Agropecuária gerou mais de 36 mil postos de trabalho em junho
Apesar da crise, o setor agropecuário teve um avanço de 1% do PIB no primeiro trimestre deste ano
Agência Brasil
Publicado em 28 de julho de 2017 às 10h45.
Última atualização em 28 de julho de 2017 às 10h46.
Esta semana foi marcada por importantes datas referentes à agricultura brasileira, culminando, hoje (28), no Dia do Agricultor.
O setor, que é um dos principais da economia do país, engloba desde o agronegócio à agricultura de subsistência, envolve também movimentos sociais, indígenas, quilombolas, agricultores familiares, em uma produção capaz de abastecer grande parte do mercado interno e ter desempenhos de destaque no mercado externo.
A Lei que instituiu a agricultura familiar no Brasil, Lei nº 11.326/2006, completou 11 anos na segunda-feira (24). Na terça-feira, foi comemorado o Dia da Agricultura Familiar.
Os dados do setor são representativos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar da crise, o setor agropecuário como um todo teve um avanço de 1% do Produto Interno Bruto (PI B) no primeiro trimestre deste ano.
O PIB do setor cresceu 13,4% na comparação com o último trimestre do ano passado, no melhor desempenho em termos trimestrais desde 1996.
Em termos de geração de empregos, a agropecuária teve o melhor saldo (diferença entre admissões e demissões) entre os setores econômicos, com 36.827 novos postos, conforme os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.
Além da agricultura, apenas a administração pública teve saldo positivo, de 704 novos postos. Os demais setores tiveram mais demissões que admissões.
Já a agricultura familiar faz a comida chegar até a mesa de cada brasileiro; produzindo mais 50% dos produtos da cesta básica.
"O agricultor, além de fazer a diferença para a produção, é quase um geneticamente modificado, porque tem muita coragem de pegar todos os seus recursos do ano, jogar no chão como semente, esparramar bem - não tem jeito de juntar - e depois ficar ali, torcendo para chover, para não chover, para receber na hora de vender. É um cidadão muito corajoso, que faz muita diferença para a humanidade", diz o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi.
Para este ano é esperada uma safra recorde de grãos, com a produção de 237,2 milhões de toneladas, um aumento de 27,1% ou 50,6 milhões de toneladas frente às 186,6 milhões de toneladas da safra passada, de acordo com a última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento.
Agricultura Familiar
Segundo dados do último Censo Agropecuário, a agricultura familiar representa 84,4% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros e é o setor responsável pela base econômica de 90% dos municípios com até 20 mil habitantes e responde por 38% do valor bruto da produção agropecuária nacional.
Esses agricultores ocupam um quarto da terra agrícola, mas produzem 87% da mandioca do país, 69% do feijão, 59% dos porcos, 58% dos lácteos, 50% dos frangos, 46% do milho, 33,8% do arroz e 30% do gado do Brasil.
"O agricultor familiar tem um papel importante no desenvolvimento do nosso país, conquistou [desde o governo de Fernando Henrique Cardoso] políticas públicas e reforçou economicamente o setor. Tivemos uma melhora significativa nas condições de vida do agricultor familiar", diz o coordenador-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil, Marcos Rochinski.
Rochinski, no entanto, diz que o setor está preocupado com a perda de benefícios devido à extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário, transformado no governo de Michel Temer na Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário e no contingenciamento de recursos, que de acordo com a Confederação, chegou a 47% em determinadas políticas.
"Nossa posição é tradicionalmente mais comemorativa, mas esse ano é mais de protesto, para trazer a tona que estamos perdendo os investimentos. Não é à toa que alguns números começam a dizer que a fome volta a assolar e ser presente no meio rural, coisa que tínhamos conseguido eliminar. Tivemos melhoras significativas, mas nesse momento, estão todas em risco", diz.
Segundo a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, foram disponibilizados R$ 30 bilhões para serem investidos na safra 2017/2018, como prevê o Plano Safra da Agricultura Familiar 2017/2020, lançado em maio deste ano.
"Acreditamos que há um aumento na participação da agricultura familiar no contexto geral da agricultura brasileira. Para se ter ideia, o Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], em 2006, disponibilizava R$ 7 bilhões, hoje, são R$ 23 bilhões. Triplicou em dez anos", ressalta o subsecretário da Secretaria de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, Everton Augusto Paiva Ferreira.
Disputas
O campo também é palco de disputas. Esta semana, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) encampou a Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária, que teve início no último dia 25.
O movimento ocupou terras do ex-deputado e ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), do empresário Eike Batista, do e x-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira e do grupo Amaggi, da família de Blairo Maggi, entre outras.
Em nota, o MST diz que ocupou terras de pessoas acusadas, no cumprimento de função pública, de atos de corrupção, como lavagem de dinheiro, favorecimento ilícito, estelionato e outros.
O movimento, que tem suas origens em organizações que existem no país desde meados do século 20, reúne hoje cerca de 350 mil famílias, segundo o próprio MST. O grande assunto é a reforma agrária, com a desapropriação ou compra de latifúndios improdutivos pela União e redistribuição das terras para famílias que deverão usá-las como meio de sustento.
Segundo o MST, isso permitirá a reestruturação não só da concentração da propriedade da terra no Brasil, mas do jeito de produzir.