Economia

76% acham que a recuperação no Brasil só virá depois de 2023, diz Ipsos

Uma pesquisa exclusiva da Ipsos mostra que o brasileiro está menos confiante no futuro e acredita que a recuperação da economia no pós pandemia virá em dois anos ou mais

Consumidores em shopping de São Paulo: nível de confiança no futuro em julho de 2021 está abaixo do anterior ao da pandemia (Germano Lüders/Exame)

Consumidores em shopping de São Paulo: nível de confiança no futuro em julho de 2021 está abaixo do anterior ao da pandemia (Germano Lüders/Exame)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 20 de agosto de 2021 às 09h38.

Última atualização em 28 de agosto de 2021 às 23h09.

Otimista por natureza, o brasileiro está menos confiante no futuro. E isso se traduz na expectativa de retomada da economia. Para 76% dos brasileiros, o país irá superar economicamente os efeitos da pandemia em dois anos ou mais, de acordo com uma pesquisa exclusiva da Ipsos, empresa de pesquisas de mercado.

Para 37%, a retomada no Brasil virá no período entre dois e três anos, enquanto que 39%¨da população está ainda mais pessimista e acredita que a recuperação virá em três anos. Já 28% apontam o prazo de 1 ano a partir de agora. E apenas 3% acreditam que o fim da crise já chegou.

Os dados fazem parte de uma pesquisa global da Ipsos em que foram ouvidas 21.503 de 29 países entre 25 de junho e 9 de julho. No levantamento, a maioria das pessoas ouvidas acredita que o fim do impacto da pandemia deverá vir entre dois e três anos – e a perspectiva no Brasil não é diferente. O que destoa, segundo a empresa de pesquisa de mercado, é justamente o baixo otimismo dos brasileiros.

“Como aspecto cultural, a população brasileira costuma estar sempre entre as mais otimistas em relação ao futuro nesse tipo de comparação global”, diz Marcos Calliari, presidente da Ipsos Brasil. “O fato de estar na média global mostra que a percepção do brasileiro é de que a crise está longe do fim”.

Para Calliari, a explicação para um brasileiro menos otimista está na desconexão entre a melhora de alguns indicadores macroeconômicos e a piora de outros que atingem diretamente o bolso da população.

Se de um lado a vacinação contra a covid-19 avança no país e a expectativa é que a economia brasileira cresça cerca de 5% neste ano, por outro lado, dois indicadores em especial minam a confiança da população: inflação acelerada e o desemprego em alta.

(Arte/Exame)

O boletim Focus, que traz a média das expectativas de analistas e economistas apurada pelo Banco Central, tem capturado semana após semana a aceleração nas estimativas de inflação para o ano. Na última edição, divulgada na segunda-feira, 16, a projeção média do IPCA era de 7,05% para o ano de 2021. Quatro semanas antes a estimativa era de 6,31%.

A expectativa é de que venham novas revisões em breve. André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, aumentou na quinta-feira, 19, sua expectativa para o IPCA em 2021: de 6,9% para 7,5%. “A alta continuada de energia (elétrica, gasolina e gás) pode gerar elevação de custos de maneira difusa além da alta em si. Vemos maior persistência inflacionária no horizonte relevante.”

a taxa de desemprego está em 14,6%, o que representa um contingente de quase 15 milhões de pessoas em busca de emprego. Esse patamar tem se mantido estável desde junho do ano passado. De acordo com o IBGE, que apura as estatísticas oficiais de desemprego, o nível de ocupação é de 48,9%. Ou seja, menos da metade da população em idade para trabalhar está ocupada no mercado de trabalho.

A persistência desses indicadores econômicos tem minado a confiança dos consumidores. No índice de confiança global da Ipsos, o Brasil é um dos países que menos recuperam o patamar anterior à pandemia. Em julho, o índice de confiança dos brasileiros é 42,7, o que representa 7,6 pontos a menos que em janeiro de 2020 (ainda que tenha avançado 2,4% em relação a junho).

Infelizmente, os brasileiros não devem ter motivos para melhorar a percepção no curto prazo. “A conjunção de crise política e econômica, com elevada taxa de desemprego e taxa de juros para conter a inflação, tirará crescimento do consumo e dos investimentos em 2022”, escreveu Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, ao divulgar a revisão de previsão para o PIB para o próximo ano de 1,8% para 1,4%.

(Arte/Exame)

A pesquisa da Ipsos também perguntou quais são os sinais que indicam que a retomada do crescimento veio para ficar. Para 76% dos brasileiros, a abertura de novos negócios na cidade onde elas moram é o principal indicador de percepção de melhora. Já 75% dos ouvidos dizem que é preciso que pessoas conhecidas voltem a ser contratadas para sentir que a melhora de fato está acontecendo.

“A percepção de melhora tem que ter visibilidade. Se os parentes e amigos estão desempregados, se lojas do bairro em que a pessoa vive fecham e a conta do supermercado fica mais cara, é difícil enxergar qualquer sinal de fim de crise”, diz Calliari.

Variante Delta

No mundo, os chineses são os mais otimistas em relação ao fim da crise do coronavírus: 56% acham que a retomada da economia do país já está ocorrendo. Já apenas americanos 7% acreditam que o país superou a pandemia, percentual parecido entre os alemães. Nos Estados Unidos e outros países ricos, a maioria dos entrevistados espera que o fim dos efeitos da pandemia deve ocorrer entre dois e três anos.

Os dados da pesquisa Ipsos, porém, foram coletados antes da explosão da variante Delta no mundo, o que tem gerado dúvidas sobre o impacto da nova variante na perspectiva de crescimento das economias. Na segunda-feira, 16 de agosto, por exemplo, as bolsas do mundo todo caíram com sinais de que a delta estaria impactando o ritmo de reabertura  e setores de serviços no mundo.

Já o banco JPMorgan espera que a economia global siga acelerando na segunda metade de 2021 apesar dos riscos colocados pela variante delta do novo coronavírus. Em relatório, o banco cita o caso do Reino Unido, onde as infecções vem caindo "significativamente", sendo "um bom presságio" para regiões onde a variante delta ainda está em ascensão, mas com algum atraso em relação à experiência britânica.

 

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