Economia

Argentina atrasa pagamentos para o Brasil

Há seis meses, os dois países enfrentaram a mesma situação


	Linha de produção de automóveis: a indústria automobilística é a mais afetada
 (Germano Lüders/EXAME.com)

Linha de produção de automóveis: a indústria automobilística é a mais afetada (Germano Lüders/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2014 às 08h34.

Brasília - Atingida por uma grave crise cambial, a Argentina suspendeu novamente o fluxo de pagamento aos exportadores brasileiros e abriu um novo foco de tensão com seu principal parceiro comercial. Há seis meses, Brasil e Argentina enfrentaram a mesma situação.

Os atrasos levaram os empresários dos setores mais prejudicados a pressionar o governo brasileiro para encontrar uma solução urgente. A indústria automobilística é a mais afetada justamente num momento em que enfrenta problemas com o baixo crescimento doméstico.

Nas últimas duas semanas, o problema se agravou. Autoridades econômicas e diplomáticas tentam um acordo para retomar o fluxo de remessas dos pagamentos. A indústria cobra uma posição mais dura de Brasília junto ao governo argentino.

Embora o maior problema esteja concentrado no setor automotivo, outras indústrias são afetadas. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, aponta, além dos atrasos nos pagamentos, travas na liberação das licenças de importação pelos argentinos.

Os empresários brasileiros pressionam pela criação de uma linha de financiamento ao importador argentino como garantia ao pagamento das empresas no Brasil. Essa opção, discutida no primeiro semestre, foi abandonada por restrições colocadas por Buenos Aires.

O problema ressurgiu depois de um período de estabilidade. Em Brasília, sabe-se que a Argentina sofre com a falta de dólares, sobretudo neste período de fim da safra agrícola em que o país vizinho registra uma queda significativa nas exportações.

Negociadores brasileiros abriram conversas para tentar regularizar o fluxo de pagamentos aos exportadores nacionais, mas fontes informaram ao jornal O Estado de S. Paulo que há pouco otimismo.

A falta de divisas na Argentina impede até mesmo uma pressão muito forte do lado de cá da fronteira. A situação pode reduzir ainda mais o fluxo comercial entre os dois países.

Operação

Os importadores argentinos de produtos brasileiros precisam depositar no Banco Central do país os pesos para pagamento das suas compras.

Os pesos são, então, convertidos em dólares para pagamento das empresas brasileiras, o que vem sendo atrasado porque o governo de Cristina Kirchner limita a saída de moeda do país para tentar conter a queda das suas reservas.

Hoje, a Argentina tem US$ 28,2 bilhões de reservas em moeda estrangeira, US$ 2 bilhões a menos do que no final de 2013 e quase US$ 9 bilhões a menos do que há 12 meses.

Alberto Alzueta, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina, diz que os argentinos só têm tido autorização para comprar petróleo e gás (que consome US$ 15 bilhões por ano) e medicamentos.

Todos os demais produtos ficam em segundo plano. "O quadro é bastante cinza, vai ficar negro."

Uma fonte graduada do governo informou que a presidente Cristina Kirchner tem tentado marcar uma reunião bilateral com Dilma em Nova Iorque, em paralelo à reunião da 69ª Assembleia Geral da ONU. Mas Dilma resiste ao encontro a todo custo.

As reuniões de alto nível entre os dois países, que deveriam ser trimestrais, estão esquecidas. A última ocorreu em janeiro. Durante a crise do default argentino, Dilma defendeu os vizinhos, mas o Brasil tem, na verdade, evitado se envolver diretamente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaArgentinaComércio exteriorCrises em empresasExportações

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor