Ciência

Satélite europeu cartografa 1,7 bilhão de estrelas (menos de 1%)

Catálogo Gaia, que permitiu a cartografia tridimensional da Via Láctea, é o mais completo já realizado, mas compila menos de 1% das estrelas da galáxia

Espaço: satélite foi lançado no fim de 2013 e, desde então, escaneia as fontes de luz da Via Láctea (ESO/Divulgação)

Espaço: satélite foi lançado no fim de 2013 e, desde então, escaneia as fontes de luz da Via Láctea (ESO/Divulgação)

A

AFP

Publicado em 25 de abril de 2018 às 16h44.

Última atualização em 25 de abril de 2018 às 17h07.

O satélite europeu Gaia completou a cartografia em 3D de 1,7 bilhão de estrelas da Via Láctea e determinou a distância entre muitas delas e a Terra.

"Estes dados são muito importantes e acreditamos que revolucionarão a astronomia e nossa compreensão da Via Láctea", disse à AFP Uwe Lammers, um responsável científico do Gaia para a Agência Espacial Europeia (ESA).

O catálogo Gaia permitiu realizar a cartografia a cores, dinâmica e tridimensional da Via Láctea, a mais completa até hoje, ressaltou o Observatório de Paris. No entanto, ainda compila menos de 1% das estrelas da galáxia.

"Com o Gaia, podemos observar toda a história da Via Láctea, é como se praticássemos arqueoastronomia (...) para reconstruir realmente a história de nosso Universo", apontou Günther Hasinger, diretor de ciências da ESA, em uma apresentação destes dados durante um Salão aeronáutico em Berlim.

Lançado no fim de 2013, o satélite, que escaneia as fontes de luz de nossa galáxia, orbita o sol a 1,5 milhão de quilômetros da Terra e faz 500 milhões de medições por dia. Os dados são transmitidos à Terra e processados ​​por um consórcio de 450 cientistas de 20 países.

Gaia, que está operativo desde 2014, já havia fornecido uma primeira série de resultados em setembro de 2016. Estes davam a posição de 1,1 bilhão de estrelas da Via Láctea, mas o satélite só conseguiu determinar com precisão a distância de dois milhões de estrelas.

"Foi só um aperitivo", disse à AFP Frédéric Arenou, pesquisador do CNRS no Observatório de Paris-PSL.

"Agora, é um verdadeiro espetáculo de fogos de artifício", estimou François Mignard, diretor de pesquisa emérito do CNRS, responsável pela equipe francesa em Gaia.

"Conhecendo a distância destas estrelas, conheceremos seu brilho intrínseco, conheceremos sua idade, sua evolução", explicou Frédéric Arenou.

- Entusiasmo entre astrônomos -

Os novos dados compilados por Gaia durante 22 meses - entre julho de 2014 e maio de 2016 - foram publicados on-line nesta quarta-feira, de modo que todos podem acessar este catálogo na Internet.

No mundo inteiro, os pesquisadores estão "muito entusiasmados" por descobrir estes novos dados e poder começar a trabalhar sobre eles, ressaltou Anthony Brown, da Universidade de Leiden (Holanda), um dos cientistas envolvidos presentes no salão de Berlim.

O catálogo Gaia contém agora as posições e a luminosidade de 1,7 bilhão de estrelas. Também proporciona a distância e o movimento de 1,3 bilhão delas, o que é considerada uma informação crucial.

Há, ainda, informações sobre as velocidades radiais de cerca de 7,2 milhões de estrelas - indicando o ritmo no qual elas estão se movendo em direção à Terra ou se afastando dela.

Por outro lado, Gaia também identificou dentro do sistema solar 14.000 asteroides e calculou suas órbitas.

Além disso, fora da galáxia detectou 500.000 quasares, objetos extremamente energéticos e distantes que emitem uma energia colossal.

O satélite Gaia está funcionando bem e continua reunindo dados, reafirmou a ESA.

Sua missão, prevista inicialmente para durar cinco anos, foi prolongada por um ano e meio, detalhou Uwe Lammer sobre este satélite que conta com o financiamento necessário para poder trabalhar até 2020.

O custo desta missão é calculado em 740 milhões de euros para a ESA, mais os custos de funcionamento do consórcio de pesquisadores, financiado pelos países implicados.

Acompanhe tudo sobre:EspaçoEstrelasSatélites

Mais de Ciência

Cientistas criam "espaguete" 200 vezes mais fino que um fio de cabelo humano

Cientistas conseguem reverter problemas de visão usando células-tronco pela primeira vez

Meteorito sugere que existia água em Marte há 742 milhões de anos

Como esta cientista curou o próprio câncer de mama — e por que isso não deve ser repetido