Ciência

Obesidade se torna fator de risco para pessoas jovens com covid-19

Além de aumentar o risco de mortes e de intubação, a obesidade pode atrapalhar a ação de uma vacina contra o novo coronavírus

Obesidade: condição se torna um fator anda mais preocupante para pessoas com covid-19 (Boris SV/Getty Images)

Obesidade: condição se torna um fator anda mais preocupante para pessoas com covid-19 (Boris SV/Getty Images)

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Rodrigo Loureiro

Publicado em 11 de agosto de 2020 às 14h14.

Última atualização em 11 de agosto de 2020 às 15h09.

Em maio deste ano, um estudo realizado pela Universidade Johns Hopkins apontava que a obesidade poderia facilitar que pessoas jovens pudessem contrair o novo coronavírus. Agora, um número cada vez maior de médicos especialistas e pesquisadores reforça a possibilidade de que o peso excessivo pode ser uma condição perigosa em tempos de pandemia.

Publicada na revista médica The Lancet, a pesquisa conduzida em Nova York foi realizada com dados de 265 pacientes internados em seis hospitais universitários americanos. Os resultados apontavam que entre os infectados, a maior parte eram de pessoas jovens e com Índice de Massa Corporal (IMC), medida internacional utilizada para calcular se a pessoa está no peso ideal, em níveis de obesidade.

A obesidade é descrita como um acúmulo excessivo de gordura corporal e que é medido a partir de índices acima de 30 do IMC, que utiliza um cálculo que relaciona peso, idade e altura do indivíduo.

Os autores do estudo, David A. Kass, Priya Duggal e Oscar Cingolani explicam que a obesidade pode restringir a ventilação ao impedir a excursão do diafragma. Isso, por sua vez, prejudica o sistema imunológico na luta contra o vírus. “Concluímos que em populações com alta prevalência de obesidade, a covid-19 afetará ainda mais as populações mais jovens”, relatam os pesquisadores.

O Brasil é 81º colocado no ranking global de países com o maior percentual de sua população obesa, com 22,1% dos habitantes nesta condição. Os líderes do ranking são países pequenos e, por vezes, insulares, como Nauru, Ilhas Cook, Palau, Ilhas Mashall e Tuvalu, todos com índices acima de 50%. Chama a atenção a 12ª posição dos Estados Unidos, que já tem 36,2% de sua população adulta obesa.

Este universo de mais de 107 milhões de americanos com índices de obesidade preocupa até mesmo os cientistas que estão tentando desenvolver uma vacina contra o coronavírus, já que a vacina pode ser menos efetiva em pessoas que apresentam esta condição. Até esta terça-feira (11), os Estados Unidos contabilizam quase 5,2 milhões de infectados, além de 165 mil mortes.

A situação preocupa outros países também. Em abril, autoridades da Suécia colocaram a obesidade entre os fatores de risco de covid-19.  No mês passado no Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson, por um porta-voz do governo, informou que "a covid-19 nos lembrou dos riscos imediatos e de longo prazo do excesso de peso".

Para a CNN, Raz Shaikh, professor associado de nutrição da Universidade da Carolina do Norte-Chapel Hill afirmou que dificilmente existirá uma vacina sob medida para a população obesa já no próximo ano. Pior, o especialista ainda diz que as vacinas que estão sendo desenvolvidas dificilmente serão efetivas em pessoas obesas.

Segundo um estudo recente do Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia do Estados Unidos, a obesidade pode afetar a produção de células imunes que atuam no combate ao vírus. Isso porque a vacina atua como uma forma de “professora” do sistema imunológico para que este possa derrotar novas infecções semelhantes. Se não houver defesas para serem “ensinadas”, o resultado não será dos melhores.

Outro estudo, este da Universidade de Columbia, aponta que pessoas com obesidade mórbida que contraíram o novo coronavírus têm chances 60% maiores de morrerem ou de precisarem serem intubadas em relação a pessoas com índices de massa corporal normais. "O aumento da obesidade foi associado a um risco aumentado de insuficiência pulmonar ou morte de covid-19", afirma a pesquisadora Michaela Anderson.

Segundo Licio Augusto Velloso, da Universidade de Campinas (Unicamp) e do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades, em entrevista para a BBC, o alto número de casos nos Estados Unidos pode estar relacionado com as taxas elevadas de obesidade e diabetes de sua população. É algo diferente do que acontece na Itália, por exemplo, onde o crescimento do número de infectados se deu mais por conta da faixa etária.

Para o médico, o problema da obesidade que afetou tanto os Estado Unidos em relação ao coronavírus também pode ser fatal para os brasileiros mais jovens. De acordo com dados do Ministério da Saúde, um percentual próximo de 14% dos infectados e hospitalizados por covid-19 no país está na faixa etária dos 20 aos 39 anos.

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