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Auto-suficiente, Brasil poderá parar de importar petróleo só em 2010

Anúncio da conquista da auto-suficiência em petróleo completa um ano, mas o país ainda não se livrou da dependência do óleo importado

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h32.

A inauguração da plataforma P-50 da Petrobras, em 21 de abril do ano passado, foi adotada pelo governo como o marco oficial da auto-suficiência na produção brasileira de petróleo. Naquele dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva imitou Getúlio Vargas e exibiu as mãos manchadas de petróleo. Nos dois meses seguintes, uma campanha publicitária de 37 milhões de reais louvou o feito. Passado um ano, o país já produz, de fato, um excedente de barris. Em 2006, houve uma exportação líquida (remessas menos compras) de 2,39 milhões de barris de óleo cru, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). E, nos dois primeiros meses de 2007, as exportações superaram as importações em 1,8 milhão de barris. Isso não significa, porém, que o país já lucre com a auto-suficiência. Devido à diferença de cotações entre o petróleo pesado que o Brasil vende, mais barato, e o leve, que importa e é mais nobre, o saldo da balança comercial de petróleo segue negativo. Segundo previsão da Petrobras, somente em 2010 o país conseguirá zerar, de fato, as perdas.

"Para nós, um país é auto-suficiente quando consome o petróleo que produz, e isso ainda não aconteceu", afirma a economista Fabiana D';Atri, da consultoria Tendências. No ano passado, o país gastou 9,122 bilhões de dólares com as importações do insumo, e recebeu 6,894 bilhões com exportações - um déficit de 2,228 bilhões, segundo dados da ANP. A cifra é 36% menor que a de 2005, mas o ritmo de queda foi menos intenso no período pós-anúncio. No acumulado de abril a dezembro, o rombo recuou 31% sobre igual período de 2005 - de 2,273 bilhões de dólares para 1,565 bilhão. Quando se considera o acumulado de abril de 2006 a fevereiro de 2007 (último dado disponível da ANP), sobre o período de abril de 2005 a fevereiro de 2006, a queda foi ainda menor: 9,84%, saindo de 2,152 bilhões para 1,941 bilhão. E, nos dois primeiros meses de 2007, o déficit foi de 375,492 milhões, um incremento de 212% sobre as perdas de 120,124 milhões de dólares do primeiro bimestre de 2006.

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Contra a balança, pesa o perfil das refinarias brasileiras. Construídas quando a produção nacional de petróleo era incipiente, as refinarias foram projetadas para processar o petróleo leve importado principalmente do Oriente Médio. Por isso, as plantas não conseguem aproveitar plenamente a produção brasileira, baseada sobretudo no petróleo pesado. Atualmente, as refinarias operam com uma mistura que varia de 80% a 85% de óleo pesado e o restante de óleo leve. Apesar de ser uma porcentagem relativamente pequena, a diferença de preço pesa nas contas. No ano passado, o preço médio do barril importado foi de 68,61 dólares, 34% maior que os 51,32 dólares médios do barril exportado. Em fevereiro deste ano, a diferença se acentuou - 61,28 dólares por barril comprado, ante 44,97 dólares, uma diferença de 36%.

Novas plantas

Os dados da ANP consideram todas as companhias que operam no setor petrolífero. A Petrobras, que responde por mais de 90% da produção brasileira, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "a necessidade de importar petróleo leve, que é pequena, será praticamente zerada até 2010". Segundo a companhia, suas refinarias passam por adaptações e ampliações para ampliar a capacidade de refino do óleo pesado. Além disso, reservas de petróleo leve foram descobertas no Espírito Santo, Sergipe, Santos e Campos.

Os analistas também esperam uma queda gradual da dependência do petróleo importado. Mas somente o início das operações de dois projetos desenhados para o tipo de óleo brasileiro garantirá o fim das importações, segundo os especialistas. O primeiro é a refinaria que a Petrobras pretende construir em Pernambuco, em parceria com a venezuelana PDVSA - a primeira anunciada pela estatal brasileira em 27 anos. O outro é o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Ambos têm previsão para iniciar as atividades entre 2010 e 2011.

"No curto prazo, não há solução para o problema do refino. O quadro só vai mudar com a inauguração da Comperj", diz Marcos Paulo Fernandes Pereira, analista de investimentos da corretora Fator.

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