Economia

Baixar a meta de inflação pode ser uma boa ideia?

Vai começar a reunião para definir a meta de 2017, e há quem aposte em uma redução; para economistas, isso seria no mínimo arriscado

EXAME.com (EXAME.com)

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João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 25 de junho de 2015 às 11h52.

São Paulo - Nesta quinta-feira, o Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e o presidente do Banco Central, se reúne para decidir sobre a meta de inflação.

Pela lei, o CMN tem até 30 de junho para estabelecer o número de 2017, e há quem diga que o centro e/ou o intervalo de tolerância será reduzido.

De acordo com fontes, o BC é contra. A última mudança no sistema foi em 2004, quando a margem de tolerância para 2006 foi reduzido de 2,5 pontos percentuais para 2 pontos. 

Mudar metas agora seria uma forma de convencer o mercado que o combate à inflação está sendo levado a sério. Mas exagerar na dose para ganhar credibilidade na marra pode ser um tiro no pé:

"A prioridade deveria ser atingir a meta para começar a reconstruir a reputação abalada, e não brincar com números para tentar convencer as pessoas que, daqui para frente, tudo vai ser diferente", escreve Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC.

O Banco Central já aumentou a taxa de juros seis vezes seguidas, levando a Selic para o maior patamar em quase uma década. Isso aprofunda a recessão e o desemprego, e até grandes bancos estão incomodados.

Uma mudança na meta futura neste momento poderia tornar o aperto insustentável: "Seria uma temeridade. Isso implicaria dizer que uma Selic de 14,25% viraria 15% ou 16% e aceitar um desemprego maior. Duvido que o governo do PT esteja disposto a esse tipo de postura", diz Mauro Rochlin, professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Histórico

A última vez que a inflação ficou perto do centro da meta foi em 2009 (4,31%), no auge da crise internacional.

Desde então, ela tem fechado todo ano quase no teto, apesar do governo ter segurado preços administrados como energia e combustíveis.

Em 2015, estes preços estão sendo recompostos e a taxa já superou o centro da meta só nos primeiros 5 meses do ano. A previsão do Banco Central e do Boletim Focus é que ela feche o ano perto dos 9% e só volte a abaixar em 2016.

"Tem que se reconhecer que a inflação mudou de patamar: de 5% no início do governo Dilma para próxima de 10% hoje. Estamos falando de quase dois dígitos, o que faz voltar demandas por indexação ou uma indexação informal. Essa é principal frente a ser enfrentada, mas não com retórica", diz Rochlin.

Em 2009, o jornalista Clóvis Rossi perguntou a Henrique Meirelles como ele havia convencido Lula a aumentar os juros dias após sua posse em 2003. O então presidente do Banco Central respondeu: "Disse que, no Brasil, a inflação dispara sempre que atinge os dois dígitos".

Perspectivas

Para Braúlio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, 2015 é "completamente fora da curva" e não pode ser usado como referência, já que está ocorrendo uma recomposição "de uma vez por todas" de preços contidos. 

E o mercado sabe disso - a prova é que a projeção para 2015 piora toda semana, mas o mesmo não acontece com as previsões para os anos seguintes.

"A palavra certa é reancoragem: houve um ganho importante nas expectativas. A expectativa para 2018 e 2019 já está cravada no centro da meta e isso aconteceu de forma concomitante com a piora para 2015", diz Borges.

Ele acredita que o ideal seria reduzir o intervalo de tolerância para 2017 - dos atuais 2 pontos percentuais para 1,5 ponto - e mudar o centro de 2018.

Vale lembrar que a inflação no Brasil é alta mesmo comparada com vizinhos latino-americanos. Chile, Colômbia e Peru têm metas entre 2% e 3% ao ano com intervalo permitido de 1 ponto percentual.

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