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Assolada por escândalos, Malásia pode ter uma década perdida

Com seu primeiro-ministro envolvido em um escândalo de financiamento de muitos milhões de dólares, a Malásia corre o risco de ficar paralisada

Vista aérea de Kuala Lumpur, na Malásia: ambos os presidentes se enredaram em empresas estatais (Lam Yik Fei/Bloomberg)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de outubro de 2015 às 19h29.

Conheça a Malásia , o novo Brasil.

Quase derrubada pela crise financeira asiática no fim da década de 1990, o país do Sudeste Asiático se recuperou e se tornou um monstro internacional das commodities , famoso por seu governo estável e por suas políticas favoráveis aos investidores.

Agora, com seu primeiro-ministro envolvido em um escândalo de financiamento de muitos milhões de dólares, a Malásia corre o risco de se contagiar com o tipo de mal-estar que paralisou seu equivalente sul-americano no mercado emergente.

O primeiro-ministro Najib Razak, 62, negou qualquer irregularidade. Mas, enquanto as investigações avançam e os opositores, como o primeiro-ministro anterior, Mahathir Mohamad, pedem sua renúncia, o perigo é que a liderança adote a postura de combate a incêndios.

A economia já foi afetada pela desaceleração dos preços do petróleo e do gás natural e espera-se que Najib conceda donativos maiores aos pobres no orçamento do dia 23 de outubro. A Malásia poderia cair em uma “década perdida”?

“Além de correr o risco de ficar para trás, a Malásia corre o risco de ficar completamente fora do radar, especialmente com os investidores estrangeiros”, disse Jim Walker, diretor administrativo da Asianomics Ltd., como sede em Hong Kong, e ex-economista-chefe da CLSA Asia-Pacific Markets. “Sem dúvida as pessoas estão fugindo da Malásia”, disse ele, e a política do país é “de longe, a maior ameaça”.

Os investidores estrangeiros estão percebendo. Eles retiraram US$ 4,6 bilhões em ações e bonds no último trimestre, o que fez com que a moeda atingisse o menor valor em 17 anos.

Embora desde então o ringgit tenha se recuperado ao lado das moedas do mercado emergente, ele ainda registra uma baixa de aproximadamente 16 por cento neste ano, o pior desempenho na região Ásia-Pacífico.

O investimento estrangeiro direto aprovado caiu cerca de 42 por cento no primeiro semestre de 2015, para 21,3 bilhões de ringgits.

“As reformas não estão ocorrendo porque Najib está preocupado”, disse Saifuddin Abdullah, ex-vice-ministro do governo de Najib e ex-membro do conselho supremo de seu partido, Organização Nacional das Nações Malaias, que agora entrou em um partido opositor.

As empresas “estão em modo de manutenção” enquanto esperam o fim das incertezas políticas, disse ele.

O boom de dez anos das commodities melhorou a posição orçamentária e as vidas de muitos malaios, pois o PIB per capita mais do que dobrou e a taxa de pobreza caiu para 1 por cento.

Mas, à medida que os benefícios diminuem – o crescimento desacelerou do pico de 7,4 por cento em 2010 para cerca de 5 por cento agora –, o governo está recuando em estratégias como gastos conduzidos pelo Estado e as empresas estrangeiras estão contendo novos investimentos.

Comparação com o Brasil

Do outro lado do mundo, o Brasil é um exemplo de como isso nem sempre dá certo.

A presidente Dilma Rousseff aumentou os gastos no fim do primeiro mandato, quando o crescimento começou a desacelerar, e essa decisão ajudou a atiçar a inflação e contribuiu para o aumento da dívida.

O mercado emergente que era o queridinho dos investidores internacionais agora assiste à luta de sua líder pela própria sobrevivência política em meio ao escândalo de corrupção que envolve o gigante do petróleo, a estatal Petrobras.

A maior economia da América Latina está entrando na recessão mais profunda em pelo menos 25 anos.

Para Najib, fortalecer a economia e a confiança é fundamental, pois ele também está se defendendo de críticas à sua liderança em meio ao escândalo dos quase US$ 700 milhões que apareceram em suas contas bancárias antes da eleição em 2013.

Nessa eleição, sua coalizão perdeu o voto popular pela primeira vez, embora tenha conservado o poder.

Najib admitiu que o dinheiro chegou às suas contas, mas disse que tratava-se de doações políticas do Oriente Médio, não de fundos públicos, a mesma conclusão inicial a que chegou a comissão anticorrupção.

O governo também está envolvido em alegações de irregularidades financeiras na companhia estatal de investimento 1Malaysia Development Bhd., cujo conselho é presidido por Najib, e que quase deu o calote neste ano na dívida de 42 bilhões de ringgits.

