Economia

Argentinos recorrem a cofres bancários para proteger dólares

Investidores e poupadores que buscam um lugar seguro para guardar seus dólares devido ao medo de que o governo os confisque optam pelos cofres bancários


	A demanda de cofres na Argentina aumentou devido à incerteza gerada por restrições à compra de dólares impostas no fim de 2011 para frear a fuga de capitais
 (Joe Raedle/Getty Images)

A demanda de cofres na Argentina aumentou devido à incerteza gerada por restrições à compra de dólares impostas no fim de 2011 para frear a fuga de capitais (Joe Raedle/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2013 às 17h57.

Buenos Aires - Em uma agência bancária no centro de Buenos Aires, na Argentina, um grupo de pessoas espera ansiosamente para que um funcionário os conduza, de dois em dois, até seus cofres.

"O ritmo é tremendo. É assim todo o dia. Indo e vindo, não para nunca", se queixou o funcionário, cansado de ter de escoltar até o recinto que abriga os cofres dezenas de clientes diariamente.

Na Argentina, os cofres bancários se converteram em um bem cobiçado por empresas, investidores e poupadores, que buscam um lugar seguro para guardar seus dólares devido ao medo de que o governo os confisque.

Os argentinos guardam fora do sistema bancário entre 40 bilhões e 50 bilhões de dólares sem declarar. Também guardam suas notas verdes em geladeiras, debaixo de colchões ou de um piso solto, e até em potes de cozinha.

Segundo o governo, o país é o segundo do mundo atrás da Rússia, sem contar os Estados Unidos, com maior quantidade de notas físicas de dólares nas mãos de indivíduos.

A demanda de cofres aumentou devido à incerteza gerada por restrições à compra de dólares impostas no fim de 2011 para frear a fuga de capitais. Os cofres ficaram tão populares que alguns bancos estudam cobrar uma taxa adicional daqueles que acionarem seus cofres com uma frequência fora do normal.

"Venho tirar dólares do cofre cada vez que preciso. Não guardo dinheiro em contas, e menos dólares. Não confio no sistema bancário, não confio em ninguém neste país", disse Andrea, uma advogada de 45 anos que pediu anonimato e que demorou um mês para conseguir um cofre.

Desde o início do controle cambial, o peso argentino perdeu quase a metade de seu valor pela alta demanda do dólar no mercado negro, e os poupadores retiraram cerca de 8 bilhões de dólares dos bancos, quase 50 % dos depósitos em moeda estrangeira.


O valor do dólar no mercado negro supera em 70 % a cotação oficial, onde está proibida a compra de divisas para poupar. Os poupadores não são obrigados a declarar o conteúdo dos cofres, protegidos pelo direito à propriedade privada consagrado na Constituição nacional.

Apesar disso, na semana passada circularam rumores sobre uma intervenção governamental sobre os cofres. O chefe da unidade estatal de combate à lavagem de dinheiro, José Sbatella, negou os rumores.

"Não vamos atrás dos dólares que estão nos cofres", disse o funcionário citado pelo jornal Clarín.

Na Argentina, há 50 mil cofres nas entidades financeiras, ou um para cada 81 habitantes. No vizinho Uruguai, que até há pouco era considerado um paraíso fiscal e onde os argentinos refugiaram suas economias por décadas, há um cofre para cada 168 habitantes.

No Brasil é possível alugar um cofre pequeno em um banco local por cerca de 1.900 reais anuais, mas as entidades privadas praticamente aboliram o serviço nos últimos anos, oferecido apenas em poucas agências bancárias estatais e usado quase sempre para guardar joias ou documentos.

Os bilhões de dólares que as empresas, os investidores e os poupadores guardam no país são apenas a ponta do iceberg. O governo estima que os argentinos têm 160 bilhões de dólares no exterior, um número que representa mais de quatro vezes as reservas internacionais do Banco Central do país.

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