Equipe da Nasa em comemoração após pouso: a InSight se deslocou a cerca de 20.000 km/h, entre três e quatro vezes mais rápido que uma bala de fuzil (B. Ingalls/Nasa/Divulgação)
AFP
Publicado em 26 de novembro de 2018 às 21h27.
"Pouso confirmado!": a sonda americana InSight chegou nesta segunda-feira ao solo marciano e já enviou a primeira foto da superfície do Planeta Vermelho.
Após sete anos de trabalho e sete meses de viagem pelo espaço, a sonda americana InSight pousou - às 11:52:59 no horário da Califórnia (17:52:59 em Brasília), un minuto antes do planejado - e pouco depois enviou a imagem.
Cada etapa bem-sucedida desta arriscada operação gerou comoção no centro de controle do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa em Pasadena, Califórnia.
O "pouso confirmado", na voz de uma das operadoras, levou seus colegas no centro de controle a gritar de alegria e se abraçarem em comemoração.
"Foi intenso", resumiu o diretor da agência espacial americana, Jim Bridenstine. "É uma experiência única, incrível".
"Tudo que aprendemos sobre Marte até este momento nos ajudará a entender como fazer pesquisas in situ (...). A InSight pode fornecer informações importantes sobre se há água líquida em Marte e inclusive onde está", tendo em vista uma missão humana ao planeta.
Bridenstine indicou que recebeu uma ligação do vice-presidente Mike Pence, que também comemorou o pouso no Twitter.
"Parabéns à @NASA (...) e a todos que tornaram possível" a chega da InSight ao Planeta Vermelho. "É a oitava vez que os Estados Unidos pousam em Marte e é a primeira missão para estudar seu interior mais profundo. Uma grande conquista".
O processo de pouso foi perfeito: a ativação do paraquedas, a abertura de seus 'pés' e a redução de velocidade de 19.800 km/h a 8 km/h em apenas sete minutos.
A primeira foto foi enviada por dois satélites que acompanharam a InSight durante sua travessia a Marte.
"Minha primeira foto em #Marte", escreveu a Nasa em uma conta criada para a InSight no Twitter. "A tampa da minha lente ainda não foi retirada, mas eu tinha que mostrar uma primeira olhada do meu novo lar".
É a primeira vez desde 2012 que um artefato consegue pousar em Marte, depois do veículo Curiosity da Nasa, o único atualmente ativo na superfície do Planeta Vermelho.
Só os Estados Unidos conseguiram colocar artefatos lá, investindo nestas missões com o objetivo de preparar uma futura incursão com exploradores humanos para a década de 2030. Mas mais da metade das 43 tentativas de levar a Marte robôs, satélites ou outros - executadas por agências espaciais do mundo todo - falharam.
A InSight, de 993 milhões de dólares, tem o objetivo de registrar tremores no Planeta Vermelho, que se formou há milhões de anos como um planeta rochoso, como a Terra, mas que ainda é um grande mistério.
"Com Marte nada nunca está garantido. Marte é difícil", resumiu no domingo Thomas Zurbuchen, chefe da seção científica da Nasa.
My first picture on #Mars! My lens cover isn’t off yet, but I just had to show you a first look at my new home. More status updates:https://t.co/tYcLE3tkkS #MarsLanding pic.twitter.com/G15bJjMYxa
— NASA InSight (@NASAInSight) November 26, 2018
O pouso precisava ser perfeito, já que qualquer erro poderia ter feito a sonda explodir em pedaços.
A Nasa fez "retoques finais no algoritmo que guiou a nave espacial até a superfície" horas antes de sua entrada na atmosfera, onde a temperatura chegava a 1.500°C.
A sonda tinha um escudo térmico reforçado para tolerar o impacto.
A InSight se deslocou a cerca de 20.000 km/h, entre três e quatro vezes mais rápido que uma bala de fuzil, e tinha que alcançar uma área retangular de cerca de 10 km por 24 km. Depois de ter partido de um ponto da Terra, a 480 milhões de km dali, era "como marcar um gol a 130.000 km de distância", destacou antes a Nasa.
Um grande número de cientistas europeus contribuíram com os instrumentos de ponta que viajam a bordo de InSight.
Após implementar os painéis solares que alimentarão seus instrumentos, a sonda terá um programa de trabalho intenso.
Deverá escutar e perscrutar o interior de Marte para tentar revelar os mistérios de sua formação, há bilhões de anos. Esses conhecimentos poderão permitir posteriormente compreender melhor a formação da Terra, o único planeta rochoso cujo interior foi realmente estudado.
A InSight está equipada com um sismômetro de concepção francesa, SEIS, que será colocado diretamente sobre o solo marciano e escutará suas mais mínimas vibrações: ondas de choque de meteoritos, movimentos de terra, estalos de camadas rochosas, e talvez até movimentos de magma profundos.
Outro instrumento importante, de origem alemã, é o HP3, que deverá escavar entre três a cinco metros na superfície de Marte para medir sua temperatura.
Os sensores de ventos da nave são de fabricação espanhola.