A 1MDB não respondeu a um e-mail e a telefonemas em busca de comentários.

A empresa disse neste mês que o procurador-geral da Justiça não encontrou provas de irregularidades.

“É a incerteza com a investigação, do mesmo modo que observamos no Brasil, que aumenta a volatilidade”, disse Edwin Gutierrez, que ajuda a administrar US$ 13 bilhões como diretor de dívida do mercado emergente na Aberdeen Asset Management Plc, em Londres, comparando a 1MDB à investigação da Petrobras.

Distração política

Incrustada na ponta sul da península do Sudeste Asiático, a Malásia se situa em algumas das vias marítimas mais movimentadas do mundo e é um conduto comercial entre a Europa e potências asiáticas, como o Japão e a China.

Com uma área maior do que cada um dos estados dos EUA, à exceção de quatro, a Malásia é exportadora líquida de petróleo e gás natural e a segunda maior produtora de azeite de dendê do mundo.

O país tem diferenças com o Brasil: o déficit estimado do orçamento da Malásia equivale a um terço do déficit do Brasil como porcentagem do PIB e a inflação deste ano deve ser de 2 por cento a 3 por cento, na comparação com os 9,5 por cento do Brasil.

A Standard Poor’s classifica a Malásia no quarto grau de investimento mais baixo e rebaixou a nota do Brasil para o grau especulativo no dia 9 de setembro.

Contudo, ambos os presidentes se enredaram em empresas estatais. Dilma presidiu o conselho da Petrobras de 2003 a 2010 e disse que não sabia da corrupção enquanto estava na empresa, ao passo que Najib disse que não toleraria o uso indevido dos fundos da 1MDB.

A presidente do banco central da Malásia, Zeti Akhtar Aziz, reconheceu o impacto dos escândalos. “As pessoas estão distraídas agora porque o nosso país raramente tem eventos políticos dessa natureza”, disse ela em uma entrevista.

O gabinete de Najib não respondeu a um e-mail nem a telefonemas em busca de comentários.

‘A velha história de sempre’

“É a velha história de sempre quando os preços das commodities estão altos, se não houver nenhum escândalo financeiro ou político gigantesco esperando para afogar você em um enorme tsunami”, disse Lim Guan Eng, ministro-chefe do estado Penang e legislador do Partido da Ação Democrática, de oposição.

Dirigindo-se a investidores em Nova York no mês passado, Najib disse que a Malásia continua sendo um bom lugar para fazer negócios.

Nem todos têm certeza disso. A economia está “severamente prejudicada”, disse Andrew Harding, professor de Direito da Universidade Nacional de Cingapura.

“O país precisa de uma reforma profunda”, disse ele. “É possível que este seja o início de uma década perdida”.

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Agora, com seu primeiro-ministro envolvido em um escândalo de financiamento de muitos milhões de dólares, a Malásia corre o risco de se contagiar com o tipo de mal-estar que paralisou seu equivalente sul-americano no mercado emergente.

O primeiro-ministro Najib Razak, 62, negou qualquer irregularidade. Mas, enquanto as investigações avançam e os opositores, como o primeiro-ministro anterior, Mahathir Mohamad, pedem sua renúncia, o perigo é que a liderança adote a postura de combate a incêndios.

A economia já foi afetada pela desaceleração dos preços do petróleo e do gás natural e espera-se que Najib conceda donativos maiores aos pobres no orçamento do dia 23 de outubro. A Malásia poderia cair em uma “década perdida”?

“Além de correr o risco de ficar para trás, a Malásia corre o risco de ficar completamente fora do radar, especialmente com os investidores estrangeiros”, disse Jim Walker, diretor administrativo da Asianomics Ltd., como sede em Hong Kong, e ex-economista-chefe da CLSA Asia-Pacific Markets. “Sem dúvida as pessoas estão fugindo da Malásia”, disse ele, e a política do país é “de longe, a maior ameaça”.

Os investidores estrangeiros estão percebendo. Eles retiraram US$ 4,6 bilhões em ações e bonds no último trimestre, o que fez com que a moeda atingisse o menor valor em 17 anos.

Embora desde então o ringgit tenha se recuperado ao lado das moedas do mercado emergente, ele ainda registra uma baixa de aproximadamente 16 por cento neste ano, o pior desempenho na região Ásia-Pacífico.

O investimento estrangeiro direto aprovado caiu cerca de 42 por cento no primeiro semestre de 2015, para 21,3 bilhões de ringgits.

“As reformas não estão ocorrendo porque Najib está preocupado”, disse Saifuddin Abdullah, ex-vice-ministro do governo de Najib e ex-membro do conselho supremo de seu partido, Organização Nacional das Nações Malaias, que agora entrou em um partido opositor.

