Economia

Argentina e Brasil competem por investimentos

Tanto Macri quanto Temer estão unidos pela necessidade de tirar seus países do quadro de recessão, queda do consumo e déficit fiscal


	Brasil: os argentinos disseram às multinacionais que esperam investimentos de mais de 30 bilhões de dólares
 (Elza Fiúza/ABr)

Brasil: os argentinos disseram às multinacionais que esperam investimentos de mais de 30 bilhões de dólares (Elza Fiúza/ABr)

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Da Redação

Publicado em 16 de setembro de 2016 às 15h05.

O clássico de futebol entre Brasil e Argentina foi transferido para a economia nesta semana, quando os dois países saíram em busca de investimentos. Essa concorrência, contudo, é vista como saudável por economistas e empresários, podendo, inclusive gerar benefícios comuns.

Em Buenos Aires, o presidente Mauricio Macri foi anfitrião de um fórum com mais de 1.600 homens de negócios do mundo todo. O objetivo foi o de seduzi-los com seu modelo pró-mercado. "Invistam, que lhes damos garantias", foi a frase mais ouvida no encontro.

Em Brasília, o novo governo de Michel Temer lançou um plano de concessões e privatizações nos setores de transporte, mineração, eletricidade, portos e aeroportos, entre outros.

Tanto Macri quanto Temer estão unidos pela necessidade de tirar seus países do quadro de recessão, queda do consumo e déficit fiscal.

No Fórum de Investimentos do Centro Cultural Kirchner (CCK) o anúncio de Temer ainda não havia repercutido, mas o economista de la consultora Abeceb.com, especializada na relação Brasil-Argentina, Dante Sica, disse à AFP que os dois vizinhos vão "disputar os mesmos recursos".

"Claramente há algum aspecto de concorrência saudável em capturar recursos. Mas também há complementariedade na região", opina Sica.

Muito ruído

Enquanto no fórum argentino, líderes de grandes companhias, como Coca Cola e Siemens, rasgavam elogios à política de abertura de Macri, em Brasília a tática para atrair investidores veio com o plano "Crescer".

"Vemos com bons olhos as medidas (de Temer). Vão beneficiar toda a região. O Brasil é nosso principal parceiro comercial e temos investimentos lá", comentou Luis Cagliari, diretor da construtora Royal Sudamérica, em um dos grandes corredores do fórum.

Os argentinos disseram às multinacionais que esperam investimentos de mais de 30 bilhões de dólares.

No entanto, no 'Mini Davos' argentino houve mais ruídos do que acordos. A Pan American Silver prometeu 1 bilhão de dólares para explorar uma reserva de prata no sul. A alemã Siemens espera desembolsar 5 bilhões de euros até 2020. E não houve muito mais do que isso. A frase mais escutada foi "é preciso esperar e ver".

A economia argentina está estagnada e o consumo caiu em média 14%, segundo os sindicatos patronais do comércio. A inflação anual é de 43% anual, segundo o Banco Central da Argentina.

Além disso, há tensão sindical. As centrais de tralhadores conservam um poder raro nos dias de hoje e preparam uma greve geral para outubro. Não é uma boa notícia para os investidores.

O mundo de olho na América Latina

Há empresários que comemoram as mudanças na Argentina e no Brasil, após mais de uma década com governos de centro-esquerda.

"Me pegou de surpresa esse comentário (o plano Temer). Mas é evidente que toda a região está empenhada em buscar investimentos", avalia Julián Rooney, empresário da Câmara de Comércio argentino-britânica.

"Os investimentos são a fonte de geração de desenvolvimento. Não são as políticas populistas como as da Venezuela as que atraem investimentos, mas as que garantem as regras do jogo", analisa Rooney.

"Não estou a par (do anúncio brasileiro), mas posso dizer que o Fórum (argentino) é muito importante para atrair investimentos, é um esforço muito importante", disse Tomas Hess, del gigante Exxon Movil.

Sica acredita que o clima favorece os investimentos. "O mundo tem uma liquidez excedente e está olhando muito para a América Latina. Argentina e Brasil continuam sendo focos principais de atenção".

Por enquanto, a única certeza é de que a economia brasileira voltará a retroceder neste ano, talvez 3,8% como em 2015. A Argentina deve ter um recuo 1,5%. Acabou a era de crescimento "a taxas chinesas".

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