistas a confiar cada vez mais nos dados dos chamados indicadores de alta frequência, como reservas em restaurantes e movimentos de telefones celulares. Isso permitiu uma imagem mais em tempo real da recuperação, mas também tornou a previsão mais complicada para analistas acostumados a modelos de computador que incorporam indicadores tradicionais.

A receita total de varejistas está bem acima dos níveis anteriores à pandemia, enquanto construções iniciais de moradias unifamiliares e as vendas de casas próprias são as mais altas em mais de 13 anos. Dados regionais de manufatura mostram que os pedidos continuam aumentando, em parte porque os estoques caíram.

Juros de hipotecas em mínimas históricas impulsionam a demanda no mercado imobiliário, mas também houve mudança nas preferências dos americanos — que deixaram os centros das cidades em favor de distritos mais distantes e casas mais espaçosas, que também podem servir como espaços de escritórios pessoais.

“As pessoas não estavam suficientemente otimistas sobre o consumo”, disse Stephen Stanley, economista-chefe da Amherst Pierpont Securities, que agora vê crescimento de 34,1% no terceiro trimestre, após projetar 18% em abril. “Havia muita preocupação de que o estímulo fiscal na primavera impulsionasse temporariamente o consumo e que, assim que esse fluxo de dinheiro fosse interrompido, o consumidor parasse de gastar.”

No entanto, a economia deve voltar a um ritmo de crescimento mais moderado até o final do ano. O aumento de casos de coronavírus e o prolongado impasse sobre novos estímulos ameaçam limitar ganhos adicionais, enquanto o momento e a eficácia das vacinas contra a covid-19 permanecem incertos.

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