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ARTIGO - Era dos Silvas? Que tal a era dos competentes?

Poucas vezes vi pessoas tão ilustres, prestigiadas e competentes como Antoninho Marmo Trevisan cometerem um equívoco tão gritante quanto o visto no artigo A era dos Silvas (leia ao lado). Talvez o fato de conhecer Lula, de ser seu amigo, influencie sua capacidade de julgar objetivamente. É tendência natural que venhamos a proteger amigos e […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h50.

Poucas vezes vi pessoas tão ilustres, prestigiadas e competentes como Antoninho Marmo Trevisan cometerem um equívoco tão gritante quanto o visto no artigo A era dos Silvas (leia ao lado).

Talvez o fato de conhecer Lula, de ser seu amigo, influencie sua capacidade de julgar objetivamente. É tendência natural que venhamos a proteger amigos e familiares. Mesmo assim, é espantoso que Trevisan considere Lula uma liderança . Nos últimos 13 anos, o que fez Lula que o credencie a ser Presidente do Brasil? Lula palpitou.

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E em seus palpites, foi de extrema infelicidade. Em 1989 proclamava um estado de ruptura e a implantação de um estado socialista. Em 1994, acusou FHC e a mídia de usarem o Plano Real de maneira eleitoreira, procurando transformar o então candidato em um demônio ou coisa-ruim de plantão. Em 1998, criticou o modelo neoliberal do governo, o que é uma estultície, considerando que este governo intervinha (e continua intervindo!) demais na economia e nos esfola com um sistema tributário iníquo, estúpido e irracional.

Lula viajou pelo país com as tais caravanas da cidadania , nome pomposo para populismo explícito. Se quilometragem rodada fosse sinal de competência, todo caminhoneiro seria candidato em potencial a presidência. E apesar de viajar e discutir, propor e palpitar, Lula não trabalhou. Não conhece nenhuma empresa a fundo, não sabe o que é um computador, talvez sequer saiba como enviar um e-mail.

Desconhece como é terrível a pressão de inúmeros grupos que compõem a socidade brasileira de hoje. Acha que conseguirá negociar com a socidade e seus diferentes segmentos como se estivesse na mesma mesa de negociação com os brucutus da indústria automobolística da década de 70 ou, na melhor das hipóteses, nas assembléias do PT, debelando companheiros de Libelu em manifestações trotskistas. Aliás, este conceito encontra correspondência em sua infeliz e recente afirmação a respeito dos méritos dos governos militares...

De mais a mais, o Brasil é um país complexo, com muitas demandas e pouco dinheiro (alô, alô. o Brasil é pobre, com um PIB apenas duas vezes maior que uma multinacional como a GM). Para gerar empregos, o país precisa crescer. E para crescer, precisa de investimento. Como o estado brasileiro é pachorrento, parasita, incompetente e perdulário, é necessário captar investimento externo. E investimento externo em tempos bicudos como os atuais, com refluxos de capital derivados de perdas bilionárias com estratégias equivocadas de globalização, é artigo raro. Se Lula quiser, poderá emitir papel e gerar inflação. E inflação significa escorchar as classes populares. Mas Lula não sabe o que significa economia, a não ser na conta básica de que 2+2 = 4.

A título de ilustração, que tal sabermos como era a contabilidade do Sindicato dos Metalúrgicos à época em que Lula era seu presidente? Contabilidades de sindicatos são infantis em comparação à economia brasileira de hoje, sustentados que são por um entulho chamado Contribuição Sindical.

Se formos analisar a qualidade do Partido dos Trabalhadores, fica ainda mais complicado entender o porquê da defesa apaixonada de Trevisan pelo candidato Lula. O Partido não tem quadros capazes e competentes para compor sequer o segundo escalão do governo federal. Mais: os municípios e estados sob responsabilidade do PT oscilam da mais absoluta inépcia com governos enrolados com o jogo do bicho para a mais absurda perfumaria, principalmente na cidade de São Paulo, que mais se aproxima da realidade do Estado brasileiro. Temos uma jardineira na cadeira de prefeita, muito preocupada em endireitar ruas e limpar jardins, mas completamente atarantada no que se refere a questões como orçamento, plano diretor, trânsito, transporte coletivo, etc. A dileta jardineira está visivelmente preocupada em manter a cafonérrima boutique Daslu em bairro residencial. Enquanto isso, seja em bairros residenciais, seja em bairros comerciais os camelôs, infame distorção de comércio comportando criminosos, traficantes, contrabandistas e outros tipos, travestida de questão social, continuam degradando a cidade. Outro exemplo? Que tal voltar os olhos para seu assessor, Guido Mantega, cuja grande contribuição como economista foi organizar compêndios sociológicos sobre sexo.

Pesando essas e outras características, não se encontra nada que possa justificar a posição de Trevisan. Talvez ele venha defendendo Lula como estratégia de negócio (legítima, aliás). Pode tornar-se consultor do governo, pleitear cargo público, negociar bons contratos de consultoria ou, quem sabe, diante da visão(?) que Lula tem do mundo, garantir mais uns caraminguás limitando a atuação de consultorias multinacionais no Brasil.

O problema que Trevisan não consegue enxergar não é o nome do candidato. Pouco nos importa se é Silva, Cardoso, Vargas ou Clinton. O que importa é sua capacidade, competência, nível intelectual, inteligência, perspicácia e as pessoas que escolhe para cumprir um projeto coadunado com um mercado e um mundo mais dinâmico e complexo.

Seria melhor Trevisan continuar seu brilhante trabalho e nos deixar escolher um candidato sem paixão. Duvido que Trevisan indicaria Lula para presidente ou executivo de alguma empresa, talvez nem de sua própria (e é bem provável que pouquíssimas empresas gostariam de ter Lula presidente). Os motivos seriam tão diversos quanto pertinentes. Exatamente por isso, não convém indicá-lo para ser presidente de um país com tantos problemas e tantas possibilidades quanto o nosso.

Jacques Ben Meir é publicitário

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