Pfizer pode pedir uso emergencial de vacina contra covid-19 até fim de novembro (Tetra Images/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 9 de novembro de 2020 às 08h58.
Última atualização em 9 de novembro de 2020 às 15h43.
A farmacêutica americana Pfizer divulgou nesta segunda-feira, 9, novos resultados da última fase de testes de sua vacina contra o novo coronavírus, desenvolvida em parceria com a alemã BioNTech. Segundo a companhia, a vacina experimental se mostrou mais do que 90% eficaz em participantes que não tiveram infecções pela covid-19 depois de uma semana da administração da segunda dose necessária da imunização.
A análise da farmacêutica avaliou que 94 dos 43.538 voluntários que participam dos testes foram infectados pela doença. São necessários 164 casos confirmados para caracterizar a vacina como totalmente funcional.
A expectativa da Pfizer é pedir uma aprovação emergencial ao Food and Drug Administration (o FDA, espécie de Anvisa americana) na terceira semana deste mês.
Recentemente foi divulgado, segundo os executivos da companhia, que é possível que a imunização fique disponível até o final de 2020. Para o presidente da companhia, Albert Bourla, a Pfizer poderá fornecer cerca de 40 milhões de doses nos Estados Unidos se os testes clínicos em fase 3 continuarem “conforme o esperado” e se os órgãos reguladores aprovarem o uso emergencial dela. A empresa espera produzir até 100 milhões de doses até o fim do ano. Outras 1,3 bilhão de doses podem ser fabricadas no ano que vem.
"Hoje é um bom dia para a ciência e para a humanidade. Os primeiros resultados da nossa fase três de testes da vacina da covid-19 têm evidências iniciais da habilidade da vacina de proteger contra o vírus. Estamos atingindo um marco crítico em nosso programa de desenvolvimento quando o mundo precisa mais de uma imunização, com os números de infecções aumentando, hospitais chegando perto de sua capacidade máxima, e economias tendo dificuldades na reabertura", afirmou Bourla em um comunicado divulgado pela empresa.
Mais dados sobre a eficácia da vacina devem ser compartilhados em breve. Essa é a primeira análise preliminar de fase três divulgada pela Pfizer.
Das 47 em fases de testes, apenas 10 estão na fase 3, a última antes de uma possível aprovação. São elas a chinesa da Sinovac Biotech, a também chinesa da Sinopharm, a britânica de Oxford em parceria com a AstraZeneca, a americana da Moderna, da Pfizer e BioNTech, a russa do Instituto Gamaleya, a chinesa CanSino, a americana Janssen Pharmaceutical Companies e a também americana Novavax.
Nenhuma vacina contra a covid-19 foi aprovada ainda, mas os países estão correndo para entender melhor qual será a ordem de prioridade para a população uma vez que a proteção chegar ao mercado. Um grupo de especialistas nos Estados Unidos, por exemplo, divulgou em setembro uma lista de recomendações que podem dar uma luz a como deve acontecer a campanha de vacinação.
Segundo o relatório dos especialistas americanos (ainda em rascunho), na primeira fase deverão ser vacinados profissionais de alto risco na área da saúde, socorristas, depois pessoas de todas as idades com problemas prévios de saúde e condições que as coloquem em alto risco e idosos que morem em locais lotados.
Na segunda fase, a vacinação deve ocorrer em trabalhadores essenciais com alto risco de exposição à doença, professores e demais profissionais da área de educação, pessoas com doenças prévias de risco médio, adultos mais velhos não inclusos na primeira fase, pessoas em situação de rua que passam as noites em abrigos, indivíduos em prisões e profissionais que atuam nas áreas.
A terceira fase deve ter como foco jovens, crianças e trabalhadores essenciais que não foram incluídos nas duas primeiras. É somente na quarta e última fase que toda a população será vacinada.
Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.
Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.
Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.
As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.
Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.