Ciência

Pesquisa da USP aponta o motivo da queda dos casos de covid-19 em SP

O surgimento de "bolhas" de imunidade pode atrasar a disseminação da doença na capital paulista, mas isso não significa imunidade de rebanho

Em São Paulo, bolhas de proteção podem ter contribuído para uma diminuição dos casos de covid-19. Mas isso não é a solução (Roberto Parizotti/Fotos Públicas)

Em São Paulo, bolhas de proteção podem ter contribuído para uma diminuição dos casos de covid-19. Mas isso não é a solução (Roberto Parizotti/Fotos Públicas)

RL

Rodrigo Loureiro

Publicado em 26 de agosto de 2020 às 05h55.

Última atualização em 26 de agosto de 2020 às 21h31.

Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em parceria com o Instituto Tropical de São Paulo (IMTSP) pode revelar o motivo pelo qual mesmo com o relaxamento das medidas de distanciamento social impostas em São Paulo, o número de casos de covid-19 não aumentou. Pelo contrário, vem diminuindo gradativamente.

O estudo, que ainda é uma versão prévia do artigo que será publicado oficialmente e que, por isso, precisa ser revisado, conclui que a redução do número de casos, mortes e ocupação de leitos na capital paulista está diretamente relacionado com a formação de bolhas de proteção local,  o que dificulta que pessoas infectadas com a doença espalhem o vírus.

Em outras palavras e de acordo com o Jornal da USP, isso significa que as pessoas que estão infectadas pelo novo coronavírus já estão rodeadas por pessoas imunes ao vírus. Seja por já terem contraído e vencido a doença ou por estarem doentes, mas assintomáticos. Assim, por mais que essas pessoas tenham contato entre si, a covid-19 não será transmitida.

De acordo com a pesquisadora Gerusa Maria Figueiredo, do IMTSP, uma simulação realizada mostra que um movimento de queda da curva de transmissão do vírus, mesmo com a redução drástica do isolamento social. Ela explica que essa curva tem um leve e temporária ascensão a partir do 150º dia.

Isso, no entanto, não significa imunidade de rebanho, que é quando uma porcentagem alta de pessoas está imunizada contra um determinado patógeno causador de uma doença. Um dos exemplos é o caso do sarampo, que chegou a ser erradicado no Brasil em setembro de 2016 – no ano passado, porém, novos casos da doença surgiram no país.

No caso do novo coronavírus, o percentual de pessoas infectadas ainda é muito baixo para a hipótese de imunidade de rebanho seja considerada. “Por isso foi levantada a hipótese do surgimento de bolhas locais de proteção na cidade”, afirma Gerusa.

Há um problema neste caso. “Essas bolhas de proteção podem estourar ou as redes podem ser reiniciadas, ou seja, novas ondas de transmissão podem ocorrer se o distanciamento social cair muito ou houver uma reintrodução do vírus em regiões da cidade onde poucas pessoas foram infectadas”, explica a pesquisadora.

Prever quando isso irá acontecer é algo difícil. Gerusa explica que “o risco de rompimento das bolhas poderia ser bastante reduzido com políticas de testes em massa ou com a combinação de testes seletivos e rastreamento de contato”. Entretanto, ela admite que isso pode ser difícil de ser feito nas formas como o governo brasileiro vem combatendo a doença.

Ainda assim, é preciso lembrar que a recomendação de órgãos de saúde de todo o mundo é para que as pessoas evitem aglomerações como forma de diminuir as taxas de contaminação da doença.

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