Sem a vacina BCG, número de mortes por covid-19 seria maior, diz estudo
Pesquisa feita pela Universidade de Michigan (EUA) mostra que o Brasil poderia ter 14 vezes mais mortes se a vacina não fosse obrigatória no país
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de agosto de 2020 às 09h06.
Última atualização em 17 de agosto de 2020 às 13h02.
O número de mortes por covid-19 no Brasil poderia ser 14 vezes maior se a vacina contra o bacilo Calmette-Guérin (BCG), que causa a tuberculose, não fosse obrigatória no país. A conclusão é de um estudo da Universidade de Michigan (EUA) publicado no início do mês na revista Science.
O trabalho revelou que taxas mais baixas de infecção e morte se repetem em todos os países onde a vacinação é obrigatória. Foi analisada a taxa diária de infecções em 135 países e de óbitos em 134 ao longo dos primeiros 30 dias da pandemia em cada nação.
Em 15 de abril, o número de mortes registrado no Brasil era de 1.736. Mas poderia ter chegado a 24.399, se o País não adotasse a política de vacinação obrigatória na infância, estimam os pesquisadores.
Entre os países que têm a BCG obrigatória estão China, Brasil e França. Algumas nações revisaram a exigência porque a tuberculose deixou de ser ameaça, como Austrália e Espanha. Outras nunca exigiram, como EUA e Itália.
Estudos sugerem que a vacina tem efeitos benéficos na imunidade contra muitas infecções pulmonares, o que a tornaria candidata importante na prevenção da covid-19.
Os cientistas ressaltam, porém, que ainda é necessária pesquisa mais ampla.
"O Brasil está com um problema horrível. Mas poderia ser pior", afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo Shinobu Kitayama, principal autor do estudo.
Confira abaixo a entrevista:
Por que vocês resolveram estudar a eficácia da vacina BCG na prevenção contra a covid-19?
Vários estudos no passado já indicavam que a proteção oferecida pela BCG se estendia a outros problemas pulmonares, além da tuberculose, como o câncer de pulmão. A covid-19, essencialmente causa problemas no pulmão. Seria uma candidata a ser examinada neste contexto.
O senhor recomendaria vacinação em massa com a BCG como forma de reduzir a gravidade dos casos de covid-19 e sua letalidade, enquanto um imunizante específico não for descoberto?
No sentido de ser recomendada a vacinação nos próximos meses? Não. Nós não sabemos se a vacina é eficaz em adultos, é uma vacina tipicamente dada a crianças. Ela poderia até aumentar temporariamente a vulnerabilidade à covid-19, nós não sabemos. Seria uma conclusão muito prematura tomar essa decisão sem nenhum teste clínico. Mas acho que, a longo prazo, recomendaria aos países que ainda não têm o sistema de vacinação obrigatória na infância que começassem a fazer isso. Eu acredito que essa seja uma boa estratégia para o futuro.
O Brasil está enfrentando uma epidemia muito grave de covid-19, a despeito de ter vacinação obrigatória de BCG na infância. Como o senhor explica isso?
Sim, vocês estão com um problema horrível, a despeito de tomarem a BCG. Mas poderia ser bastante pior. Essa vacina diminui a probabilidade de infecção, a gravidade dos sintomas da doença e também a letalidade no futuro. Mas não adianta pensar que, porque você tomou, não precisa se preocupar. Não é uma proteção completa.