Vírus cura o alcoolismo, mas faz isso invadindo seu cérebro
Como um vírus de computador, ele formata seus neurônios e reprograma seu cérebro para diminuir a vontade de beber
Marina Demartini
Publicado em 6 de novembro de 2016 às 17h22.
Vícios fazem uma bagunça no sistema de recompensa do seu cérebro. Drogas e álcool dão um impulso na produção cerebral de dopamina – que causa a sensação boa de estar doidão – muito acima do que estímulos naturais de prazer, como comida ou sexo , conseguem fazer. No longo prazo, esse sistema acaba todo bugado.
Mas e se fosse possível “instalar” um vírus no cérebro, capaz de reiniciar o sistema e formatar esses erros? É mais ou menos isso que um time de pesquisadores do Texas está tentando fazer.
O foco deles é uma área do cérebro chamada corpo estriado, que é especialmente vulnerável às mudanças na produção de dopamina. O que o alcoolismo faz é mudar a forma como o corpo estriado processa a informação no cérebro.
Em condições normais, os neurônios no corpo estriado funcionam como o semáforo do cérebro. Os que pertencem ao grupo D1 são o sinal verde: quando são estimulados, te encorajam a continuar fazendo o que você está fazendo. O grupo D2 faz o contrário: inibe as suas ações.
Quando seu cérebro tem um pico de dopamina, ele dá sinal verde para tudo, de continuar um assunto chato com os amigos até dançar em cima da mesa. Tudo é lindo e incrível. Ele também encoraja sua decisão de beber cada vez mais.
Os cientistas americanos decidiram, então, hackear os neurônios tipo D1 e D2. Fizeram isso, em primeiro lugar, viciando ratinhos em álcool. Eles ofereciam água e goró. Quanto mais o tempo passava, mais os ratos preferiam o álcool e a quantidade de bebida que consumiam só aumentava.
Depois, os pesquisadores infectaram os roedores alcoólatras com um vírus geneticamente modificado. O vírus era capaz de inibir a atividade do sinal verde e estimular os neurônios do sinal vermelho. Os ratinhos foram soltos e os cientistas voltaram a oferecer água e álcool . Os animais que tinham sido infectados estavam bebendo bem menos.
Os cientistas acreditam que essa manipulação do cérebro pode ser transformada em um remédio contra a dependência de álcool. Falta saber se o alcoolismo humano responde aos mesmos mecanismos do vírus que domou o vício dos ratos.
Texto publicado originalmente naSuperinteressante