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A grande promessa de revolução no ensino -- e nos negócios ligados a ele -- está na educação a distância, especialmente quando se fala em utilização de novas tecnologias. Mesmo depois da derrocada das ponto-com, a internet ainda é vista como um meio de subverter o modelo tradicional de educação, colocando o aprendizado nas mãos […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h51.

A grande promessa de revolução no ensino -- e nos negócios ligados a ele -- está na educação a distância, especialmente quando se fala em utilização de novas tecnologias. Mesmo depois da derrocada das ponto-com, a internet ainda é vista como um meio de subverter o modelo tradicional de educação, colocando o aprendizado nas mãos do aluno e aumentando como nunca a produtividade no ensino. "Quase dois anos depois do boom da internet, o aprendizado virtual emergiu como uma das aplicações mais úteis da rede", afirmou a revista americana Business Week numa reportagem recente. Ainda que se trate apenas do início dessa revolução -- as projeções ligadas a educação a distância, tanto acadêmicas como empresariais, são certamente mais tímidas hoje do que num passado recente --, há diversas instituições e empresas se movimentando. Uma pequena amostra nacional:

  • Em dezembro passado, a ex-ministra da Administração Pública Claudia Costin aceitou o convite para trocar um posto no Banco Mundial, em Washington, pelo cargo de presidente da Promon Intelligens, em São Paulo. A nova empresa é a primeira investida da Promon, uma das maiores companhias brasileiras de projetos, na área de educação. "Eu me interessei pela área depois de participar de um projeto de modernização do Judiciário na Guatemala por meio do aprendizado virtual", diz Claudia. Seu objetivo é transformar a Promon Intelligens numa das principais fornecedoras de projetos de e-learning para empresas no país. Para isso, ela está formando uma equipe da qual fazem parte consultores, pedagogos, designers, jornalistas e integradores de sistemas.
  • Em 1999, o paraibano Severino Felix da Silva criou um projeto piloto para fazer com que alunos do ensino fundamental e médio pudessem ter acesso à escola 24 horas por dia, sete dias por semana. Batizada de Escola24horas, sua empresa tem hoje uma participação do IFC e vende serviços para 400 colégios, em 100 cidades brasileiras. Os alunos têm acesso a facilidades como uma biblioteca virtual, e os professores, a cursos de especialização a distância. No ano passado, a empresa se associou à mexicana Aula Click, que tem sócios como a Microsoft e a Telmex. "Teremos 500 000 alunos em 2003", diz Severino, que programa a estréia do Escola24horas no Chile.
  • Com uma carreira de 30 anos na Shell, onde passou de estagiário a diretor, o paulista Roberto Beck é um dos responsáveis pela reestruturação da Cultura Inglesa Online, uma das start-ups que sobreviveram à febre da internet na educação. Criada como uma empresa de aulas de inglês online para pessoas físicas, ela é hoje voltada principalmente para serviços no mercado corporativo. "Chegamos a rever nossas projeções e até mesmo a metodologia de ensino", diz Beck. Atualmente, cerca de 12 000 profissionais fazem os cursos da Cultura Inglesa Online -- de inglês e espanhol básicos a especializações em telecomunicações e finanças.

    "Seja na área de conteúdo, tecnologia ou serviços, está todo mundo querendo ocupar posições", afirma Roberto Mathias, diretor de soluções de capital humano da PwC Consulting em São Paulo. "Mas somente em alguns anos saberemos a cara que esse mercado terá no futuro, não só no Brasil como lá fora." Nos Estados Unidos, as experiências mais bem-sucedidas de e-learning estão nas universidades tradicionais, que se aproveitam de sua marca para vender cursos online. É o caso da Duke Fuqua School of Business, da Carolina do Norte, que criou um MBA com dois terços de aulas virtuais cujo custo pode ser 30 000 dólares mais alto do que o tradicional. Para essas escolas, os cursos online, mais do que uma promessa, começam a se transformar numa realidade em termos de crescimento das receitas. Na University of Maryland University College, maior instituição de ensino superior estadual americana a oferecer cursos online, o faturamento gerado pelo ensino a distância aumentou 70% em 2001. Resultados como esse servem para turbinar as ações das empresas do setor cotadas em bolsa: a Universidade de Phoenix Online, braço de ensino a distância do grupo Apollo, tinha um valor de mercado de 3 bilhões de dólares em dezembro passado.

    Embora em proporções mais modestas, esse quadro promete se repetir por aqui. A Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) estima que mais de 1 milhão de pessoas façam cursos a distância atualmente no país-- cerca de 200 000 na área corporativa. De acordo com a empresa de pesquisa de mercado International Data Corporation (IDC), os gastos das empresas com e-learning devem quadruplicar até 2008. "Num país com as dimensões do Brasil é inevitável usar o e-learning como ferramenta de aproximação dos funcionários", diz Renata Moura, diretora de recursos humanos da Telemar. Segundo uma pesquisa realizada pela PwC Consulting, no ano passado apenas 20% das empresas na América Latina usavam o e-learning, contra pelo menos 60% nos Estados Unidos. A expectativa é que o Brasil atinja esse patamar lá por 2005. "O que pode frear esse crescimento é a falta de infra-estrutura, tanto tecnológica como de recursos humanos, que ainda existe no país", diz Mathias, da PwC Consulting.

    Além do mercado corporativo, esperam os especialistas, o ensino a distância deverá atrair as instituições tradicionais de ensino. "Quando as universidades encontrarem a melhor forma de entrar nesse mercado, chegarão com o pé direito", diz Fredric Litto, presidente da Abed e coordenador científico da Escola do Futuro da USP. "São elas que detêm o conteúdo, e nessa área conteúdo é tudo." Um dos modelos encontrados até agora no ensino superior é o da formação de redes de cooperação, como a Universidade Virtual Brasileira, formada por um grupo de dez instituições privadas e comunitárias de vários estados brasileiros, que estudam o desenvolvimento de metodologias e a oferta de cursos comuns. Na Anhembi Morumbi, uma das escolas filiadas à UVB, cerca de 300 disciplinas já produzem algum conteúdo online. A Anhembi Morumbi também usa o ensino virtual em cursos de extensão para complementar currículos de graduação.

    Apesar de todo o charme da internet, muitos especialistas ainda valorizam a utilização da televisão no ensino a distância. A maior experiência nesse campo já feita no país é o Telecurso 2000, que atinge 300 000 alunos do ensino fundamental e médio via TV e venda de apostilas. "O Brasil não pode se dar ao luxo de usar só as novas tecnologias, que ainda são desconhecidas de grande parte da população", diz Litto. Para ele, o Brasil ainda está atrasado nessa área em relação a outros países. Litto cita o caso da Universidade Indira Gandhi, na Índia, com 600 000 alunos matriculados em cursos virtuais, de aperfeiçoamento a doutorado, principalmente pela televisão. "O que vai provocar um impacto verdadeiro é a TV digital", afirma Di Genio, que além do grupo Objetivo é dono do Canal Brasileiro de Informação (CBI). Enquanto a TV digital não vira uma realidade, Di Genio começa a se mexer. "Em seis meses colocaremos vários assuntos no ar e professores como âncoras de TV."

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