Ciência

Pesquisa revela relação de zika com problemas cardíacos

Dos nove infectados estudados, oito deles apresentaram uma perigosa arritmia e em dois terços foram registrados sintomas de insuficiência cardíaca

Zika: a pesquisadora recomenda que pessoas com suspeita zika devem ficar atentas a sintomas relacionados às doenças cardiovasculares (Johan Ordonez/AFP)

Zika: a pesquisadora recomenda que pessoas com suspeita zika devem ficar atentas a sintomas relacionados às doenças cardiovasculares (Johan Ordonez/AFP)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de março de 2017 às 17h36.

Um novo estudo realizado por cientistas americanos revela pela primeira vez que a infecção por zika pode causar problemas cardíacos.

Os pesquisadores acompanharam nove pacientes com zika - e sem histórico de problemas no coração - atendidos em um hospital de Caracas, na Venezuela. Oito deles apresentaram uma perigosa arritmia e em dois terços foram registrados sintomas de insuficiência cardíaca.

A pesquisa, liderada pela cardiologista Karina Gonzalez Carta, pesquisadora da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, foi apresentada nesta quinta-feira, 9, na reunião científica anual do American College of Cardiology, em Washington.

"Nosso estudo fornece claras evidências de que há uma relação entre a infecção pelo vírus da zika e complicações cardiovasculares", afirmou Karina.

A pesquisadora recomenda que pessoas com suspeita zika devem ficar atentas a sintomas relacionados às doenças cardiovasculares.

"A pessoa com sintomas de zika que também apresentar sintomas como fadiga, falta de fôlego e palpitações no coração deve ver um médico imediatamente", disse.

Segundo Karina, a equipe de cientistas não ficou surpresa com o resultado do estudo, já que outras doenças semelhantes como dengue e chikungunya também afetam o coração.

Mas ela afirma que a severidade dos problemas cardíacos e a rápida progressão das arritmias entre os pacientes não eram esperadas.

Os cientistas acompanharam nove pacientes do Instituto de Medicina Tropical de Caracas, na Venezuela, que haviam relatado sintomas de zika uma semana antes e que em seguida relataram sintomas de problemas cardíacos.

Os sintomas incluíam principalmente palpitações, perda do fôlego e fadiga. Apenas um dos nove pacientes já havia apresentado um problema cardiovascular no passado - uma alta pressão sanguínea já totalmente controlada.

Depois de preencher um formulário registrando todos os sintomas, os nove pacientes foram submetidos a um eletrocardiograma. Oito deles apresentaram problemas na taxa - ou ritmo - de batimentos cardíacos.

Com esse resultado, os cientistas resolveram realizar uma bateria completa de exames cardíacos nos pacientes, incluindo ecocardiogramas e monitoramento por ressonância magnética cardíaca. Eles então foram monitorados por seis meses, a partir de julho de 2016.

As arritmias detectadas em oito dos pacientes incluíam três casos de fibrilação atrial (caracterizada por batimentos rápidos e irregulares), dois casos de taquicardia atrial não sustentada (um tipo de arritmia benigna) e dois casos de arritmias ventriculares (que pode ser mortal). Foram registrados seis casos de insuficiência cardíaca.

Efeito disfarçado

De acordo com Karina, os dados revelaram que os sintomas de problemas cardiovasculares apareceram, em média, 10 dias após as primeiras queixas de sintomas de zika pelos pacientes.

"Como a maior parte das pessoas com infecção por zika apresentam sintomas leves ou não-específicos, e como os sintomas de complicações cardiovasculares podem não ocorrer imediatamente, precisamos fazer um alerta sobre essa possível associação", disse a médica.

Segundo a pesquisadora, é provável que muito mais casos de sequelas cardíacas relacionadas à infecção pelo vírus sejam diagnosticados no futuro.

"É provável que muita gente tenha sido afetada, levando em conta que muitos médicos podem não ter feito a conexão entre os sintomas. Precisamos agora de estudos maiores e sistemáticos para entender o verdadeiro risco de problemas cardíacos relacionados à zika - e descobrir o que leva alguns pacientes a serem mais suscetíveis", disse.

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