O "dragão negro do Pacífico" é uma das 16 espécies encontradas que consegue ficar totalmente escura (Karen Osborn/Smithsonian/Reprodução)
Laura Pancini
Publicado em 24 de março de 2021 às 10h01.
Última atualização em 24 de março de 2021 às 10h04.
A bióloga marinha Karen Osborn e sua equipe estavam no navio de pesquisa Western Flyer, na Califórnia, quando encontraram um peixe diferente de todos que eles já haviam visto. Tão escuro quanto o "vantablack", material feito pelo homem que é a substância mais preta existente, o animal consegue se camuflar com sua pele escura quando qualquer tipo de luz é jogada contra ele.
Osborn e sua equipe estavam coletando peixes do fundo do mar para catalogação quando encontraram o "peixe vanta", um trocadilho com o material "vantablack". O animal foi descrito como uma criatura "cheia de dentes grandes e pontiagudos, presos a um corpo em formato de lágrima".
No momento da foto, o peixe quase desapareceu. Seu contorno estava lá, mas seus detalhes haviam sumido. “Eu já tinha tentado tirar fotos de peixes do fundo do mar antes e não consegui nada além dessas fotos realmente horríveis, onde você não pode ver nenhum detalhe”, diz ela. “Mas, como é que posso apontar duas luzes estroboscópicas para eles e toda aquela luz simplesmente desaparecer?”
A explicação estava na pele do animal, que se camufla com sua cor ultraescura e absorve quase toda a luz jogada contra ele. Osborn e sua equipe descobriram outras 15 espécies semelhantes ao "peixe vanta" — um deles, inclusive, absorve 99,956% da luz que a atinge. Para comparação, a substância "vantablack" consegue absorver 99,965% da luz, apenas 0,009% de diferença.
“Não tínhamos ideia da existência de peixes ultrapretos”, diz o biólogo Alexander Davis, autor principal do artigo que descreve as descobertas. “Pelo que sabíamos, os únicos vertebrados que eram ultrapretos eram essas aves-do-paraíso e algumas outras espécies de pássaros. Foi o primeiro caso que tivemos de algo tão preto realmente sendo usado como camuflagem.”
No oceano, os fótons do sol não vão além dos 200 metros de profundidade, o que pode gerar dúvidas sobre porquê esses animais se adaptam para camuflar para algo escuro. A realidade é que os pesquisadores foram até 2.000 metros de profundidade nas águas, onde o oceano está iluminado por bioluminescência feita por criaturas diversas.
Algumas espécies expelem uma gosma luminescente para confundir seus predadores, enquanto outros lançam luz de seu rosto para conseguir encontrar comida. Também existem algumas espécies nas quais machos e fêmeas se iluminam para encontrar algum parceiro.
“A luz está explodindo lá, mas é luz biológica. E na maioria das vezes é principalmente luz azul, porque é o que se propaga mais longe nessas águas”, explica Dimitri Deheyn, especialista em bioluminescência que não estava envolvido no estudo.
A luz também atrai atenção de presas e predadores, o que leva a explicação por trás dos peixes ultraescuros. “Obviamente, você não quer que sua presa veja a luz projetando-se em seu rosto”, diz Davis. “Então, se sua cabeça agora está ultra-preta, nenhuma daquela luz volta para a presa, e é mais provável que você fique dentro do alcance.”