Economia

Acidente com P-34 coloca em xeque imagem da Petrobras

Enquanto a Petrobras prosseguia suas operações para tentar recuperar a plataforma P 34, que adernou, domingo à tarde, na Bacia de Campos, o mercado tentava avaliar o impacto do acidente sobre a imagem da companhia. A grande dúvida é até que ponto os constantes acidentes registrados nas plataformas da empresa podem afetar sua relação com […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h47.

Enquanto a Petrobras prosseguia suas operações para tentar recuperar a plataforma P 34, que adernou, domingo à tarde, na Bacia de Campos, o mercado tentava avaliar o impacto do acidente sobre a imagem da companhia. A grande dúvida é até que ponto os constantes acidentes registrados nas plataformas da empresa podem afetar sua relação com os seus parceiros.

Nesta terça-feira, as páginas dos jornais e emissoras de televisão trouxeram imagens não só da P-34 acidentada no domingo, mas também da gigantesca P-36, que afundou o ano passado, matando 11 petroleiros e interrompendo a produção de 80 000 barris por dia, remexendo numa ferida que parecia ter cicatrizado. O que está se questionando no mercado não é o acidente da P-34 , afirma Jean Paul Prates, da consultoria carioca Expetro, especializada em petróleo. Mas o que está por trás desses acidentes.

A preocupação hoje é saber que tipo de mão-de-obra está operando as plataformas da Petrobras que vêm resultando em acidentes. Alguns de menor porte e outros preocupantes como esse de domingo. Na avaliação de alguns analistas, o acidente da P-34 foi provocado por falha operacional resultado da política adotada pela empresa para suas plataformas. Na tentativa de aumentar a produção de seus campos de petróleo para enfrentar a concorrência, a Petrobras criou unidades de negócios nas plataformas que passaram a competir entre si. Essas unidades, que antes estavam focadas só na produção, hoje têm que se preocupar também com compras de equipamentos, fazer projetos, apresentar resultados em relação as outras unidades. Os gerentes dessas unidades estão sobrecarregados , afirma um analista de mercado que prefere não se identificar. Há uma enorme concentração de atividades nessas plataformas, o que põe em risco a operação .

Para piorar o quadro, a Petrobras, na tentativa de reduzir seus custos, tem operado em grande escala com mão-de-obra terceirizada. O problema, como avalia Jean Paul Prates, é que essa mão-de-obra não está sendo suficientemente treinada para operar as plataformas. Mas esse, segundo ele, não é apenas um problema da Petrobras. Na verdade, o aumento expressivo de empresas operando na bacia de Campos aumentou a demanda por trabalhadores especializados. Só que a demanda é menor do que a oferta. A estatal acaba sofrendo duplamente não só por não ter funcionários disponíveis e treinados na velocidade necessária, mas também por sofrer perdas permanentes de seus quadros para outras empresas. Dos 120 000 funcionários da Petrobras, 90 000 são terceirizados, de acordo com a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet).

Essa situação de carência de mão-de-obra especializada tende a piorar com a decisão do governo de tirar da Agência Nacional de Petróleo (ANP) a verba destinada à treinamento de pessoal. Quando houve a abertura do setor, o governo estabeleceu que parte dos recursos obtidos com os royalties do petróleo seriam destinados à ANP e às universidades e escolas técnicas para treinar pessoal. Com a crise no orçamento deste ano, o governo retirou parte dessa verba e a está empregando para fazer frente a outras despesas. Foi uma péssima medida , diz Prates. Está cada vez mais patente que o país precisa com urgência de profissionais bem treinados nessa área .

Durante a tarde desta segunda-feira, a estatal soltou vários comunicados anunciando que equipes da companhia estavam na P-34 tentando recuperar a plataforma. Mas em nenhum momento deu pistas sobre o que levou ao acidente. A postura da direção da empresa em não esclarecer rapidamente as causas do acidente é inadmissível , afirma o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Fernando Siqueira. Sua avaliação é de que deve ter ocorrido falha na manutenção já que o projeto é bem feito e a operação estava normal. Siqueira diz se sentir seguro para opinar sobre a P-34 pois gerenciou o projeto de adaptação da plataforma.

Segundo ele, a plataforma é operada eletricamente. Caso o sistema venha a falhar, as válvulas que dão equilíbrio à plataforma podem ser operadas pelo sistema hidráulico. Mesmo que este falhe, ainda há uma terceira alternativa que é o uso de uma bomba manual para evitar o adernamento. De acordo com Siqueira, as informações que chegaram à Aepet são de que a bomba que foi trazida para o socorro da P-34 não se adaptava ao projeto, o que evidencia falha na manutenção. Para ele, esses problemas estão sendo provocados pela excessiva redução de pessoal. A técnica e a segurança estão sendo colocadas em segundo plano , afirma. Uma coincidência é o fato de a P-34 estar sendo gerenciada pelo mesmo grupo que gerenciava a P-36, que foi a pique. Isso é que é ter pé frio , diz.

A P-34, com 240 metros de comprimento, é uma FPSO, ou seja, um navio adaptado para processar e armazenar petróleo e prover o seu escoamento para navio de transporte a óleo. Originalmente, a P-34 era um navio tanque, para transporte de petróleo, batizado de Prudente de Morais. Em 1976, foi transformado em unidade de produção. Em 1997, sofreu nova reforma para operar no campo de Barracuda Caratinga na Bacia de Campos. No momento do acidente, a plataforma produzia 34 mil barris de petróleo ao dia. A estatal ainda não estimou as perdas mas, no mercado, calcula-se que, se esta produção fosse totalmente substituída por importação, a empresa gastaria 1 milhão de dólares ao dia. Essa conta, no entanto, é apenas uma simulação já que a empresa pode optar, ao invés de importar, por aumentar sua produção em outras plataformas. Não dá para cravar nesses números , diz um analista. É só uma projeção considerando o quanto ela vai deixar de produzir .

A avaliação do mercado, no entanto, é que, pior do que as perdas econômicas, o que mais desgasta a Petrobras, com esse acidente, é a imagem negativa para a companhia. Seus parceiros podem começar a questionar as técnicas de operação da empresa , diz um analista. Também pode causar um mal estar entre os acionistas. Afinal, é sempre preocupante ter ações de uma empresa que, embora seja reconhecida internacionalmente pela excelência de suas operações, começa ficar com a imagem arranhada por esses acidentes. A P-34, assim como outras plataformas, começariam a ser substituídas por outras mais modernas e com maior capacidade. Resta saber se a estatal terá gente de qualidade para operar suas novas unidades.

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