Javier Milei, presidente da Argentina (Luis ROBAYO / AFP/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 11 de março de 2024 às 18h20.
Última atualização em 11 de março de 2024 às 18h20.
A Argentina está prestes a obter um crédito externo de US$ 15 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para fortalecer as reservas do Banco Central do país. A informação foi compartilhada por fontes envolvidas nas negociações entre o país e o FMI ao jornal "Ámbito Financiero".
Em entrevista recente, o presidente Javier Milei também expressou seu desejo em acabar com o controle cambial — o chamado cepo — o mais rápido possível, mas que prefere alinhar as expectativas com o FMI e ter o respaldo da instituição.
"Eu prefiro ir pelo seguro, como dizem no FMI, e falar em meados do ano. Se me dão US$ 15 bilhões acaba amanhã o controle cambial", disse em entrevista à televisão Milei.
Outras fontes também afirmam que Gita Gopinath, vice-diretora do FMI, manifestou preocupações a Milei sobre a possibilidade de dolarização da economia do país, enquanto o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, deixou em aberto a possibilidade de uma assistência futura dos EUA à Argentina nesse caso.
A negociação é vista com uma mudança de postura do governo americano em relação a conversas anteriores, quando Washington se mostrava contrário a esse recurso.
Segundo o jornal argentino, o FMI está "assombrado" pela contundência do ajuste fiscal feito pela gestão de Milei, que inclui uma redução do déficit do Tesouro argentina em 5 pontos percentuais do PIB e outras medidas que podem fazer essa economia chegar a 10 pontos percentuais do PIB.
Segundo Milei, o cepo só será revertido quando não haja risco de hiperinflação — o país registrou inflação de xx% nos últimos 12 meses — e que mudar a regra hoje seria um risco. "Abrir [o controle cambial] hoje seria um risco porque a possibilidade de uma hiperinflação nesse caso é de 50/50", disse em entrevista, como lembrou o Ámbito Financiero.
A relação da Argentina com o dólar é complexa, embora por uma razão simples: há grande procura pela moeda americana, mas ela está em falta. Para lidar com o problema, o governo adotou uma série de regras para dificultar o acesso aos dólares ao longo dos anos, que deram origem a um sistema complicado e a um forte mercado paralelo.
O modelo atual de controle cambial, apelidado de "cepo", foi criado em 2011, no governo de Cristina Kirchner, para dificultar o acesso aos dólares, com o objetivo de tentar frear a desvalorização do peso. Com isso, empresas que precisam da moeda estrangeira, para pagar importações ou empréstimos ou remeter lucros ao exterior, por exemplo, dependem de aprovação de um órgão estatal, a Afip.
No entanto, com a dificuldade de acesso, ganhou força o mercado paralelo, apelidado de "dólar blue". Embora operado de maneira irregular, a cotação do blue é divulgada com destaque. Seu valor serve como termômetro da economia argentina e referência para transações do dia a dia. É comum que argentinos comprem dólares no mercado paralelo para fazer poupança, por exemplo.