Ciência

Por que algumas pessoas transmitem mais o novo coronavírus?

Estudo indica que alguns indivíduos podem transmitir o novo coronavírus mais intensamente do que outros

Coronavírus: nova pesquisa fala que fator de dispersão do vírus é 0,1 (filadendron/Getty Images)

Coronavírus: nova pesquisa fala que fator de dispersão do vírus é 0,1 (filadendron/Getty Images)

ME

Maria Eduarda Cury

Publicado em 21 de maio de 2020 às 05h54.

Última atualização em 22 de maio de 2020 às 11h51.

Uma das questões sobre o novo coronavírus que intrigam os cientistas é o seu fator transmissivo. Como se fosse uma transmissão em massa, é possível que uma única pessoa de um grande grupo infecte todos os demais. Um exemplo é a contaminação de um coral de igreja inteiro, que aconteceu em Washington. Apenas um membro do coral estava doente, e acabou infectando mais 53 membros.

Assim como outras doenças infecciosas, a covid-19 acabou se espalhando por todo o mundo por meio de grupos e aglomerados. Com cerca de 5 milhões de casos, o vírus aparenta estar propenso a atacar de maneira mais agressiva pessoas que estão muito próximas entre si em um determinado ambiente, conforme dizem cientistas.

Jamie Lloyd-Smith, professor da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, está envolvido em pesquisas sobre a propagação desse e de outros vírus e acredita que o fato de a transmissão acontecer em grande escala dificulta os estudos sobre essa doença. "Se você pode prever quais circunstâncias estão dando origem a esses eventos, a matemática mostra que você pode realmente, muito rapidamente, reduzir a capacidade de a doença se espalhar", diz Lloyd-Smith, segundo a ScienceMag.

O professor acrescentou que, em casos como esse, o mais comum é que apenas uma pessoa espalhe o vírus a um determinado grupo porque muitas não o transmitem. Para medir isso, os epidemiologistas calculam o chamado fator de sobredispersão. Um fator de sobredispersão baixo indica que uma única pessoa pode transmite a doença a muitas outras.

Em um artigo realizado por pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, foi estimado que o fator de sobredispersão do novo coronavírus é, aproximadamente, 0,1. É menor, por exemplo, que o da SARS-CoV, de 2002, que tinha fator de sobredispersão 0,16. Isso indica que, no caso da covid-19, a expansão da doença depende de menos pessoas contaminadas disseminarem o vírus.   

Christophe Fraser, pesquisador da Universidade de Oxford, ressalta que a transmissão do SARS-CoV-2 acontece por meio de gotículas, exaladas quando uma pessoa doente fala, respira ou tosse. "A maioria dos grandes grupos de transmissão publicados parece implicar a transmissão de aerossóis", diz Fraser, em nota. Os cientistas ainda acrescentaram que é possível que alguns indivíduos exalem mais partículas quando falam do que outros.

Segundo os pesquisadores, o próximo passo para prevenir a transmissão em massa é evitar locais onde o coronavírus pode estar aglomerado. Mesmo que os transmissores da doença sejam um grupo pequeno de pessoas, o distanciamento e o isolamento são necessários para evitar qualquer forma de contaminação.

Como a maioria dos países ainda não conseguiram coletar os dados de transmissão de forma detalhada, o mais seguro é que as paralisações continuem - embora elas dificultem o trabalho dos pesquisadores. Fraser acrescentou que, devido ao fato de o rastreamento da transmissão do vírus não ser possível no momento, é importante ter paciência para compreender o longo processo de estudo sobre o novo coronavírus, um vírus conhecido há cerca de seis meses.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusEXAME-no-InstagramPesquisaWashington (DC)

Mais de Ciência

Cientistas revelam o mapa mais detalhado já feito do fundo do mar; veja a imagem

Superexplosões solares podem ocorrer a cada século – e a próxima pode ser devastadora

Pepita rara foi usada como peso de porta por décadas até donos se surpreenderem com valor milionário

Astronautas da China batem recorde dos EUA em caminhada espacial