Brexit: governo britânico tem até 1 de julho para pedir uma prorrogação do período de transição para depois de 2020 (Jonathan Brady/PA/Getty Images)
AFP
Publicado em 13 de dezembro de 2019 às 10h08.
A partir de 31 de janeiro, data do Brexit, uma nova frente se abrirá para os europeus: as discussões para um amplo acordo comercial com o Reino Unido que já se anunciam complexas.
Após a contundente vitória do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, nas eleições legislativas antecipadas, Bruxelas espera que ele cumpra sua promessa e que o Brexit seja concluído na data prevista.
A questão agora é saber se a UE e o Reino Unido poderão alcançar rapidamente um acordo global para manter suas trocas comerciais ou se, ao contrário, estenderão o período de transição pós-Brexit previsto atualmente para até o final de 2020.
Confira a retrospectiva da situação antes das negociações:
Johnson assegura que fechará um novo acordo comercial com a UE antes do final do período de transição - que começará com a saída do país e se prolongará até 31 de dezembro de 2020 - e descarta pedir adiamentos a Bruxelas.
Os especialistas concordam que levará muito mais tempo para se fechar um acordo comercial global digno de um país destinado a se tornar o parceiro mais próximo da UE.
Por exemplo, entre o início das discussões e a entrada em vigor de um acordo com a UE, são necessários oito anos e meio no caso do Canadá, seis anos e meio para o Japão e nove para Singapura.
"A conclusão de um acordo comercial no final de 2020 é muito ambicioso. Mas não conseguiremos, se não tentarmos", afirmou o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar.
O governo britânico tem até 1 de julho para pedir uma prorrogação do período de transição para depois de 2020, uma única solicitação e por um período de um ou dois anos adicionais.
Se o acordo deve ser negociado rapidamente, sem adiamento, sua ambição será muito mais limitada, explicou à AFP Fabian Zuleeg, economista do think tank European Policy Centre.
Para assinar um acordo antes do final de 2020, os negociadores deverão mostrar avanços suficientes em seis meses para dar tempo para sua tradução, seu exame por juristas e sua ratificação.
Segundo Zuleeg, um acordo "muito básico" seria possível nesse período de tempo, mas a capacidade de negociação do Reino Unido "sobre assuntos delicados como os serviços, a pesca ou Gibraltar" seria "muito limitada".
Já um acordo sobre uma redução das tarifas é possível neste período.
Se Johnson se negar a prorrogar o período de negociação, a ameaça de um Brexit sem acordo ressurgiria, o que implicar na ruptura brutal dos vínculos comerciais entre a UE e o Reino Unido e um impacto em suas economias.
O ponto de partida das discussões "é a ausência de acordo e o status de terceiros países", aponta Zuleeg.
Como terceiro país, o Reino Unido voltaria imediatamente às limitadas condições comerciais estabelecidas pela Organização Mundial de Comércio (OMC).
As tarifas sobre produtos chave seriam elevados, o que arruinaria por exemplo os sistemas comerciais estabelecidos para a produção britânica de veículos e outros bens industriais, que dependem de peças procedentes do exterior.
Os pontos de entrada ao Reino Unido ficariam abarrotados de controles alfandegários.
Segundo o projeto de declaração da cúpula europeia dessa sexta-feira, consultado pela AFP, os dirigentes europeus pedirão à Comissão para preparar o quanto antes um mandato de negociação.
Este mandato, que estabelecerá a visão europeia sobre o futuro acordo comercial e seus limites, deverá obter o aval dos 27 países do bloco.
O executivo comunitário, responsável pela política comercial europeia, poderá então negociar em seu nome.
As opiniões diferem até o momento entre países, com França e Irlanda, por exemplo, especialmente atentas à questão agrícola.