Mão segura tesoura (Leo Cinezi/SXC)
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de junho de 2015 às 17h50.
São Paulo - As medidas de ajuste fiscal passaram, mas a dúvida permanece: elas serão suficientes para garantir a meta de superávit primário de 1,2% em 2015?
A arrecadação está desabando, disparando rumores de que o alvo será modificado. O ministro da Fazenda Joaquim Levy diz que o debate é precipitado.
Alguns agentes do mercado consideram que atingir algo próximo de 0,8% já seria suficiente para impedir o rebaixamento da nota de crédito, objetivo primeiro do esforço fiscal.
No debate “O Ajuste Fiscal, Emprego e Produtividade”, promovido pela Fecomercio na sua sede em São Paulo na manhã desta sexta-feira, alguns economistas notaram o outro lado: mesmo difícil, a economia atual pode não ser suficiente.
“Enquanto não tivermos a capacidade de sinalizar estabilidade na trajetória da dívida pública, o crescimento não vai voltar. Quem fala que o governo está forçando a barra precisa lembrar que um superávit de 2% é o mínimo para estabilizar divida bruta, e mais que o dobro é necessário para estabilizar a dívida líquida”, diz Fernando Holanda Barbosa, pesquisador do IBRE/FGV.
Além disso, o ajuste só está enxugando gelo na medida em que o aumento de juros pelo Banco Central exige por si só uma montanha cada vez maior de recursos. A despesa com juros saltou de R$ 195 bilhões em 2010 para uma estimativa de R$ 390 bilhões em 2015.
“Ao elevar os juros se está ampliando o custo de financiamento da dívida que já é elevado, asfixiando o sistema de crédito e inibindo a atividade. Todo o esforço hercúleo para geração de um superávit primário será insuficiente para pagar o acréscimento do custo de financiamento da divida. É uma grande distorção que tem que ser enfrentada”, diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.
Todos apontaram que o ajuste é necessariamente doloroso, com efeitos sobre o emprego e os salários, mas ainda assim é possível proteger os mais pobres das suas piores consequências.
Além disso, a alternativa ao ajuste é ainda pior: “uma crise mais profunda e mais prolongada”, nas palavras de Holanda.