Economia

Argentina paralisa exportação de trigo

Limites impostos tiveram um efeito inverso, afetando o plantio na Argentina na última temporada


	Trigo: parada nas exportações argentinas vem no momento em que o mundo precisa do seu cereal, especialmente o Brasil, o principal comprador do grão argentino que está no pico da entressafra
 (AFP / Thomas Samson)

Trigo: parada nas exportações argentinas vem no momento em que o mundo precisa do seu cereal, especialmente o Brasil, o principal comprador do grão argentino que está no pico da entressafra (AFP / Thomas Samson)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2013 às 14h15.

Buenos Aires - A Argentina, tradicionalmente um importante exportador de trigo, está enfrentando uma escassez do grão que suspendeu as suas exportações e levou o governo a adotar controles de preços "em uma tentativa de manter o pão para os consumidores" antes das eleições.

Essa parada nas exportações argentinas de trigo vem no momento em que o mundo precisa do seu cereal, especialmente o Brasil, o principal comprador do grão argentino que está no pico da entressafra.

Limites de exportação impostos pelo país sul-americano, que foram aplicados para garantir amplo abastecimento de alimentos domésticos, tiveram um efeito inverso, afetando o plantio na Argentina na última temporada. Agricultores migraram para outras culturas, como a soja, em função das restrições.

A crise de trigo da Argentina ocorre em um momento delicado para o mercado global.

Danos às culturas na China, grande produtor global, pode forçá-la a importar seus maiores volumes em duas décadas.

No Brasil, a safra passada quebrou para 4,3 milhões de toneladas, ante 5,7 milhões de toneladas na temporada anterior. A próxima colheita brasileira pode se recuperar para 5,6 milhões de toneladas, segundo o Ministério da Agricultura, mas só chega ao mercado nos próximos meses.

Uma estimativa acima do previsto para a oferta exportável da Argentina elevou os preços do pão no país, alimentando uma das taxas de inflação mais altas do mundo, num momento em que os eleitores se preparam para ir às urnas na eleições parlamentares em outubro.

Atraso na próxima safra

Além disso, a próxima colheita da Argentina será atrasada, porque o tempo seco afetou o início do plantio em 2013. Apenas 220.000 hectares estão plantados com trigo este ano nas províncias do norte de Salta, Jujuy, Chaco e Formosa, menos da metade dos 530 mil hectares semeados nessas áreas em 2012.


Essas províncias, embora não estejam incluídas no principal cinturão de trigo da Argentina, no sul da província de Buenos Aires, são geralmente as primeiras a colher o produto, no início de novembro.

"Este é um grande problema, porque estamos em julho e os suprimentos já estão se esgotando", disse Leandro Pierbattisti, analista da indústria de grãos do país. "A tradicional colheita antecipada em novembro não vai estar lá este ano." A Argentina é oitavo fornecedor de trigo do mundo e a maior parte de sua colheita ocorre em dezembro.

Apesar de atrasada, a nova safra argentina deve ser maior, somando 13 milhões de toneladas, ante 10 milhões de toneladas na safra passada, segundo levantamento do governo dos EUA.

Com a escassez atual, o Brasil, geralmente o maior mercado para a Argentina, foi forçado a comprar mais trigo de países do Hemisfério Norte este ano.

No mercado brasileiro, os preços estão em valores recordes nominais em função da baixa oferta.

Na Argentina, os preços também dispararam.

A escassez levou o preço do trigo para consumo doméstico na Argentina para 406 dólares por tonelada, contra 219 dólares em janeiro e 175 dólares em julho de 2012.

Em comparação, o trigo soft de inverno dos EUA está sendo oferecido para agosto e setembro no Golfo do México dos EUA em 275 dólares por tonelada.

Moinhos brasileiros já importaram em junho mais trigo nos EUA do que em seu principal fornecedor.

A alta nos preços do trigo argentino também foi impulsionada pelo mau tempo que atrapalhou o que já era esperado para ser uma colheita fraca.

A Argentina reagiu com os novos regulamentos, incluindo uma lei promulgada no início deste mês obrigando os produtores de trigo e farinha a deter qualquer exportação e priorizar o abastecimento do mercado local.

O governo negociou com os fabricantes de pão para fixar os preços do pão em 10 pesos por quilo, em oposição ao preço de 18 pesos mercado atual. Algumas padarias e supermercados concordaram em oferecer pão ao preço mais baixo apenas até as 10h todos os dias, elevando o preço a 18 pesos no final do dia.

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