As empresas “estão em modo de manutenção” enquanto esperam o fim das incertezas políticas, disse ele.

O boom de dez anos das commodities melhorou a posição orçamentária e as vidas de muitos malaios, pois o PIB per capita mais do que dobrou e a taxa de pobreza caiu para 1 por cento.

Mas, à medida que os benefícios diminuem – o crescimento desacelerou do pico de 7,4 por cento em 2010 para cerca de 5 por cento agora –, o governo está recuando em estratégias como gastos conduzidos pelo Estado e as empresas estrangeiras estão contendo novos investimentos.

Comparação com o Brasil

Do outro lado do mundo, o Brasil é um exemplo de como isso nem sempre dá certo.

A presidente Dilma Rousseff aumentou os gastos no fim do primeiro mandato, quando o crescimento começou a desacelerar, e essa decisão ajudou a atiçar a inflação e contribuiu para o aumento da dívida.

O mercado emergente que era o queridinho dos investidores internacionais agora assiste à luta de sua líder pela própria sobrevivência política em meio ao escândalo de corrupção que envolve o gigante do petróleo, a estatal Petrobras.

A maior economia da América Latina está entrando na recessão mais profunda em pelo menos 25 anos.

Para Najib, fortalecer a economia e a confiança é fundamental, pois ele também está se defendendo de críticas à sua liderança em meio ao escândalo dos quase US$ 700 milhões que apareceram em suas contas bancárias antes da eleição em 2013.

Nessa eleição, sua coalizão perdeu o voto popular pela primeira vez, embora tenha conservado o poder.

Najib admitiu que o dinheiro chegou às suas contas, mas disse que tratava-se de doações políticas do Oriente Médio, não de fundos públicos, a mesma conclusão inicial a que chegou a comissão anticorrupção.

O governo também está envolvido em alegações de irregularidades financeiras na companhia estatal de investimento 1Malaysia Development Bhd., cujo conselho é presidido por Najib, e que quase deu o calote neste ano na dívida de 42 bilhões de ringgits.

A 1MDB não respondeu a um e-mail e a telefonemas em busca de comentários.

A empresa disse neste mês que o procurador-geral da Justiça não encontrou provas de irregularidades.

“É a incerteza com a investigação, do mesmo modo que observamos no Brasil, que aumenta a volatilidade”, disse Edwin Gutierrez, que ajuda a administrar US$ 13 bilhões como diretor de dívida do mercado emergente na Aberdeen Asset Management Plc, em Londres, comparando a 1MDB à investigação da Petrobras.

Distração política

Incrustada na ponta sul da península do Sudeste Asiático, a Malásia se situa em algumas das vias marítimas mais movimentadas do mundo e é um conduto comercial entre a Europa e potências asiáticas, como o Japão e a China.

Com uma área maior do que cada um dos estados dos EUA, à exceção de quatro, a Malásia é exportadora líquida de petróleo e gás natural e a segunda maior produtora de azeite de dendê do mundo.

O país tem diferenças com o Brasil: o déficit estimado do orçamento da Malásia equivale a um terço do déficit do Brasil como porcentagem do PIB e a inflação deste ano deve ser de 2 por cento a 3 por cento, na comparação com os 9,5 por cento do Brasil.

A Standard Poor’s classifica a Malásia no quarto grau de investimento mais baixo e rebaixou a nota do Brasil para o grau especulativo no dia 9 de setembro.

Contudo, ambos os presidentes se enredaram em empresas estatais. Dilma presidiu o conselho da Petrobras de 2003 a 2010 e disse que não sabia da corrupção enquanto estava na empresa, ao passo que Najib disse que não toleraria o uso indevido dos fundos da 1MDB.

A presidente do banco central da Malásia, Zeti Akhtar Aziz, reconheceu o impacto dos escândalos. “As pessoas estão distraídas agora porque o nosso país raramente tem eventos políticos dessa natureza”, disse ela em uma entrevista.

O gabinete de Najib não respondeu a um e-mail nem a telefonemas em busca de comentários.

‘A velha história de sempre’

“É a velha história de sempre quando os preços das commodities estão altos, se não houver nenhum escândalo financeiro ou político gigantesco esperando para afogar você em um enorme tsunami”, disse Lim Guan Eng, ministro-chefe do estado Penang e legislador do Partido da Ação Democrática, de oposição.

Dirigindo-se a investidores em Nova York no mês passado, Najib disse que a Malásia continua sendo um bom lugar para fazer negócios.

Nem todos têm certeza disso. A economia está “severamente prejudicada”, disse Andrew Harding, professor de Direito da Universidade Nacional de Cingapura.

“O país precisa de uma reforma profunda”, disse ele. “É possível que este seja o início de uma década perdida”.

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