Acordo EUA-UE pode ser "ponto de virada" da guerra comercial, diz BofA
Cessar-fogo anunciado por Donald Trump e Jean-Claude Juncker, apesar de ambíguo e com poucos detalhes, bastou para acalmar os mercados
João Pedro Caleiro
Publicado em 28 de julho de 2018 às 08h00.
Última atualização em 30 de julho de 2018 às 13h05.
São Paulo - O acordo entre Estados Unidos e União Europeia pode ser um "ponto de virada" na guerra comercial, de acordo com relatório do Bank of America Merrill Lynch divulgado nesta sexta-feira (27).
O presidente americano Donald Trump e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anunciaram na quarta-feira (25) uma espécie de cessar fogo.
Os Estados Unidos não aplicarão por enquanto tarifas sobre automóveis europeus, como Trump vinha ameaçando, apesar de estar mantida a taxação extra sobre aço e alumínio. Já os europeus se comprometeram a comprar mais soja e gás natural dos americanos.
Ambas as partes também concordaram em eventualmente eliminar totalmente as tarifas; apesar delas já serem bem baixas, é uma notável reversão das tensões acumuladas nos últimos meses.
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, se disse "encorajado" e a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, se declarou "satisfeita".
Seguem em aberto a principal frente de disputa de Trump (com a China) e a renegociação do NAFTA, o acordo de livre comércio com México e Canadá.
"A implicação mais importante do acordo da UE é sua potencial externalidade positiva: poderia ajudar Trump a trazer outros países como Canadá e China para a mesa de negociações. A teoria dos jogos nos mostra que em uma guerra comercial global, ninguém quer ficar de fora de um acordo", diz o BofA.
Uma autoridade do alto escalão da Casa Branca disse à Reuters que o governo americano conseguiu tirar mais do que esperava do acordo, mas os detalhes divulgados até agora são escassos e a linguagem foi ambígua.
De qualquer forma, foi suficiente para gerar alívio nos mercados, com destaque para a valorização das ações de montadoras europeias e das moedas de países emergentes - inclusive o Real.
"Enquanto moedas arriscadas podem experimentar um certo alívio no curto prazo, é provável que prevaleça a cautela: é muito cedo para declarar isso como uma alteração amigável na política de comércio dos EUA", escreve Viraj Patel no blog da ING.
Para o Brasil, também há outra preocupação: o Mercosul negocia há duas décadas um acordo com a União Europeia e havia sinais de que uma conclusão poderia ser iminente.
Agora que a situação da Europa com seu maior parceiro comercial melhorou, há especulação de que o Mercosul possa ficar escanteado - algo que o presidente Michel Temer descartou durante a 10ª Cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) realizada na semana passada.