Economia

Acusações de Moro podem afetar candidatura do Brasil na OCDE

“Quando você vê uma pessoa como Moro saindo do MJ, sabe que algo de muito errado pode estar acontecendo”, diz chefe do grupo anticorrupção da OCDE

Moro: "Nós queremos ter a certeza absoluta de que o Brasil não está retrocedendo", afirmou Kas (Andre Coelho/Getty Images)

Moro: "Nós queremos ter a certeza absoluta de que o Brasil não está retrocedendo", afirmou Kas (Andre Coelho/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de maio de 2020 às 11h18.

Última atualização em 7 de maio de 2020 às 13h23.

A tentativa do Brasil de ingressar na OCDE pode enfrentar um novo obstáculo, a depender das investigações sobre suposta interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Quem alerta é o chefe do braço anti-corrupção no clube dos países mais ricos do mundo.

Drago Kos, presidente do grupo de trabalho sobre corrupção da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), instou as autoridades brasileiras a investigarem as acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que renunciou em abril após Bolsonaro trocar o comando da PF.

“Nossos estados membros são muito, muito rigorosos ao discutir a adesão à OCDE, por isso espero que o Brasil use isso como uma oportunidade. Mas, se as coisas não forem para o lado certo, nossos estados membros saberão como lidar com isso”, disse Kos em entrevista.

Seu grupo de trabalho, acrescentou, é conhecido por ser o mais rigoroso da OCDE na avaliação de candidaturas. “Temos que ter certeza absoluta de que o Brasil não está retrocedendo.”

Bolsonaro quer a entrada do Brasil na OCDE, já que isso elevaria o status do país e de seu governo. Enquanto manobram pelo apoio dos EUA à sua candidatura, as autoridades brasileiras têm trabalhado duro para garantir que o país atenda aos padrões políticos e econômicos da organização sediada em Paris.

O Planalto não respondeu a um pedido de comentário. O Ministério das Relações Exteriores não quis comentar.

Kos disse ter ficado impactado com a saída de Moro. No ano passado, os dois se encontraram em Brasília para discutir os esforços do Brasil para atender aos padrões anticorrupção da OCDE.

Credenciais anticorrupção

A renúncia de Moro causou uma tempestade política no Brasil. Em seu discurso de saída, o ex-juiz federal que ficou famoso por conduzir a Operação Lava Jato acusou Bolsonaro de querer interferir na Polícia Federal em meio a suspeitas de envolvimento dos filhos do presidente em atividades ilegais, incluindo propagação de fake news. Bolsonaro e sua família negam ter cometido irregularidades.

A OCDE está perguntando às autoridades brasileiras “o que está acontecendo”, segundo Kos, ex-árbitro de futebol da FIFA. Ele disse que os dois lados farão uma videoconferência em junho para discutir este e outros assuntos relacionados à candidatura do Brasil, que foi apresentada em 2017.

Kos sugeriu que o Brasil investigue as alegações de Moro para provar que o país permanece tão comprometido no combate à corrupção quanto na época da Lava Jato. Promotores, policiais e investigadores devem ter plena liberdade de fazer o seu trabalho, disse ele.

“Quando você vê uma pessoa como Moro saindo do Ministério da Justiça, sabe que algo de muito errado pode estar acontecendo”, disse ele. “No Brasil, conheci policiais muito qualificados, promotores e grandes especialistas em lidar com casos de corrupção. A questão agora é quão livres eles estarão para fazer seu trabalho?”

(Com a colaboração de Simone Iglesias)

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