Todos os setores da indústria de transformação também devem conseguir aumentar suas exportações, aponta o Ipea (José Paulo Lacerda/CNI/Reprodução)
Repórter
Publicado em 30 de dezembro de 2024 às 09h59.
O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE) beneficiará o agronegócio, mas também a indústria brasileira, principalmente os setores mais tradicionais ou baseados em commodities. É o que aponta o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em estudo que projeta um aumento de produção de 0,08% na indústria extrativa mineral, – o equivalente a US$ 126 milhões –, e de 0,04% na de transformação, um total de US$ 498,5 milhões até 2040.
Ao analisar o comportamento dos diversos setores da economia brasileira, as simulações mostram que o tratado teria efeitos sobre o valor da produção e o nível de emprego com um padrão bem marcante: ganhos em quase todos os setores do agronegócio e aumento de produção e emprego em quatro setores industriais.
São eles: calçados e artefatos de couro; outros equipamentos de transporte; metais não ferrosos; celulose e papel e produtos de madeira, excluindo móveis.
No primeiro setor, o de calçados, o aumento de produção pode ser de 3,2%, em torno de US$ 757,1 milhões até 2040. Somados todos eles, os ganhos ultrapassam a marca de US$ 1,6 bilhões.
Isso compensaria, segundo o Ipea, a queda de produção projetada para outros setores da indústria nacional, tais como veículos e peças; metais ferrosos; artigos do vestuário e acessórios; produtos de metal; têxteis; farmacêuticos; máquinas e equipamentos e equipamentos eletrônicos.
Entre esses segmentos, apenas máquinas e equipamentos e equipamentos eletrônicos teriam queda de produção superior a 1%, com perdas estimadas em US$ 674,2 milhões e US$ 346,3 milhões, respectivamente.
A nota técnica do Ipea ainda observa que, afora outros equipamentos de transporte, – que inclui a produção de aviões –, os demais segmentos industriais são setores tradicionais nos quais a União Europeia é grande importadora, e o acordo entre Mercosul e União Europeia permite que o Brasil aumente suas vendas para os países da Europa, deslocando outros fornecedores do resto do mundo.
Os resultados reforçam, segundo o estudo, que um acordo com economias mais desenvolvidas seria muito prejudicial para a indústria brasileira. "O fato é que a Europa já vem perdendo espaço como fornecedora competitiva de bens industriais para o Brasil e o resto do mundo há muito tempo, e seus pontos fortes de competitividade não derivam do preço dos produtos, mas de sua qualidade e diferenciação".
Como a redução tarifária opera basicamente como redutora de preços, o impacto da redução prevista no acordo ficará limitado em termos de substituição dos bens produzidos no Brasil por produtos europeus, acrescenta o Ipea.
O acordo entre a União Europeia e o Mercosul prevê adotar o livre-comércio entre os dois blocos, envolvendo quase todos os tipos de mercadoria, como produtos agrícolas, além de serviços. Cada item terá cotas de importação e exportação e reduções diferentes de taxas.
Além disso, haverá simplificação de regras comerciais, o que facilitará negócios e investimentos entre os dois lados. Empresas europeias poderão disputar licitações para compras públicas no Mercosul, e vice-versa. Há também regras comuns relacionadas à preservação ambiental e direitos trabalhistas.
Na prática, a parceria entre os blocos facilitará a circulação de produtos entre 718 milhões de pessoas e unirá dois mercados que somam um PIB de US$ 22 trilhões. Para o Brasil, o tratado poderá ampliar o PIB em 0,5% ao ano, segundo estimativa do Ipea.
A previsão é de que, até 2040, o agronegócio tenha um aumento de produção de 2%, equivalente a US$ 10,9 bilhões. Seguido por serviços, com ganho de 0,41%, ou US$ 9,9 bilhões.
No dia 6 de dezembro, o tratado foi concluído pela segunda vez. A primeira delas foi em 2019, mas o acordo depois foi reaberto após questionamentos de países europeus, que exigiram compromissos ambientais mais amplos por parte dos países da América do Sul.
Para entrar em vigor, contudo, o tratado terá de ser votado pelo Conselho Europeu (grupo que reúne os chefes de estado), pelo Parlamento Europeu (congresso formado pelos eurodeputados, que são eleitos para representar seus países na União Europeia) e pelos Legislativos de todos os países da UE e do Mercosul. Não há prazo final previsto para essas etapas.