Economia

Antes fazer pouco do que fazer errado

É isso que tem prevalecido na política econômica. Pena que tantas áreas do governo, com destaque para o Itamaraty, mostrem tamanha obsessão pelo erro

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Da Redação

Publicado em 26 de março de 2010 às 15h45.

É realmente uma pena que o Brasil, que vinha com tudo para comemorar um 2008 muito bom nos resultados básicos da economia, tenha encontrado em seu caminho um desses desmancha-prazeres que freqüentemente dão um jeito de aparecer nas piores horas. O terceiro trimestre, como se viu, registrou um avanço de quase 7% no PIB em relação ao mesmo período de 2007. Não houve como comemorar, porém. O grande número apareceu, brilhou por um instante e foi embora, secado pela certeza de que, já naquele momento, a crise mundial estava provocando outras cifras na economia brasileira. Tudo bem; fica para outra vez. O que importa é o que pode ser feito agora e qual a garantia de que o governo, diante das dificuldades já presentes no momento e das que vão aparecer no curto prazo, resista à tentação e às pressões para tomar decisões erradas.

Garantia, mesmo, não há nunca, mas existe o conforto relativo de saber que até agora não parece ter avançado nenhuma idéia mais séria de tentar as soluções tipo "tem de mudar tudo". Há ações do governo, mas não se pensa em "pacote". Medidas administrativas foram tomadas aqui e ali, mas ninguém propôs remédios jamais testados antes ou, pior, já testados com fracasso. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que a taxa de juro é um absurdo, mas segura no cargo o presidente do Banco Central, que mantém os juros no nível em que estão; joga no vermelho e no preto ao mesmo tempo e consegue, assim, agradar a platéia sem correr o risco de mudanças que poderiam levar a economia a território desconhecido.

O presidente, nessa questão, parece mais inclinado a ficar com o que sabe do que a tentar o que não sabe. Sabe, por exemplo, que o Brasil cresceu a 6,8% num trimestre durante o qual os juros estavam basicamente tão altos quanto estão agora; se forem reduzidos em meio ponto ou coisa parecida, pois muito melhor que isso não dá para fazer de uma vez só, quantos por cento a mais a economia poderá crescer? Como ninguém é capaz de apresentar um número que possa ser levado a sério, a impressão é que o governo prefere ficar com a velha máxima: se você não tem certeza a respeito do que precisa fazer, é melhor não fazer nada.

Essa espécie de calmaria na área econômica contrasta com a insaciável busca pelas soluções comprovadamente fracassadas que marcam outras áreas do governo. Ainda não dá para dizer qual delas acabará com o título de pior ao fim do governo Lula; trata-se, no caso, de campeonato por pontos corridos, em que o vencedor será quem acumular o maior número de derrotas, e resta muito jogo para ser jogado. Mas o final de 2008 parece estar confirmando que vai ser difícil tirar a taça da área de política externa. Não consegue ganhar uma, desde o começo do atual governo, e tem tudo para chegar a 31 de dezembro de 2010 no topo da classificação geral. Justo agora, por exemplo, fechou o ano com chave de ouro na Cúpula da América Latina e Caribe, recepcionada pelo Brasil nas praias da Costa do Sauípe. A grande vitória da reunião, de acordo com o ministro do Exterior, Celso Amorim, foi a ausência dos Estados Unidos, da Espanha e de Portugal - algo que certamente abre possibilidades ilimitadas de novos sucessos no futuro; basta, para isso, dar um trato na lista de convidados. Depois dessa não seria preciso dizer mais nada, mas a coisa não ficou por aí. O Itamaraty queria que a cúpula eliminasse a cobrança dupla da Tarifa Externa Comum no comércio da região. Não conseguiu; o Paraguai não aceitou, e o chanceler Amorim, sempre disposto a entender tudo, disse que se fosse paraguaio também não iria aceitar. Queria que fosse aprovado um Código Aduaneiro. Também não conseguiu. Para encerrar, o Brasil se dispôs a dobrar sua contribuição, hoje na casa dos 70 milhões de reais, para um "Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul", poço sem fundo do qual já é o maior contribuinte. É uma sorte, realmente, que reuniões vitoriosas como essa da Costa do Sauípe não aconteçam a toda hora.

O Itamaraty não é pago para ser amigo ou inimigo de A ou B, mas para defender o interesse nacional; em vez disso, preferiu defender o conjunto de idéias e desejos de seus chefes, que há seis anos cedem tudo o que podem aos vizinhos de continente na vã esperança de um dia liderá-los numa frente em favor do bem universal. Mas a generosidade brasileira, sobretudo em relação aos países classificados como de "esquerda", não deu certo - para eles, o Brasil não é generoso, é apenas pusilânime. Sua reação diante disso, da Bolívia ao Equador, do Paraguai à Venezuela, é bater cada vez mais.

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