Consumo de cigarro: hábito causa danos além da saúde do usuário (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A indústria do tabaco é, de longe, uma ameaça maior do que muitos imaginam, pois além de ser um dos maiores poluentes do mundo, deixa montanhas de resíduos e influencia o aquecimento global, advertiu a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta terça-feira, 31.
A OMS acusou a indústria de causar um desmatamento generalizado, desviando a terra e água extremamente necessárias em países pobres para longe da produção de alimentos e despejando resíduos plásticos e químicos, além de emitir milhões de toneladas de dióxido de carbono.
Em seu relatório divulgado no Dia Mundial sem Tabaco, a OMS pede que a indústria do tabaco seja responsabilizada e pague a conta da limpeza dos rejeitos. O informe "Tabaco: Envenenar o Nosso Planeta", aborda os impactos de todo o ciclo, desde o cultivo das plantas de tabaco até a fabricação dos produtos, o consumo e o desperdício.
Se os impactos do tabaco na saúde são muito bem documentados há décadas, o relatório foca em suas consequências ambientais. O que foi descoberto "é bastante devastador", disse à AFP Ruediger Krech, diretor de promoção de saúde da OMS, para quem a indústria é "um dos maiores poluidores conhecidos".
A indústria é responsável pela perda de cerca de 600 milhões de árvores a cada ano, uma vez que o cultivo e a produção de tabaco consomem 200 mil hectares de terra e utilizam 22 bilhões de toneladas de água anualmente, destaca o relatório. Também emite 84 milhões de toneladas de dióxido de carbono, acrescentou Krech.
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Além disso, “os produtos do tabaco são os que mais se despejam no planeta, e contêm cerca de 7.000 toxinas químicas, que se espalham pelo meio ambiente", assinalou o diretor.
Krech citou que cada um dos 4,5 trilhões de bitucas que vão parar nos oceanos, rios, calçadas e praias a cada ano pode contaminar 100 litros de água. E um quarto dos cultivadores de tabaco contraem a chamada doença do tabaco verde ou são envenenados pela nicotina que absorvem pela pele.
Os produtores que passam o dia manuseando folhas de tabaco consomem o equivalente a 50 cigarros por dia, o que é particularmente preocupante para as muitas crianças envolvidas no cultivo do tabaco, apontou Krech. "Imagine uma criança de 12 anos exposta a 50 cigarros por dia."
A maior parte do tabaco é produzida em países pobres, onde a água e as terras aráveis por vezes são escassas e onde esses cultivos crescem com frequência às custas da produção vital de alimentos, indica o relatório. O cultivo de tabaco também representa 5% do desmatamento global e impulsiona o esgotamento dos recursos hídricos.
Ao mesmo tempo, o processamento e o transporte de tabaco representam uma parte significativa das emissões mundiais de gases do efeito estufa, com o equivalente a um quinto da pegada de carbono deixada pelas companhias aéreas em todo o mundo. Além disso, produtos como cigarros, tabaco sem fumaça e cigarros eletrônicos também contribuem significativamente para o acúmulo global de poluição por plástico, alertou a OMS.
Os filtros de cigarro contêm microplásticos – fragmentos minúsculos detectados em todos os oceanos e até mesmo no fim da fossa mais profunda do mundo – e constituem a segunda maior forma de poluição por plástico no mundo, de acordo com o relatório.
Apesar da campanha publicitária da indústria do tabaco, a OMS reiterou que não há evidências de que os filtros tenham benefícios comprovados frente aos cigarros sem filtro. A OMS pediu às autoridades mundiais que considerem os filtros de cigarro plásticos de uso único e os proibam.
A organização também denunciou que os contribuintes de todo o mundo estão cobrindo os custos altíssimos da limpeza dos resíduos deixados pela indústria do tabaco. A cada ano, a China paga 2,6 bilhões de dólares, e a Índia, 766 milhões de dólares, enquanto Brasil e a Alemanha pagam 200 milhões de dólares para limpar o lixo dos produtos do tabaco, segundo o relatório.
"É importante que a indústria pague pelo desastre que estão criando", ressaltou Krech.