Economia

América Latina está prestes a ter a pior contração do período pós-guerra

Tendência negativa se intensifica à medida que o número de infecções aumenta a profundidade das medidas de contenção social

Brasil: país anunciou até agora medidas de apoio econômico no valor de mais de 3% do PIB. Mas ainda é pouco (Alexandre Schneider/Getty Images)

Brasil: país anunciou até agora medidas de apoio econômico no valor de mais de 3% do PIB. Mas ainda é pouco (Alexandre Schneider/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 27 de março de 2020 às 13h59.

Última atualização em 27 de março de 2020 às 20h24.

O ambiente macroeconômico e financeiro nos países latino-americanos tem se deteriorado rapidamente nas últimas semanas, em um ritmo sem precedentes, depois que as políticas de isolamento social e de fechamento do comércio não essencial começaram a ser implantadas pelos governos contra a pandemia de coronavírus. Nesse cenário, a economia América Latina deverá contrair 3,8% em 2020, segundo previsão do Goldman Sachs. A expectativa anterior, divulgada há uma semana era de um retração de 1,2%.

O tamanho da queda é maior do que os 2,1% registrados no ano seguinte à crise financeira global de 2008 e que os 2,4%, durante a crise da dívida de 1983, ambos episódios de grave crise súbita.

E a previsão é que essa tendência negativa se intensifique significativamente à medida que o número de infecções aumenta e medidas de contenção continuam a se expandir. "Nesse cenário, um grande número de falências não apenas minaria o ritmo da recuperação quando o surto viral desaparecer mas também teria um impacto perturbador no mercado de trabalho", diz o banco.

O choque sentido na América Latina será grave e de duração incerta, diz o Goldman, dada a falta de parâmetros históricos apropriados para comparação: "Isso reflete o fato de que a resposta à pandemia de coronavírus representa, em última análise, uma restrição física à atividade econômica (em oposição a uma restrição financeira) entre economias altamente integradas e especializadas que não têm precedentes na história do pós-guerra".

A situação é agravada pelo cenário externo, com as maiores economias do mundo também lutando contra os efeitos da pandeamia e do isolamento social que devem levar o mundo a uma profunda recessão. A equipe do Goldman Sachs espera que o PIB  global contraia cerca de 1%.

Cada um vai como pode, até o Brasil

"O sucesso é medido pela altura em que você salta quando atinge o fundo do poço", disse o general do Exército dos Estados Unidos George S. Patton durante a Segunda Guerra Mundial em frase destacada em relatório da instituição desta sexta-feira, 27. O banco destaca que todos os países da região vem fazendo estímulos econômicos, mesmo aqueles com capacidade limitada, como Brasil e Argentina.

O relatório destaca que, apesar de seu espaço fiscal apertado, o Brasil anunciou até agora medidas de apoio econômico no valor de mais de 3,0% do PIB. Elas incluem linhas de crédito direcionadas e subsidiadas de bancos públicos, incentivos fiscais e transferências de renda para famílias e empresas, adiamento de pagamento de dívidas a empresas e repasses adicionais a saúde e a estados e municípios.

Mas faz uma ressalva: "Esperamos que o Congresso aumente a magnitude e amplie o escopo e o alcance das medidas de apoio fiscal propostas pelo governo", diz.

"O objetivo primordial de curto prazo não é a ortodoxia fiscal, mas impedir o colapso e o congelamento profundo da atividade econômica. Afinal, uma contração repentina e profunda da atividade podem inibir negócios bem gerenciados, financeiramente sólidos e eficientes", diz o texto assinado por Albeto Ramos, economista da instituição.

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