Moradores caminham perto de usina operada pela China na Guiné (Waldo Swiegers/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 2 de novembro de 2016 às 08h00.
Última atualização em 2 de novembro de 2016 às 08h00.
São Paulo - O continente africano foi um dos lugares que mais sentiram a ascensão da China.
O comércio entre as duas regiões saltou de US$ 10 bilhões em 2000 para US$ 300 bilhões em 2015, segundo a imprensa chinesa.
Mais de 1 milhão de chineses se mudaram para o continente africano na última década, de acordo com outra estimativa.
O contato tem sido largamente positivo, a julgar por uma pesquisa de opinião do instituto Afrobarometer com 54 mil pessoas em 36 países africanos.
Os Estados Unidos são citados como modelo de desenvolvimento por 30% dos pesquisados e a China aparece em um segundo lugar próximo com 24%.
Antigos poderes coloniais e a África do Sul, economia mais desenvolvida do continente, aparecem em seguida; 5% responderam que seu país "deve seguir seu próprio modelo".
A variação é grande: moçambicanos e egípcios mostram mais hostilidade ao modelo americano, por exemplo, enquanto liberianos e quenianos tem mais simpatia.
De forma geral, quase 63% dos africanos consideram a influência chinesa muito ou um tanto positiva, taxa que chega a 92% no Mali. Só 15% acham que ela é muito ou um tanto negativa.
"Apesar de críticas consideráveis na mídia em relação aos interesses e operações chineses na África, os africanos veem a emergência da China como algo que agrega ao campo do jogo econômico", diz o Afrobarometer.
Os investimentos em infraestrutura e desenvolvimento de negócios são o principal fator positivo citado e não é difícil entender o porquê.
Segundo a Bloomberg, a China tem mais de US$ 30 bilhões aplicados em projetos ferroviários africanos previstos ou em andamento abarcando mais de 11 mil quilômetros, o suficiente para conectar a Cidade do Cabo a Copenhague.
O presidente da China, Xi Jinping, anunciou no final de 2015 um pacote de ajuda financeira à África de US$ 60 bilhões a serem aplicados entre 2016 e 2018.
Os africanos sentem essa importância: mais de dois terços dos ouvidos dizem que as atividades econômicas chineses tem "alguma influência" (27%) ou "muita influência" (42%) nos seus países.
Não se sabe até que ponto a desaceleração e mudança de perfil da economia chinesa vão afetar seus planos de internacionalização.
E o momento é de dificuldade: a África Subsaariana terá em 2016 seu pior crescimento econômico em duas décadas, de acordo com diagnóstico recente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A queda do valor das commodities é um dos fatores, mas nem todo mundo vai mal: o crescimento segue robusto em 19 dos 45 países da região.
Vários aspectos da atuação chinesa na África são amplamente criticados, como a falta de transparência, a disposição para lidar com regimes autoritários e o uso de mão de obra e tecnologia estrangeira sem transferência de capacidade produtiva para os locais.
Essas aspectos negativos também foram pesquisados pelo Afrobarometer: os mais citados são a "baixa qualidade dos produtos chineses" (35%) e a ideia de que eles roubam empregos dos locais (14%).