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Altas contas da pandemia são pagas com impressão de dinheiro

Em meio à crise do coronavírus, formuladores de políticas estão eliminando as barreiras entre emprestar o dinheiro de que precisam e simplesmente criá-lo

Onda: a história está repleta de episódios em que políticos assumiram o controle das máquinas de impressão e injetaram muito dinheiro na economia (Viaframe/Getty Images)

Ligia Tuon

Publicado em 17 de maio de 2020 às 08h56.

Última atualização em 17 de maio de 2020 às 08h56.

Obrigados a gastar quantias recordes devido à ameaça de outra Grande Depressão, formuladores de políticas estão eliminando as barreiras entre emprestar o dinheiro de que precisam e simplesmente criá-lo.

A maioria das economias modernas tem buscado manter as duas atividades o mais separadas possível. O esquema típico determina que políticos eleitos se encarreguem dos orçamentos e abordem qualquer déficit com emissões nos mercados de títulos. Enquanto isso, a máquina para impressão de dinheiro era exclusiva de outra área do governo: o banco central.

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Mas essas barreiras começaram a se tornar porosas após a crise financeira de 2008. E, na crise de coronavírus , praticamente desapareceram.

Com indústrias inteiras fechadas e desemprego em alta, são os gastos públicos que mantêm milhões de famílias e empresas à tona. Governos envolvidos neste esforço de alívio enfrentam alguns dos maiores déficits orçamentários da história. E estão pagando pelo menos algumas das contas com o que são, efetivamente, empréstimos de seus próprios bancos centrais: dívidas que podem ser roladas indefinidamente e se parecem, na verdade, com dinheiro.

“Tivemos uma fusão da política monetária e fiscal”, diz Paul McCulley, ex-economista-chefe da Pacific Investment Management Co.

“Não tivemos uma declaração nesse sentido”, diz McCulley, que agora leciona na Universidade de Georgetown. “Mas seria surpreendente se você tivesse uma declaração - você apenas faz.”

Nos EUA, o Federal Reserve deve comprar US$ 3,5 trilhões em títulos neste ano, segundo estimativas da Bloomberg Economics. A maior parte será de Treasuries, cobrindo a maior parte de um déficit fiscal estimado em US$ 3,7 trilhões. Ninguém sabe quando a dívida sairá do balanço público para as mãos de investidores privados, se for o caso.

Histórias semelhantes ocorrem em economias desenvolvidas da Europa ao Japão, e mesmo em alguns mercados emergentes, como Indonésia e Polônia.

Por trás do antigo tabu contra o que é conhecido como “monetizar a dívida” está o temor de inflação. A história está repleta de episódios em que políticos assumiram o controle das máquinas de impressão e injetaram muito dinheiro na economia, o que descontrolou os preços e corroeu o valor real de todos os tipos de poupança, de contas bancárias a carteiras de títulos.

Bancos centrais têm se mantido à parte dos governos precisamente para colocar freios quando os políticos vão longe demais. Essa autonomia provavelmente será necessária novamente um dia, diz McCulley, que ajudou a guiar a Pimco durante a crise financeira de 2008. “Simplesmente não é necessária agora. Então, por enquanto, vamos suspendê-la.”

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